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06/08/2007

Livro traz diagnóstico do atendimento a vítimas de acidentes e violências

Fernanda Marques


Serviços públicos e conveniados de assistência às vítimas de acidentes e violências foram alvo de uma pesquisa coordenada pelo Centro Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde (Claves) da Fiocruz. O trabalho teve como foco os atendimentos pré-hospitalares, de emergência, hospitalares e de reabilitação em cinco capitais: Curitiba, Manaus, Recife, Rio de Janeiro e Brasília, que estão entre as mais violentas do país. A reabilitação foi o aspecto mais fraco em todas as cidades estudadas: apesar de haver serviços bons, em geral, eles são insuficientes para atender à demanda da população.



Os resultados do estudo, que teve duração de dois anos, estão no livro Análise diagnóstica da Política Nacional de Saúde para Redução de Acidentes e Violências, organizado pelas pesquisadoras Cecília Minayo e Suely Deslandes. Recém-lançada pela Editora Fiocruz, a obra é a primeira avaliação técnica dessa política desde que ela foi criada, em 2001, quando a questão da violência entrou oficialmente na pauta da saúde pública do país.


Foi no Rio de Janeiro que os pesquisadores encontraram o maior número de serviços e os mais sofisticados. No entanto, também se verificou que os serviços cariocas apresentavam elevado grau de desorganização e desarticulação. A falta de articulação também foi uma falha identificada no Recife, embora a capital pernambucana ofereça atendimento às vítimas de acidentes e violências há mais de dez anos, inclusive com ações no nível da atenção básica. “Os serviços mais articulados e organizados são os de Curitiba, mas eles também têm pontos fracos, assim como os de todas as outras cidades estudadas”, conta a socióloga e sanitarista Cecília Minayo. Em Manaus, um dos principais problemas é receber casos provenientes de muitas outras cidades do estado sem ter estrutura para atender a todos.


Uma surpresa positiva revelada pela pesquisa diz respeito ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Ele ainda está em construção, mas até agora tem tido sucesso”, afirma Cecilia. “Pode-se dizer que as ambulâncias equipadas do Samu já estão fazendo a diferença no socorro às vítimas de acidentes e violências”. Na região amazônica existe a promessa de que o Samu conte também com transporte aéreo, para o resgate de pessoas em locais de difícil acesso.


O estudo – financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizado com a colaboração das universidades federais de Brasília, Rio de Janeiro, Pernambuco, Amazonas e Paraná – também buscou levantar informações sobre os programas de prevenção de acidentes e violências. “Diversas ONGs e instituições governamentais trabalham com o tema, mas ainda há pouca reflexão e crítica sobre a eficácia de suas ações e sobre a articulação dessas entidades com os serviços de atendimento”, diz Cecilia. O Distrito Federal se destacou como a capital com maior número de programas de prevenção, mas também apresentou os serviços de atendimento menos estruturados.


Na etapa inicial do trabalho, os pesquisadores desenvolveram formulários que compõem uma metodologia científica para a avaliação dos serviços de atendimento às vítimas de acidentes e violências. Esses questionários, encontrados nas últimas páginas do livro Análise diagnóstica, podem ser aplicados em qualquer cidade do país porque foram validados – o que possibilitaria uma visão completa acerca da implantação no país da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. “Esses instrumentos são importantes porque o êxito de uma política pública requer avaliação para orientar sua continuidade”, justifica Cecilia.

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