Início do conteúdo

23/10/2007

Monitoramento da qualidade de rios será implantado em região fluminense

Marcelo Garcia


A Prefeitura de Paulo de Frontin (RJ), município que fica a 85 quilômetros da capital, pretende desenvolver uma rede de saneamento básico para a região e atuar de forma mais incisiva na proteção e recuperação das bacias hidrográficas locais. Para isso, serão feitas obras que receberão verbas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. O planejamento para o próximo ano inclui colocar em prática as medidas do projeto e buscar maior conscientização da comunidade para os problemas ambientais. O anúncio foi feito na reunião de encerramento do primeiro ano do projeto Agente das Águas, desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz no município. Coordenadores e voluntários comemoraram os resultados do programa, desenvolvido em parceria com a prefeitura.


 Ponte sobre o Guandu, que abastece a capital e tem como afluentes rios de Paulo de Frontin

Ponte sobre o Guandu, que abastece a capital e tem como afluentes rios de Paulo de Frontin


A proposta do projeto Agente das Águas é avaliar a qualidade da água de rios e nascentes de forma mais simples, barata e eficaz. A qualidade da água é monitorada por meio de quatro critérios: ambiental, que analisa a qualidade das matas ciliares, o fluxo do rio e o grau de sedimentação; físico-químico e bacteriológico, que analisa o grau de poluição da água; biológico, que estuda as condições em que se encontra a fauna aquática da região; além de análises da pluviosidade e da vazão do rio.


Para fazer as análises, o projeto conta com a participação da comunidade, por meio de voluntários que passaram por um curso de capacitação. O grupo reúne 18 moradores de Paulo de Frontin e de municípios vizinhos, que foram divididos em grupos de quatro pessoas para fazer avaliações semanais da qualidade da água, por métodos simples e eficientes. “Nos primeiros meses selecionamos e treinamos voluntários para garantir que os resultados pudessem ser utilizados para embasar planos de gerenciamento dos recursos hídricos”, descreve o biólogo Daniel Buss, coordenador do projeto e pesquisador do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.


 Voluntários do projeto Agente das Águas em frente ao Castelo da Fiocruz

Voluntários do projeto Agente das Águas em frente ao Castelo da Fiocruz


"As análises utilizadas pelo projeto reduzem significativamente os custos envolvidos no monitoramento da qualidade da água. Além disso, a metodologia empregada, que pode ser aprendida em apenas 48 horas, tem quase a mesma eficiência das técnicas tradicionalmente utilizadas", afirma Daniel. O biológo ressalta ainda ser impossível monitorar as bacias hidrográficas de um país gigantesco como o Brasil sem a participação das populações locais: “As agências ambientais e a academia não têm condições de estar em todos os lugares e acabam concentrando seus esforços em pequenas áreas ou realizando o monitoramento de forma dispersa e sem periodicidade, por meio de análises de satélite que impossibilitam a detecção de um problema no momento em que ele ocorre. Por isso, as comunidades devem funcionar como vigilantes ambientais, detectando pequenas alterações a tempo de solucionar o problema”, diz.


O Agente das Águas surgiu a partir de análises feitas por outro grupo de voluntários, do município de Paracambi, também no Rio de Janeiro, que denunciaram a péssima qualidade da água vinda de Paulo de Frontin, que já chegava poluída à cidade. Os resultados obtidos no primeiro ano do projeto comprovam a situação precária da rede fluvial da região: apesar de muitos dos rios parecerem limpos, quase todos se mostraram em péssimo estado, sobretudo quando considerados os medidores biológicos. “Os rios de Paulo de Frontin pareciam abandonados, não recebiam a atenção que deveriam”, analisa o voluntário Márcio Ramalho, de 35 anos. “Mas não podemos esquecer que aqui nasce, por exemplo, o Rio dos Macacos, um dos principais afluentes do Guandu, que abastece o Estado do Rio de Janeiro”, alerta.


A parceria entre o IOC e a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Paulo de Frontin já possibilitou muitas conquistas. A principal delas é a elaboração de um projeto de saneamento para Paulo de Frontin, que será executado a partir de 2008 com verbas federais do PAC. “Com base nos dados levantados, foi possível criar um plano para implementar uma rede de infra-estrutura sanitária no município, além de trabalhos com potabilidade da água e de recuperação das matas ciliares”, explica a secretária de Meio Ambiente de Paulo de Frontin, Regina Marques. O município tem cerca de 12 mil habitantes.


Para Valesca Alves, uma das coordenadoras do projeto, a adoção dessas políticas públicas seria impossível sem o trabalho da comunidade. “Graças ao estudo, a prefeitura conseguiu sair na frente de vários municípios da região na busca de verbas para resolver os problemas. E nós também conseguimos produzir informação suficiente para que empresas poluidoras fossem notificadas e tivessem que modificar suas práticas”, conta com orgulho.


Outro aspecto importante do projeto, destacado pelo voluntário Márcio Ramalho, é a conscientização da comunidade, que passa por um processo de educação ambiental. “Passamos a ter mais consciência de que somos peças dentro da engrenagem, que temos responsabilidade na preservação”, afirma. "A longo prazo, este tipo de atividade tende a fortalecer a comunidade para atuar em comitês de gestão de bacias hidrográficas, que hoje atendem somente aos interesses das grandes empresas. O que pretendemos com o Agente das Águas é capacitar a comunidade para gerar dados e qualificar seu discurso no processo de tomada de decisão. Esta conscientização é nossa meta para os próximos anos", diz Daniel.


Para o segundo ano do projeto o objetivo é pôr em prática as soluções criadas e expandir a conscientização sobre a importância da preservação a toda comunidade. “É preciso mostrar às pessoas que vale a pena lutar por isso, transformando a iniciativa de 18 voluntários no esforço de 18 mil moradores”, propõe Daniel. O projeto Agente das Águas já foi realizado em outras regiões do Rio de Janeiro, como Guapimirim, Baixada Fluminense e em bairros da capital. É desenvolvido também no Amazonas, Espírito Santo e Paraná e tem centenas de voluntários.

Voltar ao topo Voltar