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08/07/2010

Livro discute a educação política no Brasil e os processos de dominação

Talita Rodrigues


Um estudo sobre a educação política no Brasil contemporâneo. Esse é o tema central do livro Direita para o social e esquerda para o capital: intelectuais da nova pedagogia da hegemonia no Brasil (ediora Xamã), novo trabalho do Coletivo de Estudos de Política Educacional, grupo de pesquisa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). “O foco de análise do livro recai sobre os intelectuais da nova pedagogia da hegemonia. O Coletivo atualiza o conceito gramsciano de intelectuais para explicar os processos de dominação que levam à reafirmação das relações sociais capitalistas no Brasil do novo imperialismo”, diz Lucia Neves, organizadora do livro, pesquisadora da EPSJV e coordenadora do grupo de pesquisa.



O novo livro é uma continuidade e um aprofundamento da investigação iniciada em 2002 pelo Coletivo para entender as relações de poder no Brasil e o processo de reconfiguração do Estado brasileiro, que resultou no livro A nova pedagogia da hegemonia: estratégias do capital para educar o consenso (Xamã). “Após essa primeira pesquisa, o grupo identificou que era necessário entender a forma como o conhecimento vinha sendo utilizado para a formação dessa nova pedagogia e, principalmente, identificar o papel dos intelectuais na nova pedagogia da hegemonia”, diz André Martins, integrante do Coletivo.


O grupo define a pedagogia da hegemonia como uma educação para o consenso em torno de ideias, ideais e práticas adequadas aos interesses privados do grande capital nacional e internacional. Sua principal característica é assegurar que o exercício da dominação de classe seja viabilizado por meio de processos educativos positivos. Baseado nos conceitos de Gramsci, processos educativos positivos são aqueles em que a educação é feita por meio dos exemplos, das atitudes das outras pessoas ou pela ação da mídia.


“Também investigamos o processo histórico de formação dos intelectuais e os fundamentos científicos que dão base para essa formação. Na última parte do livro, analisamos dois casos de instituições para mostrar como se dá a formação dos intelectuais”, diz André, referindo-se ao estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), dois “intelectuais coletivos” considerados pelo grupo como centrais na difusão dos autores e dos pressupostos da pedagogia da hegemonia no país.


Para investigar as transformações do capitalismo, o livro também analisa uma dezena de teóricos que o grupo considera representativos desse processo, como Alan Touraine, Boaventura de Sousa Santos, Antonio Negri, Edgar Morin e Peter Drucker. O livro também mapeia a construção da hegemonia capitalista ao longo do período da Guerra Fria e faz um debate sobre o projeto político da Terceira Via e as contribuições de diferentes autores sobre o surgimento de um ‘novo mundo’. “Há uma série de teorias sociológicas que afirmam existir um ‘novo mundo’ a partir do fim dos anos 1990, no qual as relações sociais foram alteradas. Mas o que nós identificamos é que tanto os intelectuais da direita quanto os da esquerda convergem para o mesmo campo. E isso vira um fenômeno, que é a união da esquerda para o capital e da direita para o social, reafirmando uma concepção de mundo que procura reafirmar as relações capitalistas”, explica André.


O Coletivo de Estudos de Política Educacional é um grupo de pesquisa da EPSJV vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tem duas linhas de pesquisa principais: a Educação Política e a Educação Escolar. Desde 2002, o grupo faz um trabalho de pesquisa sobre educação, que já gerou diversos livros sobre os dois temas. O grupo é formado por pesquisadores da EPSJV, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – Campus Campina Grande.


Publicado em 6/7/2010.

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