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29/08/2019

Médicos Sem Fronteiras promove conferência científica na Fiocruz

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) promoveu, nesta quarta-feira (28/8), na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), a conferência MSF Scientific Days Latin America, em que trabalhadores humanitários, acadêmicos, profissionais de saúde e líderes da comunidade científica e médico-humanitária se reúnem para apresentar pesquisas, showcases, trocar experiências e conhecimento. Esta foi a primeira vez que o evento, cuja primeira edição se deu em 2004, no Reino Unido, e é realizado anualmente, ocorreu na América Latina. A conferência, organizada em parceria com a Fiocruz, contou com debates e painéis de pesquisadores internacionais em saúde sexual e reprodutiva, com enfoque na ação em contextos de crises humanitárias. Na mesa de abertura, a diretora-executiva da MSF, Ana Lemos, lembrou da colaboração de duas décadas com a Fiocruz e ressaltou que a Fundação é “uma referência mundial em pesquisa e em saúde pública”.

Fiocruz sediou o evento que ocorreu pela primeira vez na América Latina (foto: MSF)
 
 

“Nosso objetivo, com os Scientific Days, é melhorar a assistência aos invisíveis e vulneráveis, para assim contribuir para salvar vidas. No caso específico do tema deste ano, é fundamental construir uma agenda sexual reprodutiva, sobretudo nos países periféricos. Por isso trouxemos especialistas que atuam em lugares como África do Sul, Moçambique e Líbano, entre outros. Aprendemos com as diferenças e as similitudes”. Os temas em discussão incluem saúde sexual e reprodutiva com foco em homens e meninos, especificidades da atenção de saúde a populações LGBTI+ e a importância do engajamento comunitário no atendimento a pacientes de tuberculose e HIV.

Em seguida, o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa de Oliveira, representando a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, disse que apesar da grande atualidade, o tema tem sido negligenciado. “Sabemos que é uma situação complexa, que vemos inclusive aqui no entorno do nosso campus. Precisamos reforçar a colaboração nessa área, e a MSF é uma grande parceira, para podermos agir em prol da saúde de tantos brasileiros desassistidos”.

Representando a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, a coordenadora do Programa de Pesquisa Translacional em Promoção da Saúde (Fio-PromoS), Luciana Garzoni, comentou que o modelo dos Scientific Days, e da parceria com a MSF, pode ser utilizado em outras temáticas. “E é exatamente assim que atua o Fio-PromoS, favorecendo a troca de saberes entre os pesquisadores e as comunidades, nos territórios”. O Fio-PromoS busca o desenvolvimento de projetos integrados em Promoção da Saúde e induzir projetos com foco na inovação social, por meio de soluções em um contexto de poucos recursos e de forte crise socioambiental, econômica e política, fortalecendo a ciência, a tecnologia e a inovação, na perspectiva de uma ciência cidadã.

Encerrando a mesa de abertura, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Hermano Castro, insistiu na relevância do tema do evento e enfatizou a questão da violência contra as populações vulneráveis. “Nas comunidades de Manguinhos, no entorno da Fiocruz, vemos crianças nascendo com sífilis, com arboviroses que causam graves alterações neurológicas. Na Baixada voltamos a ver crianças que nascem com Kwashiorkor, um quadro de desnutrição proteica gravíssima, em estágios que não pensei que veria no Brasil do século 21. O retorno à miséria é assustador e mostra como são difíceis os momentos em que vivemos, no país e no mundo. Os vulneráveis e invisíveis sofrem cada vez mais, até porque há uma intenção deliberada, por parte de alguns, de mantê-los nessa situação. Este evento é muito importante, porque precisamos de propostas, ideias e políticas para enfrentarmos essa crise”, afirmou Castro.

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