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18/06/2012

Livro sobre biodiversidade ‘anima’ bate-papo entre autor e jovens estudantes

Fernanda Marques


A história da vida na Terra é uma história de extinções – e aqui, talvez, o exemplo mais famoso seja o dos dinossauros. No entanto, vive-se hoje uma situação sem precedentes – só no Brasil, 627 espécies de animais e 472 de plantas correm o risco de não mais constar do mapa de biodiversidade. O fato de espécies desaparecerem não é novo. A (triste) novidade é que hoje uma espécie tem causado o acelerado desaparecimento dos demais seres vivos: trata-se da espécie humana – e ela própria corre o risco de encerrar sua trajetória no planeta bem antes do tempo, caso persistam os atuais padrões de ‘desenvolvimento’, pautados por consumo exagerado, poluição desenfreada, exploração sem critério e ganância.


 O biofísico Henrique Lins de Barros na palestra no Armazém Pop Ciência

O biofísico Henrique Lins de Barros na palestra no Armazém Pop Ciência





Este alerta foi feito pelo biofísico Henrique Lins de Barros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em um bate-papo no Armazém Pop Ciência, espaço de popularização científica montado no Píer Mauá, durante a Rio+20. O pesquisador conversou com cerca de 70 jovens estudantes das escolas municipais Estados Unidos e Abrahão Jabour, localizadas, respectivamente, nas zonas Norte e Oeste da cidade. Autor do livro Biodiversidade em questão, das editoras Fiocruz e Claro Enigma, Henrique colocou o tema em perspectiva histórica, discutindo como, a partir do século 15, com as grandes navegações e a descoberta das Américas pelos europeus, instalou-se por aqui um comportamento de não valorização da cultura dos ameríndios e de exploração excessiva dos recursos naturais.



Trazendo o tema novamente para o contexto contemporâneo, o pesquisador problematizou algumas questões, como, por exemplo, o consumo de água. “Para se produzir um quilo de arroz, gastam-se cerca de 2.400 litros. Já para produzir um automóvel, são necessários 400 mil litros. No primeiro caso, o produto é utilizado para a alimentação. No segundo, por vezes, ainda despejam-se resíduos tóxicos nos ecossistemas”, afirmou. “O consumo diário de água por habitante é estimado em cerca de 570 litros nos Estados Unidos, 300 litros na França, 180 litros no Brasil e 80 litros na China”, acrescentou. O objetivo de apresentar esses dados era mostrar que, de fato, preservar o planeta é um dever de cada um nós, mas, em especial, é necessário cobrar das grandes empresas e nações que assumam suas responsabilidades.



A discussão coincidiu com as inquietações dos jovens presentes, que, incentivados a expor suas dúvidas a respeito do futuro do planeta, mostraram-se preocupados com o fato de que algumas pessoas não estão dispostas a mudar seus hábitos em prol do meio ambiente. “Mais da metade dos investimentos globais beneficia somente cerca de 20 países, menos de 15% da população mundial; 50% dos países mais pobres recebem 0,5% do produto global; 90% da riqueza global estão nas mãos de cerca de 1% dos habitantes”, destacou Henrique. “É preciso substituir uma visão imediatista, em que se olha o que se pode tirar da natureza em benefício de uns poucos, por uma perspectiva de longo prazo, cujo horizonte está além de nossa imaginação e que exige outro conceito do que é o desenvolvimento: ou se modifica a relação atual entre o homem e a natureza, relação que cria as ilusões de conforto, segurança e bem-estar produzidos por meio do consumo desenfreado, ou pode-se estar decretando o fim do Homo sapiens. Aí está posto o desafio”, encerrou.


Publicado em 18/6/2012.

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