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10/07/2005

Macacos rhesus da Fiocruz podem auxiliar os estudos do HIV

Catarina Chagas


Implantada em 1932, a colônia de macacos rhesus (Macaca mulatta) do Departamento de Primatologia do Centro de Criação de Animais de Laboratório (Cecal) da Fiocruz pode ser hoje uma importante fonte de pesquisas sobre a Aids. Segundo estudo da primatologista Márcia Andrade, os animais apresentam alta freqüência do alelo Mamu-A*01, relacionado à resposta imune dos macacos à infecção pelo vírus da imunodeficiência símia (SIV, na sigla em inglês), doença que promove um quadro semelhante ao gerado pela infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV).


"A similaridade genética entre humanos e primatas não-humanos torna o macaco um recurso importante para estudos biológicos envolvendo seres humanos", explica a pesquisadora. "Dentre as espécies de primatas, o macaco rhesus constitui um modelo biomédico adequado para o estudo de numerosas doenças humanas". Criada pelo sanitarista Carlos Chagas, a colônia de macacos rhesus começou com o intuito de auxiliar o desenvolvimento da vacina contra a febre amarela.


Cem exemplares de animais foram trazidos da Índia pelo pesquisador e inicialmente alojados em uma ilha, sendo transferidos para o campus da Fiocruz em 1980, onde são mantidos até hoje. Os animais são criados de forma fechada, ou seja, sem a inserção de exemplares de outra origem, e obedecem a um sistema de manejo reprodutivo para evitar acasalamentos indesejáveis. Atualmente, o Cecal fornece animais para a pesquisa biomédica, incluindo testes de drogas e vacinas contra diversas doenças tropicais, como o dengue e a leishmaniose.


Em estudo recente realizado para determinar o status sanitário e genético do grupo de mais de 300 animais - procedimento adotado regularmente para avaliar a metodologia usada na manutenção da colônia - Márcia detectou elevada diversidade genética. O que chamou a atenção da pesquisadora, no entanto, foi a grande quantidade de macacos dotados do alelo Mamu-A*01, específico de M. mulatta: aproximadamente 67% dos animais apresentavam o alelo.


O alelo Mamu-A*01 é parte integrante do complexo de histocompatibilidade principal (MHC, na sigla em inglês), uma região de genes altamente polimórfica, cujos produtos são expressos nas superfícies de uma série de células, desempenhando um papel crucial nos processos biológicos que envolvem as respostas imunes e não imunes.


"Quando infectados pelo SIV, os macacos que apresentam esse alelo desenvolvem uma resposta imune mediada por células e direcionada contra os peptídeos da proteína viral, o que confere subsídios para o desenvolvimento de estratégias vacinais do HIV-1", esclarece Márcia. "O Mamu-A*01 é, portanto, muito importante para o desenvolvimento de imunizações contra a Aids".


Após os estudos da pesquisadora, que definiu o status genético e sanitário e padronizou parâmetros biológicos da colônia de rhesus, o Cecal hoje tem condições de fornecer aos pesquisadores esses animais com maior segurança, uma vez que constituem importante ferramenta para o desenvolvimento de estudos.

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