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20/04/2011

Livro que analisa caminhos e tendências em saúde mental chega à terceira edição

Fernanda Marques


Contribuir para o entendimento das dimensões e estratégias do campo da saúde mental e atenção psicossocial, bem como para a análise dos caminhos e tendências das políticas brasileiras nessa área: este é o objetivo central do livro Saúde Mental e Atenção Psicossocial, título da Editora Fiocruz que chega à terceira edição (revista e ampliada). Na publicação, o médico Paulo Amarante, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), faz uma reflexão sobre o percurso que vai das bases da psiquiatria – e do manicômio – aos projetos atuais, que buscam construir um ‘novo lugar’ para as pessoas em sofrimento mental.


 


Amarante foi um dos pioneiros na luta contra a violência psiquiátrica no país, denunciando à sociedade a realidade perversa dos manicômios. No livro, que faz parte da coleção Temas em Saúde, o autor discute, inicialmente, os conceitos e práticas que fundaram o paradigma psiquiátrico, com a apropriação da loucura pela medicina e a constituição dos hospícios. Em seguida, aborda as diferentes tentativas de transformar esse paradigma.


O sistema terapêutico centrado na hospitalização, onde o paciente era visto como insano, incapaz e irresponsável, se aproximava das instituições carcerárias, inclusive com dispositivos de repressão e punição. As primeiras propostas no sentido de superar esse modelo ficaram restritas a reformulações dos serviços médicos, com tentativas de humanizar o hospital e criar atendimentos externos.


No entanto, Amarante argumenta que é preciso ir mais além. Segundo o autor, não se deve pensar o campo da saúde mental e atenção psicossocial como um modelo ou sistema fechado, mas como um processo – um processo social complexo, em constante movimento e transformação, onde a dimensão médico-científica é uma entre muitas. “A dimensão sociocultural é uma dimensão estratégica e uma das mais criativas e reconhecidas, nos âmbitos nacional e internacional, do processo brasileiro de reforma psiquiátrica”, destaca o pesquisador. Nesse sentido, é essencial envolver a sociedade na discussão da reforma psiquiátrica, estimulando a reflexão sobre a loucura, a doença mental e os hospitais psiquiátricos a partir da produção cultural e artística dos próprios envolvidos: pacientes, familiares, profissionais e voluntários.


“Existe um aspecto fundamental nesta dimensão sociocultural que demonstra a sua interrelação e interatividade com as demais dimensões: a participação social e política de todos os atores sociais envolvidos com o processo de reforma psiquiátrica”, acrescenta o autor. “Ouvidas adequadamente, as pessoas precisam ser orientadas e, na medida do possível, devem ser envolvidas nas soluções, encaminhamentos e tratamentos construídos de comum acordo, sempre procurando evitar que a pessoa levada para o atendimento seja alijada do processo”, aponta Amarante. Em síntese, o livro demonstra como a saúde mental e a atenção psicossocial constituem um campo vigorosamente plural, intersetorial e com grande transversalidade de saberes. Trata-se de um campo que movimenta uma ampla rede de saberes, como psiquiatria, neurologia e neurociências, psicologia, psicanálise, fisiologia, filosofia, antropologia, filologia, sociologia, história e geografia, além de manifestações religiosas, ideológicas, éticas e morais das comunidades.


Por fim, o livro traz uma série de sugestões de leituras e filmes sobre a temática da saúde mental. Afinal, “o mais profundo e rigoroso tratado científico não consegue, na maioria das vezes, falar tão diretamente à alma como uma obra de arte”, argumenta o pesquisador.


SERVIÇO:

Saúde Mental e Atenção Psicossocial

Paulo Amarante | Coleção Temas em Saúde

120 páginas

R$ 15

Editora Fiocruz

Tel.: 21-3882-9039 / 9007

editora@fiocruz.br


Publicado em 20/4/2011.

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