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08/09/2009

Morre o pesquisador Victor Valla, professor emérito da Fiocruz


Morreu na segunda-feira (7/9), aos 72 anos, o professor emérito da Fiocruz Victor Vincent Valla. Pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Escola Nacional de Saúde Pública (Esnp/Fiocruz), ele formou gerações de sanitaristas e enriqueceu o campo da saúde pública com o conceito e as experiências em educação popular. Lutador de causas sociais, era um dos maiores incentivadores do enfrentamento das desigualdades sociais no país. Exerceu na prática o conhecimento que pregava e ajudou a construir a identidade da Ensp e da Fiocruz. Leia aqui um especial sobre a vida e a trajetória de Victor Valla.


 O professor Victor Valla, ao receber o título de professor emérito da Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev) 

O professor Victor Valla, ao receber o título de professor emérito da Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev) 


Nascido em agosto de 1937, na Califórnia, nos Estados Unidos, Valla desembarcou no Brasil em 1964, logo após o golpe militar. Em 1984, incentivado por amigos, prestou exames para professor da Ensp e conquistou o primeiro lugar, dando início a uma trajetória de mais de 40 anos de engajamento político e de trabalho junto aos pobres, atuando diretamente com os segmentos mais miseráveis da população, conciliando saber científico e experiência popular.


Foi um dos criadores do Centro de Estudos da População da Leopoldina (Cepel), criado entre 1987 e 1988, considerado, segundo ele, um brilhante momento de fusão da vida acadêmica com as aspirações populares, e onde passou a ter contato mais próximo com as comunidades. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, disse que o Cepel deveria ser um centro em que os moradores da região obtivessem conhecimento para reivindicar seus direitos e demandas. "Não cabia a nós capacitá-los politicamente, porque a ditadura havia terminado e os partidos, bem como a vida política, tinham voltado a funcionar normalmente. O papel dos pesquisadores da Ensp era oferecer embasamento técnico sobre questões de saneamento, saúde, educação, além de juntar documentação e propostas sobre esses temas. Eles estavam totalmente à margem da sociedade instituída", lembrou Valla.


O pesquisador também desenvolveu na Escola um trabalho de vigilância civil, com uma proposta de ouvidoria coletiva, na região da Leopoldina. A equipe da Ensp localizou três centros de saúde como referência e criou comissões nais quais eram discutidos o acesso à alimentação, a serviços de saúde, a condições de vida e a moradia, ao saneamento e a formas que foram desenvolvidas para superar os problemas. Além disso, esteve à frente de disciplinas como Globalização e saúde, voltada para discutir questões como Alca, FMI, Banco Mundial e o que essas instituições têm a ver com saúde brasileira; e Religiosidade popular em saúde, transformada em um curso de aperfeiçoamento, com duração de seis meses.


Em 9 de setembro de 2008, o Conselho Deliberativo da Fiocruz aprovou, por unanimidade, a indicação de Victor Vincent Valla para o título de professor emérito da Fundação. Em cerimônia na Ensp, comoveu a todos ao agradecer pelo reconhecimento do seu esforço em fazer pesquisa sobre as condições de vida e trabalho das classes populares.


Em 2005, lançou o livro Para compreender a pobreza, que aborda as intervenções dos governos nas favelas, dos anos 40 aos 80. A obra mostra como os projetos governamentais propunham mudanças para as favelas. "Mudanças com as quais os moradores não concordavam porque, como sempre, os intelectuais não têm respostas para eles", afirmava Valla, que fez do correto entendimento dos valores e necessidades das classes menos favorecidas sua razão de viver.


Em 2001, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que o afastou das comunidades, mas se esforçava quando sua presença era necessária. "Gosto do contato com as pessoas humildes, isso faz parte de uma proposta de pesquisa e vida", comentava. Durante esse tempo, Valla continuava trabalhando em sua sala no Departamento de Endemias Samuel Pessoa e era visto com frequência nas atividades e cerimônias realizadas na Escola.


Victor Valla morreu de insuficiência cardíaca aguda. Deixou viúva, a fotógrafa e artista plástica Kita, e quatro filhos de dois casamentos. O enterro do pesquisador ocorreu nesta terça-feira (8/9), no Cemitério São João Bastista, no Rio de Janeiro.


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Publicado em 8/9/2009, às 12h19 (e atualizado às 17h25).

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