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28/12/2012

'Manual para manuseio clínico da dengue' ganha nova edição

Renata Moehlecke


O diretor do escritório da Fundação no Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio, foi um dos colaboradores da nova edição do Manual para anuseio clinico da dengue, que acaba de ser relançado. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, Venâncio lista os principais objetivos da publicação e a importância do manual para o cenário nacional de combate a dengue.



Quais são os principais objetivos do manual? Como ele pode auxiliar profissionais de saúde em suas práticas habituais?



Venâncio:
O principal objetivo do manual foi reunir os conhecimentos e experiências acumulados ao longo dos últimos anos em relação ao manejo clínico dos doentes com dengue. A sistematização desses conhecimentos e experiências foi elaborada com o propósito de servir como um manual de consulta rápida por parte dos profissionais de saúde em geral, em especial aqueles que cuidam diretamente dos enfermos, como enfermeiros e médicos, por exemplo. Na medida em que o manual se consolidar como fonte de consultas, tanto para esclarecer dúvidas que ajudarão a ação direta, como servindo de referência para elaboração de outros textos por parte dos organismos nacionais de saúde, ele estará auxiliando os profissionais de saúde em suas práticas cotidianas.



Cabe salientar que esse manual não pretende ser uma “cartilha” a ser seguida “ao pé da letra” pelos profissionais de saúde, muito menos substituir os textos produzidos pelas autoridades sanitárias dos diversos países nos quais são registradas epidemias de dengue; ao contrário, a intenção é que o presente manual seja uma contribuição para a elaboração de novos materiais para capacitações dos profissionais de saúde desses países, uma vez que contem conhecimentos atualizados sobre o manejo clínico da doença.


A primeira publicação do manual ocorreu em 2009. Quais são os principais conteúdos e acréscimos que foram considerados necessários para a nova edição ?



Venâncio:
Na verdade, a edição de 2009 foi de outro manual, de conteúdo mais amplo, abordando não apenas o manejo clínico do doente, mas também aspectos relacionados com o diagnóstico laboratorial, epidemiologia e controle do vetor. A edição de 2009 foi do Dengue: Guidelines for diagnosis, treatment, prevention and control (Dengue: Guias para o diagnóstico, tratamento, controle e prevenção), publicado também sob a coordenação da Organização Mundial da Saúde; o texto lançado recentemente foi o Handbook for clinical management of dengue (Manual para manejo clínico da dengue), cujo conteúdo está centrado em aspectos relativos ao cuidado do doente, do indivíduo enfermo, não abordando questões como, por exemplo, o controle do vetor.



Se fosse realmente necessário destacar alguns temas no conteúdo do manual, ousaria citar os aspectos relacionados com a experiência clínica, sobretudo dos profissionais de saúde latinoamericanos; refiro-me ao manejo clínico de dengue em determinados grupos de risco, tais como idosos, grávidas e pessoas portadoras de outras doenças de base, chamadas comorbidades, tais como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, doenças autoimunes, dentre outras. A presença dessas comorbidades potencializando o desenvolvimento de formas graves da dengue tem sido objeto de estudos nas duas últimas décadas, inclusive por parte de pesquisadores brasileiros.


Como a nova  edição foi produzida? Como se deu sua participação?



Venâncio:
Inicialmente, cada capítulo foi encomendado a um profissional com muita experiência no tema, o qual elaborou uma versão preliminar; posteriormente, esses capítulos foram submetidos a revisores igualmente experientes na área, os quais, além de revisar o texto já elaborado poderiam sugerir o acréscimo de aspectos que julgassem pertinentes. Tanto os escritores como os revisores fazem parte do Grupo Técnico de Dengue da OMS/Opas, conhecido como GT Internacional de Dengue. Minha participação se deu na revisão do capítulo referente ao manejo da doença em grupos específicos, com maior vulnerabilidade para o desenvolvimento de formas graves, tais como idosos, gestantes e portadores de comorbidades, por exemplo, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, doenças autoimunes e alergias. Tive a oportunidade de aportar um pouco da experiência dos profissionais brasileiros, acumulada ao longo de quase três décadas de convivência com a doença.



A exemplo do que já acontecera durante a elaboração do Dengue: Guidelines for diagnosis, treatment, prevention and control, também tivemos a oportunidade de consolidar a convicção de que os portadores das citadas comorbidades devem receber um tratamento diferenciado quando buscam atendimento nas unidades de saúde; esse grupo de pessoas deve ser examinado de forma mais detalhada, e não deve ser liberado das unidades de saúde antes que uma minuciosa avaliação clínica e laboratorial seja realizada. Como disse anteriormente, o conhecimento científico acumulado tem demonstrado que os portadores de doenças de base têm maior probabilidade de desenvolver formas graves da doença.


Qual a importância da publicação para o cenário nacional de combate à dengue?



Venâncio:
Tenho dito que as epidemias de dengue continuarão ocorrendo no Brasil, em que pesem os esforços dos prefeitos, governadores e da presidente Dilma. Tal afirmação é fruto de uma simples constatação: os determinantes sociais e epidemiológicos envolvidos na ocorrência dessas epidemias são complexos e de difícil solução em curto prazo, razão pela qual as epidemias são quase que inevitáveis. Cabe salientar que o setor de saúde, aí incluídos profissionais e gestores, trouxe para si a responsabilidade de evitar algo que está fora de sua governabilidade. Por outro lado, nunca é demais lembrar que essas epidemias são previsíveis, e que as mortes delas decorrentes são evitáveis na sua quase totalidade.


Evitar epidemias de dengue é tarefa árdua e deve ser assumida por toda a sociedade. Evitar as mortes durante as epidemias é tarefa relativamente fácil, desde que a rede de atenção esteja organizada com antecedência e com a seriedade que o problema exige. Evitar essas mortes é tarefa nossa, profissionais e gestores de saúde. As recomendações atualizadas para o manejo dos casos de dengue, contidas no manual, podem ajudar a reduzir as mortes causadas por essa doença.


Publicado em 28/12/2012.

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