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08/01/2010

Mais de 40% dos brasileiros sofreram algum tipo de abuso físico na infância

Fernanda Marques


Pesquisadores de seis instituições se uniram para realizar um estudo inédito no país, com amostra representativa da população brasileira de 14 anos ou mais, sobre a prevalência de violência física e a exposição à violência parental na infância (quando a criança vê os pais ou responsáveis se ameaçarem ou se agredirem). Por meio da aplicação de questionários, eles entrevistaram cerca de 3 mil pessoas em 143 municípios brasileiros. Concluíram que 44,1% dos participantes tinham pelo menos uma história de abuso físico na infância e 26,1% deles haviam sido expostos à violência parental quando crianças. Os resultados foram publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 Segundo o artigo, a ocorrência de abuso físico e a exposição à violência parental na infância, relatadas por adultos, são situações comuns nos lares brasileiros

Segundo o artigo, a ocorrência de abuso físico e a exposição à violência parental na infância, relatadas por adultos, são situações comuns nos lares brasileiros


O estudo analisou dados oriundos do 1º Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, conduzido pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad). Os resultados apresentados no artigo são parte da tese de doutorado de Daniela Zanoti-Jeronymo, desenvolvida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sob orientação de Neliana Figlie.


Na pesquisa, tanto a história de abuso físico como a violência parental foram classificadas em moderada ou severa. O abuso físico moderado significava ter apanhado, enquanto o severo incluía ter apanhado com algum objeto, ter sido queimado, ter sido ameaçado com uma faca ou arma ou ter sido vítima do uso de uma faca ou arma. Já a violência parental moderada significava ter testemunhado uma ameaça de agressão entre os pais ou responsáveis, enquanto a severa incluía ter testemunhado a ameaça e a agressão propriamente dita. Com base nessa classificação, os pesquisadores verificaram que 33,8% dos entrevistados sofreram abuso físico moderado na infância e 10,3% vivenciaram história de abuso severo. Quanto à violência parental, 7,5% testemunharam situação moderada e 18,6% presenciaram caso severo.


“As análises da exposição à violência parental e abuso físico na infância combinadas demonstram uma associação significativa entre estes dois tipos de violência”, dizem os autores no artigo. “Dos sujeitos que sofreram abuso físico severo, 51% sofreram também exposição à violência parental severa”, destacam.


Os pesquisadores também avaliaram o abuso físico e a violência parental na infância segundo características sociodemográficas: sexo, idade, cor da pele, estado civil, escolaridade, classe social, renda familiar, situação de trabalho (empregado ou desempregado) e região geográfica de moradia. No caso da violência física, os entrevistados com e sem história de abuso apresentavam, basicamente, as mesmas características sociodemográficas. Já no caso da violência parental severa, ela foi mais prevalente entre as mulheres, os mais novos, os da classe C, os moradores das regiões Centro-Oeste e Sul e os menos escolarizados.


“A ocorrência de abuso físico e a exposição à violência parental na infância, relatadas por adultos, são situações comuns nos lares brasileiros”, dizem os autores. “O desenvolvimento de estudos com base populacional avaliando a prevalência da violência na população geral faz-se necessário para a implementação de formas adequadas de manejo e estratégias de prevenção, delimitadas através das características dos indivíduos e necessidades regionais”, ressaltam.


De acordo com o artigo, crianças expostas à violência doméstica tornam-se mais agressivas e correm maior risco de desenvolver problemas de saúde, comportamentais e emocionais. Quando chegam à idade adulta, indivíduos com histórico de violência na infância tendem a apresentar mais distúrbios como depressão, ansiedade e abuso de substâncias. Outro efeito de longo prazo da violência na infância é a geração de adultos violentos com parceiros ou filhos.


O artigo é assinado por Daniela Zanoti-Jeronymo, da Universidade Estadual do Centro-Oeste; Marcos Zaleski, da Universidade Federal de Santa Catarina e do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina; Ilana Pinsky, Neliana Figlie e Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo e da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas; e Raul Caetano, da University of Texas School of Public Health.


Para ler a íntegra do artigo, acesse http://www.scielo.br/pdf/csp/v25n11/16.pdf .


Publicado em 7/1/2010.

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