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12/09/2008

Livro projeta cenários para o Rio de Janeiro por conta do aquecimento global

Informe Ensp


As mudanças ambientais e seus efeitos na saúde pública sempre estiveram presentes em estudos e atividades da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. Recentemente, a coordenadora do Programa de Mudanças Ambientais Globais e Saúde (PMAGS), Diana Marinho, participou do lançamento do livro Rio: próximos 100 anos - aquecimento global e a cidade, que projeta cenários futuros sobre o aquecimento global e aponta como as mudanças climáticas poderão afetar o município do Rio. Diana e o pesquisador Ulisses Confalonieri assinam o capítulo Saúde pública, onde indicam como a saúde da população do município pode ser afetada nos próximos 100 anos. A seguir, a entrevista na íntegra.


 Diana: Para o Rio pode-se esperar impactos adicionais em relação a epidemias de leptospirose e dengue e acidentes por eventos climáticos extremos, como tempestades e inundações (Foto: Virginia Damas)

Diana: Para o Rio pode-se esperar impactos adicionais em relação a epidemias de leptospirose e dengue e acidentes por eventos climáticos extremos, como tempestades e inundações (Foto: Virginia Damas)


De que maneira a saúde da população do município do Rio de Janeiro poderá ser afetada, nos próximos 100 anos, em razão do aquecimento global?


Diana Marinho: A população do município do Rio poderá ser afetada de diversas formas. Vamos aos principais pontos. Inundações e surtos de leptospirose. O homem entra em contato com o agente infeccioso geralmente pela água de inundações, quando esta invade domicílios e quando contaminada pela urina de roedores. As populações desses animais transmissores são mais abundantes em áreas com saneamento deficiente, principalmente em relação à coleta do lixo. No município do Rio de Janeiro, tem ocorrido, com freqüência, casos de leptospirose, principalmente no verão, época mais chuvosa do ano.


Precipitação pluviométrica e acidentes. O município do Rio de Janeiro sofre com problemas de inundações, que provocam deslizamentos de encostas, soterrando casas, geralmente em áreas de ocupação irregular, o que é muito comum. Entre os acidentes, destacamos queda de árvores e de outras estruturas pela ação de vento e chuva; afogamentos, especialmente em estruturas de drenagem pluvial (canais, bueiros etc); eletrocutação, pela queda de cabos de energia em áreas alagadas; acidentes de trânsito, facilitados pelas pistas molhadas e má visibilidade. Tudo isso gera um grande estresse na saúde.


Sazonalidade da dengue. Deverá ser uma das doenças afetadas pela mudança do clima do Rio de Janeiro. Seu vetor pode se proliferar em pequenas quantidades de água, inclusive em poças de chuva. A ocorrência de casos no município tem grandes variações, principalmente a cada evento de introdução de um novo sorotipo de vírus. Há um incremento sazonal natural no número de casos nos períodos de verão, em função das temperaturas altas e da maior precipitação, favorecendo o ciclo evolutivo da espécie de mosquito que transmite o vírus do dengue (vetores). No verão há, também, uma maior exposição da população aos ataques do vetor, em função das altas temperaturas e da utilização de menos roupa protetora.


Aumento do nível do mar. Um dos processos associados à mudança climática global é o projetado aumento do nível médio do mar, de magnitude variável, de acordo com os diferentes cenários de emissões de gases estufa. Os possíveis efeitos na saúde, por conta da elevação do nível do mar, são todos indiretos, em virtude de ser este um processo progressivo e de desenvolvimento lento (ao longo das décadas).


Qual é o prognóstico feito no livro?


Diana: Historicamente, a ocorrência de agravos à saúde da população humana do Rio, determinados pela exposição aos eventos climáticos, aponta para a existência de uma situação de vulnerabilidade que precisa ser modificada. Porém, por ora, o que pode ser dito é que se o aquecimento global estender as condições de temperatura e umidade típicas de verão para o período de outono, há a possibilidade de aumento do número de dias e meses, por ano, mais favoráveis à ocorrência de dengue.


Para o Rio de Janeiro, pode-se esperar impactos adicionais em relação aos seguintes agravos: epidemias de leptospirose e dengue; acidentes por eventos climáticos extremos (tempestades e inundações); e estresse pós-traumático devido a eventos extremos. É preciso considerar como possibilidade os seguintes riscos adicionais para a saúde pública: excessiva demanda sobre serviços de saúde, determinadas por migrantes (refugiados ambientais), pois o Rio pode se tornar um pólo de atração para os refugiados; problemas de abastecimento de água, devido à salinização de depósitos naturais no subsolo (conseqüência do aumento do nível do mar); e possível aumento de distúrbios respiratórios devido à maior concentração de poluentes atmosféricos, principalmente o ozônio, cuja formação é catalisada pela temperatura do ar.


Como ocorreu o convite para escrever o capítulo do livro?


Diana: O Instituto Pereira Passos (IPP), vinculado à Secretaria Municipal de Urbanismo, convidou alguns representantes da academia e de algumas secretarias municipais para discutir o tema aquecimento global no Rio de Janeiro e apresentar em um seminário, promovido em outubro de 2007. Depois do seminário, o IPP, em comum acordo com os autores, decidiu publicar o livro, reunindo os temas abordados nele. A publicação é do IPP, e o livro pode ser adquirido no próprio instituto (Rua Gago Coutinho 52, em Laranjeiras).


Quais são as demais previsões feitas no livro sobre as conseqüências das mudanças climáticas para o Rio?


Diana: As previsões para a área da saúde já foram citadas. Nas outras áreas abordadas no livro existe uma preocupação muito grande em relação ao aumento do nível do mar. Não se sabe ao certo quanto subirá, porém, na possibilidade de subir o mínimo que se espera, algumas áreas serão afetadas, como encostas e áreas de manguezais e lagoas. Essas áreas serão afetadas por todo o processo da mudança climática, além da ação do homem.

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