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23/02/2012

Mais óbitos no trânsito estão associados a crescimento da frota de motocicletas

Danielle Monteiro


Apesar da implantação do Código de Trânsito Brasileiro, que entrou em vigor em 1998 com a premissa de que “trânsito seguro é um direito de todos e um dever dos órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito”, o índice de mortalidade por acidentes no tráfego tem crescido nos últimos anos em alguns municípios do país. É o caso de Campinas. As conclusões, publicadas na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, são de estudo desenvolvido pela Universidade Estadual de Campinas e a Secretaria Municipal de Saúde do município. Os resultados, baseados em informações do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setransp) e do IBGE, revelam que o percentual de ocorrência de acidentes com vítimas no município subiu de 19,3%, em 1995, para 24,8%, em 2008. Para os pesquisadores, o aumento de óbitos se deve possivelmente ao crescimento da frota de motocicletas no período.


 A maior letalidade dos ocupantes de motocicletas está associada à possibilidade de sofrerem graves traumatismos múltiplos crânio-encefálicos e de coluna, devido à ausência de proteção

A maior letalidade dos ocupantes de motocicletas está associada à possibilidade de sofrerem graves traumatismos múltiplos crânio-encefálicos e de coluna, devido à ausência de proteção





“Diferentemente dos automóveis, as motocicletas não tiveram a incorporação de tecnologias para diminuir o impacto das colisões sobre os ocupantes. Além dos comportamentos infratores dos motociclistas, problemas climáticos e nas vias, a instabilidade própria deste veículo facilita derrapagens em curvas e nas conversões, podendo favorecer a ocorrência de acidentes de trânsito”, explicam.



Simultaneamente ao aumento da frota de motocicletas, ocorreu crescimento no número de acidentes fatais entre ocupantes do veículo, que, em 2008, já representavam 49,3% dos óbitos no trânsito. Entre 1995 e 2008, a mortalidade de motociclistas aumentou de 6,6% para 49,3% no conjunto total de óbitos, ultrapassando o número de mortes de pedestres. De cada mil acidentes com motos, 685 foram fatais. A ocorrência de acidentes fatais foi mais elevada entre os que envolveram motos, ocorrendo 7 óbitos de motociclistas para cada óbito de ocupante de automóvel. “A maior letalidade dos ocupantes de motocicletas está associada à possibilidade de sofrerem graves traumatismos múltiplos crânio-encefálicos e de coluna, devido à ausência de proteção”, esclarecem os pesquisadores.



O estudo ainda revela índices significativos de atropelamentos por motocicletas. Foram 66 as vítimas atropeladas pelo veículo a cada mil acidentes envolvendo motocicleta durante o período. E a cada mil acidentes com motos, quatro provocaram a morte de pedestres, sendo contabilizados 6 óbitos de pedestres atropelados por motocicletas a cada atropelamento fatal por automóvel. “A fiscalização aos motoristas quanto ao respeito às faixas de pedestres, à sinalização do trânsito e às demais normas de trânsito mostram-se como estratégias de grande relevância no combate aos atropelamentos. Ademais, entre os motociclistas, deve ser combatida a sua circulação pela calçada e por outros locais habitualmente restritos aos pedestres”, sugerem os estudiosos.



Os principais envolvidos em acidentes fatais de motocicletas são homens de 15 a 29 anos, mostra a pesquisa. E, no que se refere a atropelamentos, os coeficientes de mortalidade aumentam com a idade e os idosos são as principais vítimas fatais. Para mudar a situação preocupante revelada pelo estudo, os pesquisadores propõem a intensificação de ações preventivas, no âmbito da saúde e do transporte, juntamente com intervenções educativas voltadas para cada público alvo. “As campanhas educativas e as diversas parcerias estabelecidas entre a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas e outros órgãos permanecem como desafio à maior conscientização acerca da direção segura entre os condutores, principalmente de motocicletas, aliada à intensificação da fiscalização e à inovação no monitoramento de motociclistas que burlam as câmeras encobrindo a placa do veículo”, afirmam.



Publicado em 16/2/2012.

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