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10/07/2008

Mais de 15% dos idosos têm alguma incapacidade para atividades diárias

Renata Moehlecke


Pesquisadores do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fiocruz estimaram a prevalência de incapacidade funcional e examinaram características a ela associadas em 1.786 idosos, com 60 anos de idade ou mais, residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O trabalho, publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, concluiu que 84% dos participantes eram totalmente independentes nas seis atividades diárias consideradas (banhar-se, vestir-se, ir ao banheiro, ser continente, alimentar-se e locomover-se), mas que 8% apresentavam alguma dificuldade para realizá-las e os 8% restantes eram totalmente incapazes de fazê-las.


 Segundo os pesquisadores, a interação entre as relações sociais e a saúde é bidirecional: a piora no estado de saúde induz a uma restrição da rede social (Foto: Procuradoria da República)

 Segundo os pesquisadores, a interação entre as relações sociais e a saúde é bidirecional: a piora no estado de saúde induz a uma restrição da rede social (Foto: Procuradoria da República)


Segundo os estudiosos, a prevalência de incapacidades encontradas foi alta, indicando uma grande demanda por atividades de reabilitação, já que 57% dos idosos da região dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa, conduzida entre maio e julho de 2003, ainda apontou uma relação entre incapacidade moderada e fatores como idade superior a 80 anos, histórico de hipertensão arterial e artrite. “No Brasil, apesar da alta prevalência, a artrite não está na pauta da saúde pública”, lamentam os pesquisadores. “Recomenda-se a sua inclusão nessa pauta para a melhora do seu diagnóstico e implementação de programas educacionais, enfatizando o autocuidado para prevenção da incapacidade”.


Quanto à incapacidade grave, foram observadas associações com idade superior a 80 anos, histórico de diabetes e de acidente vascular cerebral. “Estudos têm mostrado que, entre idosos, o risco da incapacidade funcional dobra a cada década de vida”, afirmam os estudiosos. “A faixa etária superior apresentou forte associação com a incapacidade funcional, de forma independente dos demais fatores considerados na pesquisa”. O trabalho também indicou uma ligação negativa e independente entre incapacidade grave e encontro com os amigos. “A interação entre as relações sociais e a saúde é bidirecional: a piora no estado de saúde induz a uma restrição da rede social”.


O apoio social externo também se mostrou menor entre idosos com incapacidade grave. “O cuidado aos idosos com incapacidade é prestado de forma quase exclusiva pela família”, afirmam os pesquisadores, que acrescentam que políticas que retardem ou reduzam o problema devem ser de primazia para a saúde pública. “As diretrizes recentes para a política nacional de saúde reconhecem a população idosa como prioridade para o SUS e a funcionalidade como paradigma de saúde do idoso. Entretanto, essas diretrizes não propõem meios para abordar a capacidade já instalada; da mesma forma, o Programa de Saúde da Família é a primeira política de apoio à família vulnerável, mas ainda não conta com equipes de reabilitação”.

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