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04/04/2008

Médicos do Mato Grosso do Sul chegam ao Rio para ajudar no combate à dengue

Ricardo Valverde


O secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Sergio Côrtes, disse em entrevista a uma emissora de televisão, nesta quinta-feira (3/4), que precisa de mais 150 pediatras para ajudar a desarmar a crise de saúde pública gerada pela epidemia de dengue. Ele afirmou que manteve contato com o presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), Omar Terra, e pediu o auxílio de todas as unidades da Federação. Atendendo à solicitação, na noite desta quinta-feira uma equipe de 20 médicos desembarcou na cidade vindo de Campo Grande. Entre os médicos estarão infectologistas adultos e pediátricos, pediatras e intensivistas. Um dos profissionais que chegarão ao Rio é o epidemiologista Rivaldo Venâncio, que já pertenceu aos quadros da Fiocruz e atualmente trabalha na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Venâncio, que passou o último fim de semana de março na cidade, se diz espantado com a gravidade da epidemia no Rio. Ele conversou por telefone com a Agência Fiocruz de Notícias (AFN).


 Venâncio: ajuda de Campo Grande para ajudar a resolver o problema carioca

Venâncio: ajuda de Campo Grande para ajudar a resolver o problema carioca


“Não imaginava que a situação estivesse tão ruim. Visitei hospitais da Baixada Fluminense e da Zona Oeste do Rio e fiquei impressionado com o que vi. Além do drama humano, feito de pais e crianças em momentos desesperadores de choro e desolação, também me surpreendi com a ausência de colaboração por parte das universidades e instituições de pesquisa do Rio. Não é hora para divergências políticas. É hora de reunir esforços e praticar a solidariedade com quem foi atingido pela dengue”, diz Venâncio, que critica a postura do que chama de “distanciamento” e “timidez” de universidades e centros de pesquisa cariocas, como se o problema fosse apenas governamental. “É social”, diz ele.


Para Venâncio, que prefere deixar para fazer um balanço completo do que está ocorrendo no Rio em um ou dois meses, a situação atual se agravou pelo que considera um reduzido acesso da população carioca aos serviços de saúde. “A impressão que tenho é que o acesso estava restrito. Não é admissível morrer de dengue. E acredito, apenas pelo que vi no fim de semana, que o pior ainda não passou”, afirma o médico, que esteve acompanhado do secretário de Saúde de Campo Grande, Luiz Henrique Mandetta, que estudou no Rio. O prefeito da capital sul-mato-grossense, Nelson Trad Filho, também é médico e da mesma forma estudou no Rio.


O epidemiologista lembra que Campo Grande enfrentou uma grave epidemia de dengue em 2007, com cerca de 48 mil casos da doença (numa população de 750 mil pessoas) e dois óbitos. Lá a dengue atingiu todas as faixas etárias, já que o vírus 3 fazia a sua entrada no município. Na atual epidemia carioca o tipo 2 da doença tem acometido um grande percentual de crianças e adolescentes  – cerca de 60% dos casos –, que obviamente não tiveram contato com o vírus no surto de 1990/91. “Campo Grande tem uma densidade urbana bem menor, apresenta uma topografia em grande parte plana, sem muitos morros e áreas de difícil acesso, e não enfrenta o problema de violência na mesma proporção que o Rio, onde existem territórios que se tornaram perigosos para o trabalho dos agentes de saúde”, explica Venâncio. De acordo com o epidemiologista, a rede de atenção primária de Campo Grande está mais bem estruturada que a carioca. Durante a epidemia, as 88 unidades básicas de atendimento, as 9 unidades regionais abertas 24 horas e dois hospitais-dia funcionaram sem parar, o que contribuiu para não haver congestionamento. Atualmente, a cidade tem cerca de 30 a 40 casos da doença por mês.


Venâncio afirma querer ver, no Rio, alunos de graduação e pós-graduação engajados na campanha contra a dengue. “Se for necessário, que interrompam os cursos e retomem depois. Agora é momento de ajudar a população”.

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