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23/10/2007

Mário Sayeg: médico, professor e ativista

Paulo Buss*


Conheço Mário Sayeg há mais de 25 anos. Quando ingressei na Fiocruz, em 1976, ele era o professor Sayeg e me ensinou muito com a sua visão de planejamento de saúde. Logo depois, o professor assumiu a posição de diretor de Planejamento da Fundação. Neste cargo, criou, com Guilardo Martins Alves, então presidente, uma estrutura consistente para a instituição. Com o passar dos anos, o "professor" antecedendo seu nome  que eu utilizava no início­ sumiu, por insistência dele ("não me deixe mais velho"; "você já tem senhoridade para me chamar de você"; etc.). Cresciam, a cada dia, uma imensa admiração e respeito por várias coisas que ele fez.

Primeiro, pela forma enérgica, embora carregada de paciência e tolerância ­ duas de suas maiores virtudes ­ com que ele se aventurou, há mais de dez anos, quando não era ainda moda, no campo da gerontologia, que se afigurava como novidade. Não da visão clínica, focada nos indivíduos idosos, mas enquanto questão coletiva, de saúde pública.

Foi um pioneiro aqui no Brasil nesta área e, como tal, desbravou caminhos e enfrentou posturas de descrédito por parte daqueles que não entendiam a magnitude e a transcendência do que ele apregoava como "uma prioridade de hoje e do futuro": a crescente presença dos idosos na sociedade, caracterizando-se, por isso mesmo, como uma questão importantíssima para a saúde pública contemporânea.

Com esta visão quase premonitória, criou o Núcleo de Saúde do Idoso do Departamento de Administração e Planejamento da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), aqui na Fiocruz, enquanto Piquet Carneiro desbravava o mesmo terreno na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Naquelas alturas, penso que o ajudei muito, dando todo o apoio possível ­ diante da incompreensão de muitos ­ às invencionices que ele me trazia, no campo do ensino e da pesquisa na terceira idade.

Agregou gente de diferentes profissões e disciplinas em torno dele no Núcleo então criado e formou centenas de profissionais, em um dos primeiros programas acadêmicos do país que ligava a saúde pública com as questões dos idosos. Em decorrência disto, estruturou, com liderança e capacidade de agregação, a Sociedade de Geriatria e Gerontologia, seção Rio de Janeiro, hoje uma sociedade respeitada nacionalmente. Com seu jeito sorridente, simpático e cativante, foi superando as barreiras e driblando as dificuldades, como ocorre com todos os pioneiros.

Ao final, este número especial dos nossos Cadernos de Saúde Pública o homenageia em alto estilo: reunindo os melhores pensadores e investigadores da área da saúde do idoso, muito discípulos seus, para celebrar aquilo que ele tem de melhor e que eu nunca deveria ter retirado do vocativo com que o chamava: professor Mário Sayeg, dos bons, e de tanta gente pelo Brasil afora!

Junto com Dalva, que também quero lembrar neste pequeno e emocionado texto, forma uma dupla formidável, como se olhassem ambos, com benevolência, compromisso e ternura, o todo da nossa população: ela, nossas crianças e adolescentes; ele, nossos velhinhos, que todos seremos um dia.

Salve, Mário Sayeg, mestre e sábio, que ainda hoje enriquece com suas idéias e seu jeito agradável, suave e elegante os nossos dias aqui na Fiocruz!

* Paulo Buss é presidente da Fiocruz. Este artigo foi veiculado na revista Cadernos de Saúde Pública, em 2003.

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