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10/12/2007

Livro mostra que reprodução assistida não é só tecnologia

Fernanda Marques


Um convite para que o leitor reflita não só sobre as descobertas e os avanços no campo da reprodução assistida, mas também sobre as interrogações que perpassam essa temática. Esta é a proposta do livro Vivências em tempo de reprodução assistida – O dito e o não-dito, coletânea de artigos organizada pela ginecologista Maria do Carmo Borges de Souza, pela psicanalista Marisa Decat de Moura e pela coordenadora do Departamento de Educação Científica da Fiocruz, a bióloga e psicóloga Danielle Grynszpan. Composta por 16 artigos, a recém-lançada obra oferece uma reflexão pluralista, isto é, uma interlocução entre diferentes saberes, bem como uma preocupação com as percepções e os efeitos subjetivos dessas tecnologias.



A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a infertilidade como doença que afeta de 8 a 12% dos casais em todo o mundo. Espera-se que os próximos 75 anos testemunharão uma queda nas taxas de fecundidade. Contudo, a população mundial continua aumentando e, no cenário atual, emergem propostas para solucionar a violência que sugerem controle da natalidade, sobretudo nas classes mais pobres. Logo, não espanta que a oferta de tratamento da infertilidade para essas classes não seja vista como prioritária, o que coloca em xeque a autonomia de uma pessoa decidir sobre sua própria reprodução.


Não importa a classe social, a experiência da infertilidade pode ser vivenciada com sofrimento. “Um dos grandes desafios neste século 21 é tornar essas técnicas [de reprodução assistida] mais amplamente acessíveis a todos que necessitam, sem perder de vista as diversidades culturais e pessoais daqueles que delas podem se beneficiar”, diz a ginecologista Maria do Carmo em seu artigo. Os principais centros ligados à Rede Latino-americana de Reprodução Assistida contabilizaram, em 2003, mais de 6 mil bebês nascidos. “Este registro mostra uma ponta do iceberg, daqueles que conseguiram chegar ao processo”.


Desde 1978, quando nasceu Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo, os avanços tecnológicos no campo da reprodução assistida têm sido impressionantes. Contudo, resultados positivos não são garantidos em 100% das vezes. Mesmo nos casos de êxito das técnicas, o processo como um todo envolve um custo emocional. Apesar disso, muitas mulheres optam pela reprodução assistida. “O que as leva a procurar uma solução médica ao invés da adoção ou mesmo da opção por não ter filhos?” Esta é a questão central que a bióloga Tonia Costa, doutoranda em educação científica pela Fiocruz, analisa em seu artigo. Já o texto da psicanalista Marisa discute o papel do pai em tempo de reprodução assistida.


Pais, mães, casais inférteis e homossexuais, mulheres jovens e maduras, religiosos, políticos, profissionais de saúde, advogados, jornalistas, cientistas, professores e cidadãos em geral: o tema da reprodução assistida engloba múltiplos olhares e a educação exerce um papel de destaque. “Introduzir a relevância de um trabalho educacional relacionado à reprodução significa enfatizar o delineamento de estratégias que levem a proporcionar a busca incessante pelo conhecimento, que consideramos base para a liberdade de escolha e tomada de decisões sábias que, por sua vez, possam contribuir para o bem-estar pessoal e a melhoria da qualidade de vida das populações”, sublinha Danielle em seu artigo.


Serviço

Vivências em tempo de reprodução assistida

Maria do Carmo Borges de Souza, Marisa Decat de Moura e Danielle Grynszpan (org.)

Editora Revinter, 160 páginas, R$ 49

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