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03/10/2007

Médicos cooperam a distância e oferecem melhor atendimento a pacientes

Fernanda Marques


Um paciente e dois dermatologistas, um junto ao doente e o outro a distância, em uma instituição médica de referência, cooperando, via e-mail, no diagnóstico e na escolha do tratamento mais adequado. Esse tipo de interação entre profissionais – que pertence ao domínio da teledermatologia – pode funcionar muito bem e melhorar a assistência oferecida ao paciente. É o que sugere um estudo do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec), unidade da Fiocruz que presta serviços de referência voltados às doenças infecciosas.


 No processo monitorado pelo estudo os médicos interagiam por <EM>e-mail</EM>, trocando fotos e informações até chegarem a um consenso em relação ao caso sob análise (Foto: Universidade da Virgínia/EUA)

No processo monitorado pelo estudo os médicos interagiam por e-mail, trocando fotos e informações até chegarem a um consenso em relação ao caso sob análise (Foto: Universidade da Virgínia/EUA)


A motivação do dermatologista Manoel Paes para realizar a pesquisa veio da observação de que muitos pacientes de outros municípios são encaminhados a hospitais do Rio de Janeiro e, ao chegarem, após uma viagem longa, descobrem que seu diagnóstico está errado. Na verdade, eles têm um problema cujo tratamento não é especialidade daquele hospital. “Se os médicos, a distância, discutissem os casos e recebessem orientações dos colegas quando houvesse incerteza em relação ao diagnóstico, os pacientes seriam encaminhados para tratamento nas instituições mais indicadas de acordo com o problema identificado, otimizando o tempo”, explica Paes.


Participaram do trabalho oito médicos, cinco da cidade do Rio – do Ipec e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – e três de municípios distantes, pelo menos, 160 quilômetros. Os médicos do Rio não conheciam previamente os profissionais das outras cidades. O estudo foi divido em duas etapas. A primeira, que visou testar a validade dos instrumentos de trabalho, envolveu 107 casos em que os médicos das cidades distantes tinham certeza quanto ao diagnóstico. Eles tiravam fotos das lesões do paciente e enviam-nas por e-mail para Paes, identificando a doença, e para os cinco médicos do Rio, sem o diagnóstico. Estes, então, a partir da análise das fotografias, respondiam somente a Paes informando qual a doença em questão. “Meu objetivo era checar se o diagnóstico feito pelos médicos de lá seria confirmado pelos médicos daqui e, de fato, não houve discrepâncias significativas, o que sugere a validade das fotografias digitais e dos e-mails como ferramentas de trabalho”, conta Paes.


A segunda etapa envolveu casos em que os médicos das cidades distantes não estavam seguros quanto ao diagnóstico ou ao tratamento. Em um processo monitorado por Paes, os médicos de lá e os daqui interagiam por e-mail, trocando fotos e informações até chegarem a um consenso em relação ao caso sob análise. “Essa interação foi bastante produtiva. Em diversas situações, o contato a distância entre os médicos possibilitou correção nos diagnósticos e ajustes no tratamento”, revela o pesquisador.


Além da troca de e-mails, os médicos das cidades distantes enviavam a Paes fragmentos das lesões, para exames de anatomia patológica. Os laudos desses exames serviram para esclarecer dúvidas remanescentes em relação aos 42 casos analisados nessa fase. “Os resultados do estudo indicam que é preciso oferecer aos médicos que trabalham longe das metrópoles subsídios para melhorar o atendimento à população, como parcerias para oferecer exames de maior complexidade e cursos de capacitação”, recomenda Paes.


Alvo da pesquisa do Ipec, a teledermatologia faz parte da telemedicina, definida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como “o exercício da medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em saúde”. Essa prática, disciplinada pela Resolução CFM nº 1.643/ 2002, vem sendo realizada no Brasil desde os anos 90, mas de forma tímida.


“Um país com dimensões continentais, no entanto, tem muito a ganhar com a formação e a consolidação de redes colaborativas integradas de assistência médica a distância. Benefícios como a redução dos custos com transportes e comunicações e a possibilidade de levar a medicina especializada a regiões remotas fazem enorme diferença”, destaca o site da Rede Universitária de Telemedicina (Rute), uma iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia.

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