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26/08/2019

Palestra na Fiocruz aborda divulgação científica e história pública

César Guerra Chevrand (COC/Fiocruz)


Criador do portal Café História e professor da Universidade de Brasília (UnB), Bruno Leal debateu as atuais perspectivas de popularização da história na última edição do Encontro às Quintas. Com foco nos diferentes modelos de divulgação científica e conceitos de história pública, o evento promovido pelo Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) foi realizado em 15 de agosto, no Salão de Conferências do Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS), em Manguinhos (RJ).

O editor do portal Café História destacou a importância de historiadores profissionais discutirem a divulgação do conhecimento historiográfico para grandes públicos (foto: COC/Fiocruz)

 

Na palestra, Bruno destacou a importância de historiadores profissionais discutirem a divulgação do conhecimento historiográfico para grandes públicos, em meio ao avanço de discursos negacionistas no Brasil e no mundo, com o revisionismo de questões como o holocausto, a tortura, e o racismo. “Isso preocupa muito as comunidades de historiadores e ajuda a explicar por que temos discutido tanto temas como intelectuais mediadores, história pública, história digital e divulgação científica”, explicou o professor de História Contemporânea, que também tem experiência de 11 anos como editor do Café História.

De acordo com Bruno, a ideia deste debate é construir laços mais sólidos da academia com audiências extra-acadêmicas. “Nós criamos meios de comunicação, instrumentos e recursos muito consolidados de pares para pares, mas deixamos essa outra audiência um pouco desguarnecida”, pontuou.

Com a ressalva de que a comunidade historiográfica não deve desprezar a divulgação de história feita por não-especialistas, Bruno Leal reafirmou a importância da divulgação da história feita pelos próprios historiadores profissionais. “Nós historiadores não temos e nem devemos ter o monopólio da fala sobre esse passado, mas me parece indispensável que a comunidade desenvolva projetos e ações de difusão do conhecimento histórico para o grande público”, afirmou.

Entre os motivos para a divulgação da disciplina, o editor do Café História ressaltou a necessidade de atender à demanda social pelo passado, de dar visibilidade aos centros acadêmicos e de fortalecer a democracia e a cidadania. Bruno Leal reconhece que a história ainda se encontra pouco inserida no campo da divulgação científica.  “A divulgação deve ser uma das prioridades do trabalho do historiador ao lado do ensino e da pesquisa. Durante muito tempo, a gente desenvolveu essas outras duas dimensões, mas a divulgação ficou relegado a um segundo plano”, comentou.

Bruno Leal também explicou a origem das discussões sobre história pública nos Estados Unidos, ainda nos anos 1970, e no Brasil, a partir da última década. Nascida como uma resposta à crise de empregabilidade nos EUA quarenta anos atrás, a história pública abriu espaço para atuação profissional do historiador em campos como curadorias e consultorias, escritas biográficas, programas de televisão, produção audiovisual e empresas públicas e privadas.

Com muitos exemplos de iniciativas de divulgação científica em história e de história pública, Bruno Leal também traçou as diferenças entre as duas abordagens. "Se a divulgação científica está principalmente preocupada com a difusão e a popularização da história que nós produzimos em âmbito acadêmico, a história pública tem um horizonte um pouco mais largo. O engajamento que nós pensamos na história pública é do público ajudando a constituir essa escrita da história”, disse.

Café História

Portal gratuito dedicado à divulgação científica da disciplina, o Café História contabiliza mais de 28 milhões de acessos desde a sua criação, em 2008, e mantém de três a cinco mil acessos diários. Neste período, foram publicados cerca de 150 textos originais. Mais do que os números, Bruno Leal também comemora a surpreendente repercussão do portal em artigos científicos. “Num período de um ano, vinte textos do Café História foram citados em produtos acadêmicos, como teses, dissertações e monografias. Isso mostra como o campo acadêmico também pode se apropriar da divulgação científica de maneiras que a gente nem imagina”, completou.

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