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07/08/2006

Louis Pasteur & Oswaldo Cruz

Ricardo Valverde















Louis Pasteur & Oswaldo Cruz


Organizadores: Marie-Hélène Marchand e Nísia Trindade Lima

Editora Fiocruz e

Fundação BNP Paribas Brasil

338p. R$ 80,00 (capa dura) R$ 70,00 (brochura)


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


A Editora Fiocruz acaba de lançar uma caprichada e ricamente ilustrada edição de Louis Pasteur & Oswaldo Cruz, que narra a trajetória de cooperação entre o Instituto Pasteur e a Fiocruz ao longo do século 20 - e que é considerada uma das mais bem sucedidas experiências da história das relações científicas entre o Brasil e a Europa. Isso porque, desde o pioneiro Oswaldo Cruz, as trocas entre as duas instituições foram freqüentes e contínuas. Quando o então jovem médico brasileiro se mudou para Paris em 1897, para estudar bacteriologia, abriu uma estrada que durante as décadas seguintes foram trilhadas por muitos outros pesquisadores. O livro, co-editado pelas duas instituições, é um reflexo desse esforço conjunto em favor da ciência e da saúde pública. Louis Pasteur & Oswaldo Cruz foi organizado pela doutora em estudos políticos francesa Marie-Hélène Marchand, que é secretária-geral honorária do Instituto Pasteur, e pela socióloga Nísia Trindade Lima, pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC). A edição, que é bilíngüe, tem textos de 11 autores, franceses e brasileiros.


Criado em 1888 - apenas 12 anos antes do que mais tarde viria a ser a Fundação Oswaldo Cruz - o Instituto Pasteur significa para a França e para o mundo o que a Fiocruz representa para o Brasil e para a América Latina. No primeiro capítulo o livro aborda os trabalhos de Pasteur desde os primeiros passos que ele deu na pesquisa científica e também a contribuição da instituição nos estudos e ações de saúde. Carlos Chagas Filho, que da mesma forma passou pelo Pasteur e foi um grande incentivador da cooperação com os franceses, em especial com Jacques e Thérèse Trefouel, é lembrado no capítulo seguinte. A primeira parte do livro é concluída com um capítulo sobre a história da saúde pública no Brasil, reconstituída desde o século 19 até a década de 30 do século 20. O capítulo trata ainda das relações entre o imperador dom Pedro 2º e Louis Pasteur, as campanhas de Oswaldo Cruz e a fundação de instituições de pesquisa biomédica no Brasil, como o Instituto Soroterápico Federal - que se transformaria na Fiocruz - e o Instituto Pasteur de São Paulo.


Se na parte inicial os autores se debruçam sobre o passado e a história das instituições e de seus primeiros pesquisadores, na segunda o foco é o presente e as perspectivas abertas com as novas parcerias. Há uma discussão sobre a cooperação Norte-Sul na área da pesquisa biomédica e nas ações de saúde, traçando um paralelo entre a força econômica dos países ricos e as deficiências vividas nos países em desenvolvimento. Também se debate o fato de que menos de 10% dos recursos investidos em saúde em todo o mundo se destinam a doenças que são responsáveis por 90% do total das enfermidades.


Os estudos feitos no Instituto Pasteur sobre a Aids e a síndrome respiratória aguda severa (SRAS), além da preocupação com o recrudescimento da tuberculose e da malária ocupam papel de destaque no livro, bem como a pesquisa sobre cânceres, doenças genéticas e neurodegenerativas. As ramificações internacionais da instituição francesa - e que levaram à criação da Rede Internacional de Institutos Pasteur - e sua histórica relação com outras instituições mundo afora são narradas a partir dos momentos fundamentais dessa parceria planetária. O acordo Amsud/Pasteur, que solidificou a colaboração com 50 instituições representativas da comunidade científica sul-americana, é descrito com detalhes e o autor do capítulo comenta os primeiros projetos de pesquisa desse convênio, que voltam-se para doenças transmitidas por insetos vetores e têm caráter multidisciplinar.


O fecho do livro trata do modelo do Instituto Pasteur, que foi seguido por Oswaldo Cruz ao dirigir o Instituto Soroterápico Federal. O acordo firmado em 1991, que reforçou os laços entre a instituição francesa e a brasileira, a experiência da plataforma tecnológica desenvolvida pelo Pasteur, a Genópole - que se tornou base para a criação do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fiocruz - e o acordo de 2004 também são temas desse capítulo, que aponta para novas conquistas do Pasteur e da Fiocruz.


Apesar de terem mantido um ótimo relacionamento em todos estes anos, as duas instituições não testemunharam um encontro entre seus dois mentores. Louis Pasteur e Oswaldo Cruz não chegaram a se conhecer. O francês morreu cerca de um ano e meio antes da viagem do brasileiro para Paris.

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