07/04/2020
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Leia a carta na íntegra:
"7 de abril de 2020. Na data em que se comemora o Dia Mundial da Saúde, o planeta enfrenta uma das mais graves e desafiadoras crises sanitárias: a pandemia da Covid-19. Causada por um tipo de coronavírus até então desconhecido, a doença, desde sua identificação em Wuhan, na China, vem progressivamente afetando países dos diferentes continentes e colocando em risco de colapso os sistemas de saúde em todo o mundo.
Mais do que nunca, a saúde como valor e direito universal precisa ser afirmada, ao mesmo tempo em que se fortalece a importância de políticas públicas baseadas nas melhores evidências científicas. Fica claro o papel dos sistemas universais de saúde, como é o caso do Sistema Único de Saúde (SUS), um patrimônio da sociedade brasileira e um legado da Constituição Cidadã de 1988.
Tema caro desde sua criação, a visão sistêmica do SUS (que une vigilância, integralidade da atenção, promoção da saúde e desenvolvimento de uma base científica e tecnológica) ganha mais peso, à medida em que o conceito do Complexo Econômico Industrial da Saúde revela-se um importante fator para o desenvolvimento econômico, social e ambiental dos países em desenvolvimento. No caso da pandemia em pauta, a falta de insumos para testes diagnósticos, de equipamentos de proteção, de respiradores para tratamento das formas mais graves da doença e de leitos de UTI é um indicador preciso de lacunas que requerem a convergência entre as políticas de saúde, de ciência, tecnologia e inovação, e industrial.
A partir de uma base científica e tecnológica dedicada ao fortalecimento do SUS e da saúde global, a Fiocruz reafirma seu compromisso e sua missão histórica neste momento crítico de enfrentamento à pandemia no país, quando se inicia o aumento mais intenso do número de casos. Trata-se de uma realidade ainda mais complexa devido à grande desigualdade social e à densidade demográfica dos territórios mais vulneráveis, o que requer políticas de saúde e de proteção social eficazes para mitigar um quadro potencial de desastre social e crise humanitária.
Em todas as regiões brasileiras, todos os institutos da Fiocruz estão plenamente engajados nesse esforço. É assim na atividade dos laboratórios de referência, com destaque para a atuação do Laboratório de Referência Nacional de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); na produção de testes moleculares para o diagnóstico no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e no Instituto de Biologia Molecular do Paraná (Fiocruz Paraná); na avaliação da qualidade dos testes importados pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz); na ampliação da oferta de leitos para pacientes graves e na coordenação nacional do importante estudo clínico Solidariedade da Organização Mundial da Saúde (OMS), sob responsabilidade do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz); e na investigação da ação de antirretrovirais contra a doença, pesquisa coordenada pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). Somam-se a essas ações, um conjunto de pesquisas em todas as áreas do conhecimento e de iniciativas educacionais em todas as modalidades oferecidas pela instituição, com destaque para a formação dos trabalhadores da saúde.
Este Dia Mundial da Saúde será lembrado na Fiocruz como uma data para reafirmar o compromisso firmado há 120 anos: desenvolver ciência em defesa da vida. Ao celebrá-lo em um contexto tão desafiador, é imperativa a valorização dos trabalhadores da instituição e de todos os trabalhadores da saúde. Dedicamos a todos eles este 7 de abril.
Nísia Trindade Lima
Presidente da Fiocruz"