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19/12/2008

Livro discute o agravamento das relações no trabalho: do sofrimento à solidão

Fernanda Marques


As idéias do francês Christophe Dejours – psiquiatra, psicanalista, professor e pesquisador, militante de causas que buscam transformar as relações dos homens com seu trabalho – precisam continuar sendo disseminadas no Brasil. Por isso, quatro anos depois da primeira edição, que se esgotou rapidamente, o livro Christophe Dejours: da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho acaba de ser relançado pelas editoras Paralelo 15 e Fiocruz. Na primeira edição, os organizadores – Selma Lancman e Laerte Idal Sznelwar – publicaram vários textos de Dejours que permaneciam inéditos em português. Desta vez, eles acrescentaram à coletânea dois novos artigos do autor, intitulados Ativismo profissional: masoquismo, compulsividade ou alienação? e Alienação e clínica do trabalho. O objetivo é contribuir para a difusão e o desenvolvimento da psicodinâmica do trabalho no Brasil.



A importância desse desenvolvimento fica clara quando se verifica que os indivíduos são hoje mais vulneráveis do que no passado aos efeitos deletérios dos constrangimentos do trabalho. “Os clínicos não formados em psicodinâmica do trabalho ignoram que já há cerca de 30 anos foram descobertas estratégias defensivas contra o sofrimento, que passam por uma forma específica de cooperação entre trabalhadores para lutarem juntos contra o sofrimento engendrado pelos constrangimentos do trabalho”, afirma Sznelwar no prefácio do livro. Essa forma de cooperação os ajudaria a lidar com o medo de acidente e demissão, a angústia de não ser capaz de cumprir os prazos de tempo impostos e o aborrecimento devido à repetição de atividades, entre outros.


Assim, na concepção da psicodinâmica do trabalho, se os indivíduos são hoje mais vulneráveis, o problema está associado à erosão daquelas estratégias coletivas de defesa, o que acarreta um significativo prejuízo à saúde. “Diante dos constrangimentos do trabalho, todos se encontram, psicologicamente, cada dia mais sós”, destaca Sznelwar. Para exemplificar, basta lembrar que o chamado assédio moral não é um fenômeno novo: patrões que perseguem empregados sempre existiram. A novidade, no sentido negativo da palavra, é que hoje, diante dessa perseguição, não existe mais solidariedade dos outros empregados. “E quando se está só, abandonado pelos demais, é psicologicamente muito mais difícil suportar a injustiça do que quando se conta com a cumplicidade dos colegas. Todas as novas patologias relacionadas com o trabalho hoje são antes patologias da solidão”.


Diante dessas mudanças, o campo da saúde no trabalho precisa também se reinventar, refletir teoricamente sobre o processo em curso e buscar novos métodos de investigação sobre suas causas. É justamente nesse sentido que o livro oferece contribuições essenciais: os textos de Dejours trazem os alicerces necessários para compreender o surgimento da psicodinâmica do trabalho e ampliar a discussão teórica sobre o tema.


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A resenha da primeira edição do livro, na Agência Fiocruz de Notícias.

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