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04/04/2013

Ministra da Saúde do Haiti discorre sobre ações de cooperação para o fortalecimento do sistema de saúde do país

Danielle Monteiro


Em recente visita à Fiocruz, a ministra da Saúde do Haiti, Florence Duperval Guillaume, esteve com gestores da Fundação cumprindo a agenda da Cooperação Tripartite Brasil-Cuba-Haiti, maior projeto de cooperação internacional brasileiro. No encontro foram apresentadas as ações da cooperação coordenadas pela Fiocruz, bem como seus avanços e desafios. Florence reforçou a parceria e concedeu uma entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, na qual aborda o papel da Fundação na cooperação e o impacto dessas ações conjuntas no sistema de saúde haitiano, que foi fortemente abalado após terremoto ocorrido em 2010.


 Florence: o papel da Fiocruz é ser o braço executivo dessa cooperação

Florence: o papel da Fiocruz é ser o braço executivo dessa cooperação





A Cooperação Tripartite Brasil-Cuba-Haiti foi criada para fortalecer o sistema de saúde e de vigilância epidemiológica haitianos, sendo formada pelo Ministério da Saúde brasileiro sob a coordenação da Assessoria de Relações Internacionais (Aisa/MS), com a participação da Fiocruz – por meio do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), Canal Saúde, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) e Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) – e as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de Santa Catarina (UFSC).


A Fiocruz é um dos participantes da Cooperação Tripartite junto ao Ministério da Saúde brasileiro que tem realizado uma série de ações no Haiti. Como a senhora enxerga a atuação da Fundação nessa parceria?


Florence Duperval Guillaume: Eu diria que o papel da Fiocruz é ser o braço executivo dessa cooperação. No nível governamental, nós debatemos as estratégias a partir das necessidades identificadas no Haiti, a partir da nova política de saúde que desenvolvemos. Uma vez identificados e entendidos os problemas e as estratégias adotadas, começamos a conversar com a Fiocruz para passarmos à fase executiva. A meu ver, a Fiocruz nos ajuda no Haiti na implementação do protocolo de entendimento no modelo de Cooperação Brasil-Cuba-Haiti.


A Cooperação Tripartite é baseada em um modelo de cooperação estruturante, que propõe o conhecimento horizontal, compartilhado e a implantação de iniciativas que respeitam as necessidades do país e que se adequam a sua realidade. Qual a importância desse modelo de cooperação para a parceria?


Florence: Para que a cooperação seja eficaz, ela deve levar em consideração não apenas as necessidades reais, mas também a parte cultural do país ajudado. É exatamente o que está ocorrendo: sentamos, conversamos, levando em consideração os nossos costumes, nosso modo de viver, nossas crenças, nossas maneiras e estilo, escolhendo soluções capazes de atender às demandas, mas que também leve em conta todos esses aspectos. A cooperação Sul-Sul é muito mais eficiente porque experimentamos mais ou menos os mesmos problemas. No entanto, esperamos que seja levado em consideração o modo de viver das pessoas do local. O Haiti é um país bastante complexo, passou por momentos bem difíceis. Acredito que a cooperação brasileira aprende com essa complexidade e somente juntos conseguimos fazer a diferença.


Quais são os principais desafios da cooperação?


Florence: O maior desafio é sermos vítimas do nosso sucesso. Esta é uma cooperação que rendeu frutos. Um dos objetivos fundamentais é proporcionar o acesso universal, independentemente da renda, aos serviços de saúde. Como a experiência foi bem sucedida, o Haiti vem pedindo para a cooperação fazer cada vez mais.



Quais são os avanços mais notáveis da cooperação?


Florence: A ajuda na padronização da oferta dos cuidados e na atenção para esse acesso universal aos sistemas de saúde. Os sistemas de treinamento para agentes de saúde começam por uma boa vigilância epidemiológica. Essa vigilância tem um papel especial que permite fornecer uma resposta a tempo. E a cooperação tem infraestrutura para atender os pacientes.


Uma das iniciativas da cooperação é a formação em epidemiologia de serviços direcionada aos epidemiologistas dos dez departamentos sanitários, que vem sendo executada pela Fundação em parceria com a Direção de Epidemiologia e Laboratórios de pesquisa (DELR), do Ministério da Saúde e da População do Haiti (MSPP). Qual o impacto dessa ação no sistema de saúde do Haiti?


Florence: Há algum tempo queremos ter um sistema de informação sanitária confiável no país. Antigamente tínhamos pequenos sistemas, mas as informações eram divididas e mal utilizadas. Uma das grandes fraquezas que tivemos foi a vigilância epidemiológica. Com a aparição da cólera, nos demos conta da importância de um bom sistema de informação de vigilância epidemiológica. Assim, trabalhamos com Brasil e Cuba para alcançarmos este objetivo. Além disso, não é possível possuir um sistema bom sem a formação dos epidemiologistas. Essa foi exatamente a função da cooperação: promover a formação de epidemiologistas dos dois departamentos. Em cada departamento teremos, no mínimo, dois epidemiologistas, assim como uma brigada, que poderá ir a campo realizar levantamentos de vigilância epidemiológica. Para dar um exemplo da importância da vigilância epidemiológica no Haiti, ela foi o primeiro aspecto destacado no plano de ação contra a cólera, assinado entre Haiti e República Dominicana. Mesmo sem saber, o Brasil também contribui para a eliminação da doença na ilha inteira.


Outra ação da cooperação é a oficina de rádios comunitárias dirigida a radialistas haitianos, também promovida pela Fiocruz em parceria com a DPSPE/MSPP, que tem incentivado a promoção da saúde por meio dos veículos de comunicação haitianos.  Qual a  importância dessa ação voltada à imprensa haitiana?



Florence:
 O Haiti, muitas vezes o primeiro presente que ganhamos é um rádio. Então para fazer promoção e educação em saúde, para que cada indivíduo possa melhorar sua própria saúde, é fundamental trabalhar em conjunto com as rádios comunitárias, pois elas são escutadas nas comunidades mais distantes do país. O rádio é um meio de comunicação muito utilizado, sendo o segundo eixo essencial, ao lado dos agentes comunitários, para melhorar a promoção e educação em saúde. Mas antes da oficina de rádios comunitárias, a ênfase deve ser dada nos agentes comunitários de saúde polivalentes. Nesta reunião falamos da importância da rede desses agentes que estamos montando no país. Isso é muito importante na promoção da saúde, principalmente para mulheres grávidas.


Publicado em 3/4/2013.

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