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21/10/2011

Monitoramento na pauta da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde

Mara Figueira


Lembrando que o que é medido de fato é executado – e quando uma pessoa não é contada não é levada em consideração na hora em que é preciso tomar decisões –, o professor da Universidade College London, Michael Marmot, abriu, na manhã desta quinta-feira (20/10), a sessão da Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde que teve como tema Medição, monitoramento e integração de dados em políticas, da qual foi moderador.


 O professor da Universidade College London, Michel Marmot, abre sessão <EM>Medição, monitoramento e integração de dados em políticas</EM> como moderador. Foto: Guilheme Kanno.

O professor da Universidade College London, Michel Marmot, abre sessão Medição, monitoramento e integração de dados em políticas como moderador. Foto: Guilheme Kanno.





Destacada para explicar a importância do tema, a professora da Universidade Americana do Cairo, Hoda Rashad, apontou a necessidade de buscar novos caminhos. “O que temos hoje são algumas medidas relacionadas, por exemplo, a mortalidade e natalidade, estratificações como local de moradia, gênero, educação. Mas temos que ir além disso para que muitas das desigualdades que hoje são invisíveis na sociedade comecem a aparecer”, disse.



Para a pesquisadora, os dados podem ser analisados de forma melhor. “Hoje conhecemos a magnitude de certas iniqüidades. Por exemplo, que os pobres estão piores do que os ricos, que os moradores das áreas rurais estão piores do que os da área urbana. No entanto, não sabemos como certos grupos – trabalhadores informais, pessoas de certas etnias – estão”. De acordo com Rashad, outro problema é que hoje não há uma conexão entre os dados e as políticas sociais.



Ministra da Saúde e Serviços Sociais da Finlândia, Maria Guzenina-Richardson, participou da sessão com o papel de mostrar o exemplo de um país que encontrou a receita para fazer medições, monitoramentos e integrações de dados em saúde. “Temos institutos importantes para coletar informações, que resultam em bons dados, e fazemos monitoramento regional da saúde”, disse. Richardson contou que, na Finlândia, vigora um sistema descentralizado, onde os municípios têm autonomia e poder. “Cabe aos municípios monitorar sua população e fazer freqüentes relatórios sobre bem estar, além de relatar ações e criar planos estratégicos sobre saúde”, disse.



Ao afirmar que o Marrocos, nos últimos três anos, conseguiu reduzir em 50% a mortalidade materna, o ministro da Saúde do país, Rahhal El Makkaoul, atribuiu o resultado não só ao estabelecimento de monitoramento e acompanhamento junto ao sistema de saúde, mas também à participação de organizações não governamentais e da sociedade civil bem como à vontade política. “É preciso ter medição, monitoramento e participação. O fato de comunicar a informação fez com que no Marrocos pudesse ter avanços, como no caso da mortalidade materna, em que passamos, em três anos, de 227 óbitos em cem mil nascimentos a 100 óbitos para cem mil nascimentos, sendo que nossa meta para 2012 é chegar a 50 óbitos para cem mil nascimentos”.



Rahhal El Makkaoul listou ainda outras iniciativas do país, como oferecer pela primeira vez no país partos gratuitos para a população, a orientação para que as mulheres permaneçam 48 horas no hospital após o parto e a instalação de uma sistema de atendimento médico de urgência. Já a ministra da saúde da Espanha, Carmen Amela Heras, em sua fala apresentou as ações que seu país tem desenvolvido em relação aos cerca de 1,5 milhão de ciganos que vivem no país. “O censo da saúde passou a incluir a população cigana, o que antes não acontecia. Com isso, pudemos perceber que essa parcela da população apresentava indicadores piores do que a população em geral”, explicou, acrescentando que, embora o sistema espanhol seja universal, foi possível perceber que havia barreiras ao acesso dos ciganos à assistência de saúde, por discriminação do próprio serviço. “Se, na população em geral, o acesso a vacinas é de 97%, entre os ciganos, a cobertura era menor.”



O painel Medição, monitoramento e integração de dados em políticas encerrou-se com rodadas de questões e comentários da plateia. Aproveitando a intervenção da epidemiologista Nancy Krieger, da Escola de Saúde Pública de Harvard, a professora associada da Universidade de Auckland, Papaarangi Reid, lembrou que, apesar de sua importância, os dados não contam histórias: as pessoas é que contam. “É importante reconhecer que os dados não são o final da história.” 


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Saiba mais sobre a Conferência também pelo Portal da Escola de Saúde Pública Joaquim Venâncio da Fiocruz. Clique aqui 



Publicado em 21/10/2011.

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