16/04/2010
Marina Campos
Um estudo sociológico da questão do tuberculoso pulmonar, parte de uma fase importante da história das ciências sociais no Brasil, acaba de ser publicado pela Editora Fiocruz. A reedição de Vozes de Campos do Jordão – Experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar no Estado de São Paulo, de Oracy Nogueira, é organizada por Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. O sociólogo Oracy Nogueira foi acometido por tuberculose na década de 1930 e ficou internado em um sanatório em São José dos Campos (SP) por dois anos. Em 1940, ingressou na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), onde foi aluno e assistente de pesquisa do sociólogo Donald Pierson.
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O livro publicado agora, pela Editora Fiocruz |
O livro Vozes de Campos do Jordão é originalmente sua dissertação de mestrado, defendida em 1945 e que, em 1950, saiu sob forma de livro. Seus estudos sobre preconceito abordavam a sua experiência pessoal com uma doença altamente estigmatizada. Em 1985, Oracy Nogueira preparou uma reedição – que à época não ocorreu e que, agora, é publicada. Nessa nova edição, há imagens de artigos e resenhas em jornais e revistas, diversas cartas – de pacientes a colegas – que mostram a recepção do livro nos anos 50.
“Há que se ressaltar a importância de Vozes de Campos do Jordão para diversas áreas disciplinares, quebrando barreiras e excessos de especialização. Entre outros assuntos, temos aqui a oportunidade de refletir sobre o desenvolvimento de noções e problemáticas ligadas à estigmatização, ao desvio, às instituições totais, à área da saúde como um todo e, consequentemente, ao campo mais geral de discussões sobre identidades, self, interação e subjetividade”, escreve Gilberto Velho.
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O livro original de Oracy Nogueira |
No livro, vemos a proposta pioneira de compreender a tuberculose como experiência social, numa visão socioantropológica do preconceito, articulada à pesquisa do universo particular de doentes tuberculosos em uma estação de cura. O autor afirma que a principal característica de seu trabalho é propor uma nova perspectiva no estudo do comportamento e dos traços de personalidade do tuberculoso pulmonar. Além disso, tentou-se determinar a importância do deslocamento do doente de seu círculo de relações sociais para um novo e diferente círculo.
Nogueira desenvolve sua pesquisa pela análise de histórias de vida e documentos íntimos, de questionários, da observação participante. Ele desvenda fatores que colocam a tuberculose – e, por extensão, a doença em si – como tema de investigação sociológica. “A análise de Nogueira articula, assim, as dimensões sociais e subjetivas da doença; desvenda as regras e hierarquias dos diferentes contextos de sua experiência; expõe os valores e conflitos, os modos próprios de pensar, sentir e agir característicos desse mundo segregado”, afirma a organizadora Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti.
Publicado em 16/4/2010.