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16/03/2007

Localidade rural do RJ apresenta alta prevalência de toxoplasmose ocular

Fernanda Marques


A Fiocruz fez uma ampla pesquisa em um bairro rural do município de Barra Mansa (RJ), onde vinham sendo registrados com freqüência casos de comprometimento ocular. Exames clínicos e sorológicos foram feitos em 1.070 habitantes, de zero a 86 anos, que representavam mais de 80% da população daquela área rural. O estudo constatou uma prevalência elevada de formas oculares da toxoplasmose, doença causada pelo protozoário Toxoplasma gondii.


 Vista do Centro de Barra Mansa, cortado pelo Rio Paraíba do Sul (Foto: Valdinei Ferreira)

Vista do Centro de Barra Mansa, cortado pelo Rio Paraíba do Sul (Foto: Valdinei Ferreira)


A prevalência de toxoplasmose ocular no bairro rural a foi tema da dissertação de mestrado de Ana Luisa Aleixo. O trabalho contou com a orientação do médico oftalmologista Eliezer Benchimol, chefe do Centro de Referência em Infecção Oftalmológica do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), e da parasitologista Regina Amendoeira, chefe do Laboratório de Toxoplasmose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC).


Quase 66% do total de indivíduos examinados tinham no sangue anticorpos contra T. gondii. Isso significa que eles já haviam sido infectados pelo parasito em algum momento da vida, ainda que, na época da pesquisa, não apresentassem doença aguda, mas sim um quadro crônico. Quanto a lesões compatíveis com toxoplasmose ocular, elas foram observadas em quase 4% da população geral submetida a exame oftalmológico. Essas lesões acometiam, sobretudo, as mulheres e as faixas etárias de 21 a 30 anos e acima dos 60. Se somente os indivíduos com anticorpos contra T gondii no sangue forem considerados, a proporção de casos de toxoplasmose ocular sobe para cerca de 6%. Entretanto, nenhuma das lesões oculares estava em atividade: todas já se encontravam na fase de cicatriz.


No estado do Alabama, nos Estados Unidos, estudos apontam que a prevalência de toxoplasmose ocular na população geral é de 0,6%, ou seja, um número bem inferior ao verificado no bairro de Barra Mansa. Um resultado também bem menor foi obtido em Natal, onde se registrou uma prevalência de 1,15% entre estudantes de cinco a 21 anos. Por outro lado, prevalências maiores que as da região pesquisada pela Fiocruz já foram observadas em Governador Valadares (MG) – 7,9% – e em Erechim (RS) – 17,7%.


Além da alta prevalência de toxoplasmose ocular para os padrões mundiais, a população do bairro apresentou, ainda, outras alterações oftalmológicas. Cerca de 5% das pessoas examinadas tinham catarata, sendo que mais da metade dos habitantes relatou nunca ter feito um exame oftalmológico.


Mais de 90% dos indivíduos infectados por T. gondii não apresentam sintomas. Às vezes, sentem dores musculares e de cabeça, têm febre baixa ou íngua – um quadro clínico que pode ser facilmente confundido com o de uma variedade de outras doenças. Porém, quando o paciente já está com seu sistema imunológico debilitado, o parasito – com potencial para atingir qualquer célula do corpo – pode causar uma infecção generalizada. Outra questão importante é a transmissão de T. gondii de mãe para filho, durante a gravidez, que pode causar aborto ou deixar o bebê com seqüelas graves.


A literatura científica tem assumido que o indivíduo com toxoplasmose ocular, em geral, adquiriu o parasito da mãe. Contudo, a pesquisadora Regina Amendoeira defende que o protozoário adquirido após o nascimento também tem um papel importante nas formas oculares da doença. E os casos encontrados no bairro sustentam a hipótese. “Em outra pesquisa, na mesma área, observamos que 90% dos gatos da região já tinham sido infectados por T. gondii. O achado sugere que a transmissão do parasito na localidade rural – onde é elevada a prevalência de toxoplasmose ocular – ocorre, sobretudo, pela ingestão de água, hortaliças e outros alimentos contaminados pelas fezes dos gatos infectados com T. gondii”, explica a pesquisadora.

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