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20/05/2008

Na Presidência da Fiocruz

Fernanda Marques


Hermann Schatzmayr ingressou na universidade aos 17 anos e, embora fosse bem jovem, tornou-se representante de turma. “Foi uma experiência acadêmica, não política”, ressalta. No segundo ano da faculdade, ele já era secretário do Diretório Acadêmico e, depois, foi indicado Presidente. “Existia aquela polarização de esquerda e direita, mas os dois lados me aceitavam bem: sempre fui apaziguador”.


 Hermann na Presidência da Fiocruz: a nomeação foi um susto

Hermann na Presidência da Fiocruz: a nomeação foi um susto


Hermann atribui a essa sua característica de apaziguador o fato de ter sido indicado à Presidência da Fiocruz, em junho de 1990. “Tínhamos acabado de isolar o vírus do dengue 2 e recebi um telefonema de Brasília solicitando que eu fosse com urgência para lá”, conta. “Fui levando todo o material de dengue 2, mas não era este o assunto que queriam tratar comigo: o ministro da Saúde queria me nomear presidente da Fiocruz. Levei um susto. Aquilo não era meu perfil”.


Havia um impasse na Fundação. Após eleição interna, os três nomes mais votados tinham sido levados ao ministro, que não aceitou ninguém da lista – uma decisão inesperada e antidemocrática. Enquanto a situação não se resolvia, quem sofria era a Fiocruz, onde, nos primeiros meses de 1990, começaram a faltar recursos para atividades rotineiras, aprofundando uma crise interna.


“Depois de conversar com a minha família e com colegas de trabalho, decidi aceitar a Presidência, mas por pouco tempo, até que as coisas se acertassem”, afirma. “Parece que o ministro já tinha feito o convite a outras pessoas, mas ninguém havia aceitado. Só mesmo um profissional da casa, respeitado como eu, para aceitar, porque a situação era toda muito complicada”.


De acordo com Hermann, a Associação de Funcionários da Fiocruz (Asfoc) tinha receio de que ele, por ordem do Ministério, demitisse trabalhadores, mas o virologista garantiu que não faria isso.  “Conversei com a Asfoc e com muitos colegas. Se não me apoiassem, eu voltaria para o meu lugar de pesquisador, mas então talvez nomeassem um deputado como presidente da Fiocruz, o que seria pior”, explica. “Foi por isso que decidi aceitar a missão de ficar um período à frente da Fiocruz. Eu também brigava a favor da eleição interna. Não estava traindo ninguém. E a Asfoc me ajudou”.


Segundo Hermann, durante o tempo em que foi presidente da Fiocruz, graças ao apoio que recebeu da comunidade e de seus vice-presidentes e aos substanciais recursos liberados pelo Ministério, foi possível melhorar salários; incorporar novos funcionários; fazer obras tanto nas unidades do Rio de Janeiro como nos centros regionais, o que inclui, por exemplo, a Biblioteca Central, em Manguinhos, e o novo prédio do Instituto René Rachou, em Belo Horizonte; adquirir novos equipamentos para a fábrica de vacinas; firmar convênios internacionais; e criar o FioSaúde.


“A minha idéia era implementar exames prévios de saúde para os funcionários, para que as doenças, diagnosticadas no início, fossem mais facilmente controladas”, lembra o ex-presidente da Fiocruz. “Foi então que o grupo do Fundo de Previdência Privada da Fiocruz (FioPrev) me mostrou um projeto de plano de saúde que estava engavetado. Levamos o projeto adiante e implantamos o FioSaúde. Aquilo foi socialmente fantástico. Desde os primeiros meses, o plano de saúde foi muito utilizado, demonstrando que havia uma demanda reprimida dos funcionários por serviços de saúde”.


O tempo foi passando e o ministro da Saúde foi substituído. Hermann conta que colocou seu cargo de presidente da Fiocruz à disposição, mas o ministro seguinte pediu que o virologista ficasse um pouco mais. Houve, então, outra troca de ministro. Na Fiocruz, crescia a pressão para que a eleição interna fosse respeitada, algo com que Hermann concordava.


O virologista voltou para seu laboratório em dezembro de 1992, quando o Ministério da Saúde cedeu, nomeando para a Presidência da Fiocruz o médico Carlos Morel, que havia sido incluído na lista pela comunidade interna. “Minha experiência como presidente da Fundação foi rica. Apazigüei os ânimos; mantive as estruturas internas integralmente; usei o dinheiro que me deram para fortalecer a instituição e melhorar a infra-estrutura; lutei contra tentativas de privatização; evitei que o Prédio da Expansão passasse para a Caixa Econômica. Fiz o que devia ser feito, sem criar inimizades. Não me arrependo de nada”, resume Hermann.

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