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17/09/2010

Ministério da Saúde adota estratégias de promoção à alimentação infantil

Informe Ensp


Para nutricionista Ana Lúcia Fittipaldi, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o maior desafio na nutrição infantil hoje, no Brasil, é estimular o aleitamento materno exclusivo e a alimentação complementar, considerados intervenções fundamentais para reduzir a mortalidade entre crianças com menos de 5 anos. Na entrevista* abaixo, Ana Lúcia também explica como funciona a Estratégia Nacional para Alimentação Complementar Saudável (Enpacs), instrumento que visa fortalecer as ações de apoio e promoção à alimentação complementar saudável no SUS. Ela fala do início da implantação da estratégia no Sudeste por meio de uma Oficina de Tutores. Ana Lúcia auxiliou a organização da oficina, realizada pelo Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição (Cecan), coordenado por Denise Barros, também da Ensp.


Por que a nutrição infantil é um desafio para a saúde pública no Brasil?

Ana Lúcia Fittipaldi:
As alterações na saúde durante a infância são responsáveis por graves consequências, tanto na própria infância quanto na fase adulta. Consideramos que, atualmente, o maior desafio na nutrição infantil está no aleitamento materno exclusivo e na alimentação complementar (introdução de alimentos com a finalidade de complementar o leite materno a partir dos 6 meses de vida), uma vez que estão diretamente relacionados à saúde infantil.


Apesar das ações que já foram implementadas pelo Ministério da Saúde para promoção e proteção do aleitamento materno, dados de pesquisas mostram que a prevalência de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida ainda está abaixo do preconizado. Assim, é preciso um esforço coletivo intersetorial para estimular o aleitamento materno exclusivo, promover condições mínimas para que a mulher possa amamentar de forma segura e adequada e promover a alimentação complementar saudável.


Qual o papel dos profissionais de saúde no incentivo ao aleitamento materno, principalmente em comunidades de baixa renda?

Ana Lúcia:
O profissional de saúde é um ator fundamental na promoção do aleitamento materno exclusivo, principalmente os profissionais da atenção básica, que acompanham a mãe no pré-natal e nos primeiros quinze dias de vida da criança (período considerado crítico para o sucesso do aleitamento materno). É importante que o profissional de saúde saiba orientar a mãe sobre a importância do leite materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida e apresentar propostas para vencer as dificuldades mais comuns que aparecem nesse momento, tornando a mãe mais segura sobre a sua capacidade de amamentar.


Entre as comunidades de baixa renda essas informações são vitais, uma vez que a alimentação inadequada na infância está relacionada com o aumento de doenças, principalmente infecciosas, desnutrição, excesso de peso e carências de nutrientes, como ferro, zinco e vitamina A. O leite materno evita o aparecimento dessas doenças e, além disso, é de graça, não gerando um custo adicional às famílias que já vivem com poucos recursos.


De que forma a Ensp estimula o aleitamento materno?

Ana Lúcia:
O Centro de Saúde da Escola estimula o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida por meio de ações realizadas pelos profissionais de saúde durante as consultas de pré-natal e de acompanhamento da mãe e filho após o parto. Durante campanhas de vacinação, eventos e datas comemorativas, são realizadas ações educativas para conscientizar mães e familiares da importância do leite materno na saúde infantil. Durante a Semana Mundial de Aleitamento Materno, os profissionais do Centro de Saúde realizam atividades na sala de espera, incluindo palestras interativas, teatros, vídeos, sempre reforçando a importância do aleitamento materno.


Quantas crianças com menos de 5 anos morrem hoje no país? Quais as principais causas dessa mortalidade e quais as regiões mais afetadas?

Ana Lúcia:
A mortalidade entre crianças menores de 5 anos no Brasil caiu de 52,01 mortes por mil nascidos vivos em 1990 para 22,58 em 2009. O Nordeste é a região com o maior índice de mortalidade infantil, seguida de Norte e Centro-Oeste. Houve uma mudança nas causas de mortalidade infantil relacionadas à melhoria da saúde das crianças a partir de ações de prevenção por meio de vacinação, combate à desnutrição e diarreias agudas. Na década de 80, as mortes estavam mais relacionadas com as doenças infecciosas (infectocontagiosas); atualmente, crescem as causas relacionadas a problemas durante a gravidez, parto e nascimento.


Um estudo do Ministério da Saúde feito em 2006 mostrou que a implantação da Estratégia da Saúde da Família teve impacto significativo na redução da mortalidade infantil. Para cada aumento de 10% de territórios acompanhados pela Estratégia da Saúde da Família, houve queda da mortalidade infantil em 4,5%. Em 2008, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) reconheceu a Estratégia da Saúde da Família como uma das principais políticas responsáveis pela redução da mortalidade infantil no país.


Em que consiste a Estratégia Nacional para Alimentação Complementar Saudável (Enpacs)? Quais seus principais objetivos?

Ana Lúcia:
É um instrumento para fortalecer as ações de apoio e promoção à alimentação complementar saudável no Sistema Único de Saúde (SUS). Foi proposta pelo Ministério da Saúde por meio da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN) em parceria com a Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde.


O principal objetivo da Enpacs é incentivar a orientação da alimentação complementar como atividade de rotina nos serviços de saúde, estimulando a formação de hábitos alimentares saudáveis desde a infância, com introdução da alimentação complementar ao leite materno de qualidade no momento oportuno, respeitando a diversidade cultural e alimentar das regiões brasileiras.


Os profissionais de saúde estão sendo capacitados para atuar na nova estratégia e multiplicar seu conhecimento por meio de oficinas para formação de tutores da Enpacs, que irão capacitar multiplicadores da estratégia para atuarem nos estados e municípios.


De que forma a Ensp vai participar da implantação da Enpacs?

Ana Lúcia:
No mês de julho de 2010, iniciamos a implantação da Enpacs na região Sudeste por meio de uma Oficina de Tutores realizada na Ensp. Essa oficina foi coordenada pelo Ministério da Saúde por intermédio da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN) em parceria com a Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN Brasil), pela Área Técnica de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Estado e Defesa Civil do Rio de Janeiro e pelo Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição (Cecan-Sudeste). Contou com a presença de representantes dos municípios do Rio de Janeiro e de representantes dos estados de São Paulo e do Espírito Santo.


O objetivo foi capacitar multiplicadores da estratégia para atuarem nos estados e municípios. Durante a oficina, foi feita uma prática com profissionais da Estratégia da Saúde da Família do CSEGSF e da Clínica da Família Victor Valla, iniciando a sensibilização e mobilização dos profissionais de saúde para a implantação da Enpacs. O próximo passo será estender a sensibilização e mobilização para os profissionais que não participaram da primeira oficina e divulgar o material de apoio elaborado pelo Ministério da Saúde para orientar a população sobre a Enpacs.


Publicado em 17/9/2010 (*parte da entrevista foi realizada pelo Mobilizadores Coep).

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