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10/12/2008

Livro mostra que 25% das mortes anuais se devem a doenças causadas por vírus

Edmilson Silva


Volta e meia, a imprensa noticia  casos de doenças provocadas por vírus ou bactérias pouco conhecidos, como agora com o engenheiro sul-africano William Charles Erasmus, morto pela febre maculosa, provocada por bactérias do gênero Rickettisia, e que as autoridades sanitárias suspeitaram estivesse contaminado pelo arenavírus. Considerados novos e chamados de misteriosos no afã sensacionalista da mídia, os vírus – eles são 3,6 mil das 1.739.600 espécies vivas catalogadas –, em geral, são velhos conhecidos dos especialistas, cujas cidadelas são as instituições científicas. Das 57 milhões de mortes ocorridas, por ano, em todo o mundo, mais de 25% ou 15 milhões, se devem a doenças infecciosas causadas por vírus, entre as quais estão a cirrose hepática e o câncer do colo de útero, sem falar nas infecções hospitalares, nas quais desempenham papel preponderante as bactérias.


 O vírus HIV (em vermelho) ataca preferencialmente o leucócito (branco) denominado por linfócito T auxiliar. O vírus penetra a célula e a destrói. A imagem foi aumentada 20 mil vezes 

O vírus HIV (em vermelho) ataca preferencialmente o leucócito (branco) denominado por linfócito T auxiliar. O vírus penetra a célula e a destrói. A imagem foi aumentada 20 mil vezes 


Em Viroses emergentes no Brasil, da coleção Temas de Saúde, da Editora Fiocruz, Luiz Jacintho da Silva e Rodrigo Nogueira Angerami frisam que a ocorrência e distribuição das doenças virais é um processo evolutivo, com características peculiares a cada época e lugar, ao rebaterem a crítica, equivocada, mas contumaz, de que a saúde pública regrediu no Brasil com a volta de doenças eliminadas. As viroses emergentes, particularmente a Aids, transformaram a prática médica, a saúde pública e a própria sociedade, dizem os autores. “Conceitos mudaram: sexo seguro era aquele feito com a porta e as janelas fechadas, sem risco de interrupção; luvas de látex, na prática médica, eram quase sempre para não contaminar o paciente, quase nunca para proteger o profissional”, dizem.


Não nos deixa mentir o impacto significativo que a epidemia de peste bubônica teve na história da Europa medieval, assim como a varíola e outras doenças que varreram da história civilizações que existiam nas Américas antes da chegada dos europeus. Varíola, aliás, reintroduzida nas Américas pelos mesmos europeus.


Ao escreverem sobre as especulações e perspectivas relacionadas aos vírus, Silva e Angerami alertam para a possibilidade de que cheguem ao Brasil, e em futuro próximo, o vírus do Nilo Ocidental, o Chikungunya e o da gripe influenza pandêmica. Os dois primeiros transmitidos, respectivamente, pelos mosquitos Culex, o popular pernilongo, e Aedes albopictus, também transmissor da dengue.



Os autores advertem ainda para o risco da introdução dos vírus nipah e hendra, ebola e Marburg e o coronavírus, este causador da síndrome respiratória aguda grave, mais conhecida pela sigla em inglês Sars, devido à aproximação do homem aos morcegos. Proximidade forçada pela pressão ecológica que se faz sentir, ao homem invadir áreas antes habitadas por eles, para geração de riquezas.


Ambos infectologistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com larga experiência no assunto, Silva e Angerami sintetizam os conhecimentos relacionados às principais doenças provocadas pelos vírus, indo da história das infecções à importância das vacinas no controle desses males, passando pela apresentação dos vírus mais importantes do ponto de vista epidemiológico. Os autores listaram os sites de consulta indispensáveis ao tema e acresceram um glossário, de forma a permitir a compreensão de quem não estiver familiarizado ao repertório sobre viroses.


Publicado em 9/12/2008.

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