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12/03/2020

Fiocruz debate combate à Covid-19 na Câmara dos Deputados

Fernanda Marques (Fiocruz Brasília)


Pouco depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia de coronavírus, acontecia na Câmara dos Deputados, na tarde desta quarta-feira (11/3), Comissão Geral para debater ações preventivas da vigilância sanitária e possíveis consequências para o Brasil. “No enfrentamento desta emergência, responsabilidade e solidariedade são palavras-chave. É fundamental o fortalecimento da transparência das informações, da nossa capacidade científica e do nosso SUS”, disse a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, presente ao debate. “Reafirmamos nosso compromisso no campo da vigilância, trabalhamos com o conceito da promoção da saúde respiratória, com o controle de fatores de risco como o tabagismo e com políticas públicas voltadas à saúde da população idosa”, acrescentou a presidente. Ela também lembrou que as experiências de enfrentamento da febre amarela e da zika demonstraram a importância da articulação entre a atenção à saúde e os institutos de pesquisa e universidades. “Estaremos comprometidos com essa pauta em todos os níveis”, concluiu.

"É fundamental o fortalecimento da transparência das informações, da nossa capacidade científica e do nosso SUS”, disse a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima (imagem: Reprodução / TV Câmara)

 

Confira o boletim distribuído aos parlamentares com as ações da Fiocruz.

Além de Nísia, participaram da Comissão Geral diversos especialistas e representantes de instituições e entidades do campo da saúde. Eles fizeram suas intervenções após uma apresentação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que abordou a atual situação do Brasil frente ao novo coronavírus, destacando as medidas já adotadas no país e outras recomendações. De acordo com o ministro, a declaração de pandemia – que significa alta capacidade de presença e transmissão sustentada do vírus em vários continentes – foi feita tardiamente pela OMS. No entanto, Mandetta também ressaltou que não há motivo para pânico.

Assista à Comissão Geral sobre coronavírus na íntegra. 

 

O que dizem os números

Os números mudam muito rapidamente, mas, até o momento da apresentação do ministro, havia 34 casos de Covid-19 confirmados no Brasil (em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Espírito Santo), com cinco hospitalizações – a Covid-19 se manifesta de forma mais grave em pacientes idosos ou que já apresentam outras doenças. “Já descartamos 780 casos suspeitos, cujos testes foram negativos, o que indica que os exames estão sendo realizados em uma velocidade boa. O primeiro paciente no Brasil foi confirmado menos de 12 horas após sua entrada no país. Nossa vigilância está funcionando”, reforçou Mandetta.

Segundo o ministro, os dados dos países do Hemisfério Norte, em geral, mostram gráficos de números de casos de Covid-19 que começam com uma linha horizontal e, a partir de um determinado momento, ocorre um crescimento muito rápido da doença. No início, a transmissão é local, quando é possível relacionar o novo paciente a um caso confirmado; quando isso não é mais possível, diz-se que a transmissão é comunitária ou sustentada. Em determinado ponto, em termos estratégicos, os casos suspeitos não são mais testados unitariamente. Os kits de diagnóstico são priorizados para pacientes mais graves – a maioria das pessoas não apresenta sintomas ou tem apenas sintomas leves.

Foco na prevenção

Para evitar o aumento abrupto do número de casos, Mandetta chamou atenção para a importância das medidas de prevenção, como evitar cumprimentos com contato físico e, principalmente, a correta e frequente lavagem das mãos. Os idosos e pessoas com doenças crônicas são os grupos que requerem maior proteção. Por isso é tão importante que pessoas com sintomas respiratórios ou com suspeita de ter contraído o novo coronavírus evitem contato com esses grupos. Também por essa razão a campanha de vacinação contra a gripe foi antecipada para começar em 23 de março, dirigida, inicialmente, a pessoas com 60 anos ou mais e trabalhadores da saúde.

No Brasil, um país com dimensões continentais e grande diversidade cultural, a Covid-19 pode se comportar de formas distintas em cada estado e até mesmo variar dentro de um mesmo estado, o que exigirá respostas variadas dos gestores. “Não temos cinemas ou estádios fechados aqui. Mas estamos atentos a possíveis mudanças de cenários, que podem variar de um lugar para outro”, disse Mandetta. Um conjunto de medidas de enfrentamento da Covid-19 já estão em andamento no país – inclusive na questão orçamentária, com previsão de recursos adicionais das emendas de relator a serem liberados e repassados proporcionalmente às secretarias de saúde.

Ainda de acordo com o ministro, até 18 de março, todos os estados estarão aptos a fazer os exames laboratoriais de diagnóstico. Destacam-se também a aquisição de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde, a organização de serviços de telemedicina e telessuporte, e, em especial, a ampliação do horário de atendimento nas Unidades Básicas de Saúde. “É importante que as pessoas procurem primeiro os postos de saúde e não diretamente as emergências hospitalares. Estima-se que 90% dos casos possam ser atendidos na atenção básica”, afirmou. “A desinformação, o pânico e a corrida aos ambientes hospitalares fazem com que a Covid-19 derrube o sistema de saúde”, salientou Mandetta.

Incertezas e dificuldades

Para o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, também participante do debate, “em que pese todo o competente trabalho que tem sido feito pelo Centro de Operações de Emergências coordenado pelo Ministério da Saúde, ainda persistem uma enorme insegurança e desinformação”. Algumas dúvidas e incertezas contribuem para a inquietação de gestores, profissionais da saúde e população. “Não sabemos qual a real taxa de letalidade da Covid-19. Temos dados de casos confirmados, mas a gama de pessoas infectadas e expostas é muito grande. Outra incerteza diz respeito ao período de transmissibilidade. Antes do aparecimento dos sintomas clínicos a pessoa transmite? Durante quanto tempo ela transmite? Isso impacta as medidas preconizadas e recomendadas”, ponderou Rivaldo, reforçando a necessidade de que se mantenha a calma. “Para os resultados esperados, é necessário avaliar a factibilidade das medidas”.

Mandetta reconheceu, ainda, dificuldades relacionadas às fake news, à carência de leitos de UTI, à saúde nas regiões de fronteira, à regulação da quarentena e à vulnerabilidade social – a recomendação de isolamento domiciliar em casos de pacientes moradores de favelas ou em situação de rua, por exemplo, seria inconcebível. “Pagamos o preço da exclusão social e não é de hoje, é de séculos, tanto que temos tuberculose de maneira endêmica. Temos que atender a todos e não deixar ninguém para trás: 100% da força da saúde tem que estar pronta”, pontuou o ministro, que não só destacou a importância dos kits de diagnósticos já desenvolvidos pela Fiocruz, como também fez uma nova encomenda aos pesquisadores da instituição: pesquisa, desenvolvimento e inovação de kits para testagem simultânea de influenza e coronavírus.

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