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09/08/2006

Entrevista: João Pedro Stédile

Vivi Fernandes


















Arquivo MST


Trabalho, saúde e questões agrárias no Brasil é o tema do evento que marca o início das atividades de ensino de 2005 da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma unidade da Fiocruz. Marcada para esta terça-feira (15/02), às 14h, no auditório da escola, a aula inaugural será proferida pelo coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. Em uma breve entrevista, ele pontua algumas das reflexões que serão apresentadas em sua visita à Fundação Oswaldo Cruz.



Como o MST articula o trabalho e a saúde nas atividades desenvolvidas pelos trabalhadores rurais sem-terra?


Nosso objetivo como movimento social é lutar contra a pobreza e contra a desigualdade social que existe no meio rural brasileiro. A nossa forma de fazê-lo é conscientizar e organizar os pobres para que lutem pela solução de seus problemas. No início, achávamos que bastava ocupar latifúndios, depois vimos que é preciso democratizar também o capital social. Agora estamos lutando por um novo modelo de técnicas agrícolas que respeitem o meio ambiente e que produzam alimentos saudáveis para a população. Isso tudo tem a ver com o trabalho para o povo.














João Zinclar/MST


As questões agrárias são pouco estudadas nas escolas?


A universidade brasileira está longe das necessidades do povo e as escolas apenas querem formar mão-de-obra. Nós precisamos de uma verdadeira revolução educacional para formar pessoas, cidadãos preocupados com os dilemas da sociedade, com os problemas de nosso tempo. Nossa juventude está sendo castrada intelectualmente. A televisão e os meios de comunicação têm muito mais influência do que a universidade, infelizmente.


Espero que nos próximos anos haja um verdadeiro movimento da juventude, como foi na Semana de Arte Moderna de 1922, como foi nos idos de 68, para que recupere seu verdadeiro papel de mudança da sociedade.


A saúde, assim como a educação, é um setor de destaque no MST. Como o movimento articula esses dois setores, na prática?


Democratizar a educação é tão importante quanto democratizar o acesso à terra. A saúde está relacionada com o direito ao trabalho, aos alimentos saudáveis e à moradia digna, que lutamos para que sejam conquistados em todos assentamentos de reforma agrária do país e entre os camponeses em geral. Não vemos a saúde como algo assistencial. Queremos não ficar doentes. E para isso é preciso resolver problemas sociais que geram as doenças do povo.


Existe alguma iniciativa do MST na área de educação profissional?


Existem muitas iniciativas. O MST se preocupa em garantir escolas de primeiro grau em todos assentamentos. Nós nos preocupamos em lutar por escolaridade em todos os níveis, inclusive escolas profissionalizantes, e em democratizar a universidade. Hoje temos convênios com 42 universidades do Brasil. Temos mais de 500 estudantes do MST estudando em universidades e o nosso sonho é que todos os jovens brasileiros tenham direito à universidade pública e de qualidade.


O MST tem uma parceria com a Fiocruz e a Petrobras na produção de hortas medicinais. Há a previsão de alguma outra parceria com a instituição?


Esperamos, no futuro, construir muitas parcerias. Mas, mais do que convênios e acordos concretos, a melhor parceria é ambos trabalharmos para solucionar os problemas do povo brasileiro, a partir de nosso conhecimento, de nossa inteligência nacional.

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