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13/04/2007

Ministra Marina Silva faz conferência sobre mudanças climáticas na Fiocruz

Catarina Chagas e Fernanda Marques


A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve na Fiocruz nesta quarta-feira (11/04) para a abertura do ano letivo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp). Mudanças climáticas e seus impactos na saúde foram os temas de sua conferência, que lotou o auditório da Escola. Após a palestra, em entrevista coletiva, frisou que os pobres serão os mais prejudicados e destacou a necessidade de ações conjuntas entre os países e, também, entre os ministérios brasileiros. Marina Silva disse, ainda, que a Fiocruz pode oferecer importantes contribuições ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), que tem planos para os biocombustíveis e para o manejo sustentável dos recursos hídricos.


 A ministra Marina Silva usou, na lapela, um broche que reproduz o Castelo da Fiocruz (Foto: Ana Limp)

A ministra Marina Silva usou, na lapela, um broche que reproduz o Castelo da Fiocruz (Foto: Ana Limp)


Quais as regiões do Brasil mais afetadas pelas mudanças climáticas, quais os riscos para a saúde e quais as estratégias do Governo para obter soluções para o problema?


Marina: No Brasil, de acordo com oito estudos que concluímos ainda em 2006, ecossistemas como Pantanal, Amazônia e semi-árido são muito vulneráveis. Entre eles, as populações do semi-árido brasileiro são as que enfrentam as piores condições. Além disso, com o aumento do problema das enchentes, vemos o que acontece nas periferias dos grandes centros urbanos. O enfrentamento desses problemas é uma questão de cada país, internamente, mas os resultados só virão se tivermos um esforço global. Por isso, toda a atuação é para que os países assumam suas responsabilidades em relação à redução das emissões, à mitigação e à adaptação. No caso brasileiro, se nós reduzirmos 100% das nossas emissões e se os países ricos não reduzirem seus 80%, nós seremos afetados igualmente, a Amazônia virará savana igualmente. Isso dá uma certa dramaticidade, porque, se não for todo mundo junto, não tem como responder ao problema.


Os pobres, então, são os que mais vão sofrer?


Marina: Esta é a constatação de todos os estudos e a própria experiência empírica de cada um de nós demonstra que as populações mais pobres são as mais vulneráveis. A África é a que menos contribui com as emissões, mas será o continente mais afetado pelas mudanças climáticas, além de ter os problemas sociais incomparavelmente maiores do que os de outros países. No Brasil, as populações do Nordeste serão, sim, as mais afetadas, e é por isso que precisamos de um programa ousado de enfrentamento dessas vulnerabilidades.


Há um aumento da produção de energia elétrica a partir do carvão mineral e, aqui no Rio de Janeiro, existe uma expectativa em torno da usina Angra 3. Como a senhora vê essas questões?


Marina: De fato, a matriz energética dos países é o grande vetor que eleva a temperatura do planeta. No caso brasileiro, temos 45% da nossa matriz energética limpa, renovável. Os países ricos têm 6% e outros países em desenvolvimento, 13%. Em suma, o Brasil está em uma posição privilegiada, o que não significa que não tenhamos que continuar investindo. O Brasil tem um programa de biocombustíveis com potencial muito grande. O MMA advoga que façamos cada vez mais investimentos em energias renováveis em bases sustentáveis, exatamente para que não tenhamos que andar na contramão da história em relação à energia fóssil. Mas existem outras contribuições que o Brasil está dando: reduzimos 51% do desmatamento e isso significou 430 milhões de toneladas de CO2 a menos nos últimos dois anos. Isso representa 15% de tudo o que os ricos teriam que reduzir no mesmo período. Estamos propondo um Plano Nacional de Mudanças Climáticas, onde os ministérios de Desenvolvimento Agrário, Minas e Energia, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Indústria e Comércio trabalhariam juntos para os aspectos de mitigação e enfrentamento das vulnerabilidades, bem como para as adaptações ao problema.


A expansão do plantio de cana-de-açúcar visando à produção de etanol pode contribuir ainda mais para o aquecimento no Brasil?


Marina: A produção de biocombustíveis tem que ser uma alternativa para o processo de adaptação e para que se possa transitar para soluções tecnológicas mais avançadas. No país, temos cerca de 52 milhões de hectares de terra produtiva em repouso. Para chegarmos a 30 bilhões de litros de etanol, precisamos adicionar apenas mais tres milhões de hectares. Então, podemos fazer isso sem avançar sobre áreas florestais e, ainda, com inclusão social. O Brasil não quer ser o monopolizador dos biocombustíveis. Queremos que a tecnologia possa ir para regiões da Ásia, África, América do Sul e Caribe.


Como a academia, de modo geral, e a Fiocruz, especificamente, poderiam auxiliar o MMA?


Marina: Já temos várias parcerias com a Fiocruz e, nos aspectos de saúde e meio ambiente, elas têm uma grande contribuição a aportar. Um dos problemas que podem ser agravados no Brasil é a questão da malária e do dengue. Com certeza, instituições de pesquisa como a Fiocruz vão dar uma grande contribuição. Precisamos, agora, estabelecer sinergias entre os esforços de governo nas áreas de saúde, produção de energia, meio ambiente, agricultura. É um esforço que deve ser transversal.


O que o MMA está fazendo para conseguir realizar essas políticas transversais?


Marina: Temos vários planos em que isso ocorre: o Plano Nacional de Combate ao Desmatamento, o Programa Amazônia Sustentável, a nova lei para o setor elétrico, o trabalho que fazemos com os ministérios do Desenvolvimento Agrário, Ciências e Tecnologia, Defesa e Justiça. Um bom resultado das nossas atividades depende muito do envolvimento de outros setores.


Existe algum projeto para a proteção do Aqüífero Guarani?


Marina: Temos um trabalho feito com outros países também detentores do Aqüífero Guarani. É um programa transnacional, onde o Brasil tem maior responsabilidade, porque mais de 70% do aqüífero ficam no território brasileiro. A política de proteção do Aqüífero Guarani, no Brasil, é de responsabilidade da Agência Nacional de Águas da Secretaria de Recursos Hídricos, em parceria com os estados. O Plano Nacional de Recursos Hídricos já está sendo implementado, assim como um Plano de Combate à Desertificação, que faz parte do enfrentamento das mudanças climáticas.


A senhora comentou a existência de seis dimensões essenciais da sustentabilidade. Quais são elas e por que são tão importantes?


Marina: O desenvolvimento tem que ser sustentável dos pontos de vista ambiental, econômico, social, cultural, político e ético. Todas essas dimensões viabilizam um projeto que vai ao encontro do que a Humanidade quer ver praticado: geração de riquezas sem que isso signifique a diminuição ou o comprometimento dos ativos ambientais. Se a capacidade de suporte dos ecossistemas não for respeitada, eles vão perecer e haverá um comprometimento da vida no planeta. Hoje, os seres humanos já começam a ser afetados.

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