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17/12/2007

Malária pode ocorrer em diferentes graus em populações homogêneas

Renata Moehlecke


Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificaram fatores que podem aumentar o risco de malária entre garimpeiros de ouro no norte de Mato Grosso. O estudo, publicado na última edição (dezembro) da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, chama a atenção para a heterogeneidade da exposição à doença em uma população aparentemente homogênea. Segundo os pesquisadores, a área avaliada apresenta os maiores índices de infecções por malária do Brasil desde o final década de 80 (ultrapassando áreas endêmicas tradicionais, como Rondônia e o sul do Pará).


 Garimpagem de ouro no município de Novo Aripuanã (Foto: SDS/AM)

Garimpagem de ouro no município de Novo Aripuanã (Foto: SDS/AM)


“Até o momento houve pouca investigação no sentido de compreender a doença desde a perspectiva interna dos próprios garimpos, ou seja, por meio das características da população garimpeira e da sua organização espacial”, afirmam os pesquisadores. A média de prevalência da malária entre os indivíduos na região analisada foi de 31,3%, o que mostra a proporção de pessoas com pelo menos um episódio da doença nos três meses anteriores a coleta de dados e que podem estar expostas a um risco diferenciado. “A compreensão dessas diferenças pode representar uma ferramenta importante para identificar perfis de risco na população do garimpo e em seu entorno, além de orientar programas para a prevenção e tratamento da malária na Amazônia”. Os garimpos constituem, historicamente, segundo os pesquisadores, as áreas de maior prevalência da doença na Amazônia Legal brasileira.


A análise teve como base dados retirados de uma pesquisa da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat) do ano de 1993. A amostra incluiu 1.286 indivíduos que trabalham ou moram nos arredores de minas de ouro aluviais (com curso de água constante). De acordo com o estudo, três aspectos principais característicos das regiões de garimpo contribuem para o aumento da exposição à malária e sua prevalência em garimpeiros: a grande mobilidade dos indivíduos infectados, que transitam entre as áreas de garimpo (com grande incidência de malária) e ambientes urbanos (com menor predomínio da doença), a ausência de infra-estrutura adequada à saúde nas habitações dessas regiões (paredes e telhados não-duráveis e a falta de portas e janelas), que impediriam a entrada do mosquito vetor, e a alta exposição a esses insetos (devido à proximidade a seu habitat natural, como florestas) nas áreas de garimpo durante um longo período de trabalho diário (de 12 a 24 horas).


Fatores culturais também influenciam na alta manutenção de diagnósticos da doença no local. O forte individualismo dos garimpeiros atrapalha formas de interação social e o estabelecimento de redes informais, que poderiam facilitar a troca de informações sobre a malária e potenciais fontes de tratamento e prevenção. A atitude negativa desses indivíduos igualmente é prejudicial. “Eles tendem a mostrar um tipo de fatalismo em relação à malária, não amenizado por nenhuma medida preventiva, uma inevitável conseqüência de sua vida diária”, comentam os pesquisadores.


Os garimpeiros estudados foram, predominantemente, homens solteiros de 25 a 39 anos originários do Nordeste, sem escolarização e com pouca interação social. Apesar do padrão apresentado, os pesquisadores apontam a existência de uma diversificação nas variáveis que pode levar a diferentes graus de prevalência da malária entre os próprios garimpeiros. Os indivíduos mais jovens, não casados e sem vida social ativa, por exemplo, teriam mais riscos de contrair a doença, por passarem mais tempo no ambiente de trabalho.

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