14/09/2020
Três em cada quatro mortos por Covid-19 no estado e no município do Rio de Janeiro são idosos, com idades acima dos 60 anos. O total geral de mortos da terceira idade – envolvendo todas as doenças, além da Covid-19 – aumentou muito desde o início da epidemia do novo coronavírus, tanto no estado quanto na capital fluminense. Na comparação com o mesmo período no triênio 2017-2019, nos meses de abril a junho de 2020 morreram 36% mais idosos no estado e 57% no município. Cresceu de forma preocupante o número de idosos que faleceu fora de hospitais, em sua residência ou em abrigos: 78% no município e 54% no estado. A hipertensão, tumores (câncer) e a diabetes foram as principais causas de morte em domicílio, em pessoas da terceira idade, no município do Rio.
Esses são alguns dos resultados encontrados por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), no estudo O excesso de óbitos de idosos no Município do Rio de Janeiro analisados segundo o local de ocorrência, publicado em Nota Técnica do Grupo de Informação em Saúde e Envelhecimento (Gise/Icict/Fiocruz). Ao analisar dados das secretarias estadual e municipal do Rio de Janeiro, os pesquisadores do Icict constataram ainda que esse excesso de óbitos de idosos em 2020 foi bem maior entre os negros, com um aumento de 109%, contra 74% dos idosos brancos.
Ao todo, de abril a junho de 2020 morreram mais 9.215 idosos (pessoas com 60 anos ou mais) no Estado do Rio, em comparação com o mesmo período nos três anos anteriores. A maior parte desse excesso de mortalidade na terceira idade ocorreu na capital: 7.023 mais idosos mortos. Os bairros da cidade do Rio que, proporcionalmente, registraram maior aumento de óbitos de idosos foram Paquetá, Penha, Ramos, São Cristóvão, Zona Portuária, Centro, Lagoa, Rocinha e Guaratiba. Já os bairros de Méier, Madureira, Jacarepaguá, Bangu e Campo Grande tiveram o maior crescimento de morte de idosos em domicílio.
“O aumento expressivo do número de mortos em residências indica claramente falhas do no sistema de saúde e da assistência social, com carência de atenção oportuna e preventiva. O excesso de mortalidade entre as pessoas idosas fora dos hospitais (em UPAs, centros de saúde e mesmo nos domicílios) ocorreu por todas as causas. Nas causas infeciosas e parasitárias o excesso de mortes atingiu 702% no período estudado, muito provavelmente causado por Covid-19. Também cresceu muito o número de mortes em domicílio por causas mal definidas, quase 335%. Vários dados apontam para um quadro de desassistência, falhas no sistema de saúde e da assistência social e também na atenção preventiva”, comenta Dalia Romero, especialista em saúde pública do Gise/Icict/Fiocruz.
O estudo revelou também que a hipertensão foi a maior causa de mortalidade entre os idosos no município de Rio de Janeiro, em 2020. Passou de uma média de 153 óbitos entre abril e junho do triênio anterior (2017-2019) para 364 óbitos em 2020 (excesso de 137%). Já as mortes por diabetes quase duplicaram no período: de 133 (2017-19) para 252 (2020), um crescimento de 89%.
“Tanto a hipertensão quanto a diabetes são causas consideradas evitáveis de mortalidade e internação. Como estudos já demonstraram, o aumento da cobertura da Atenção Primária à Saúde reduz a mortalidade por causas consideradas evitáveis”, diz a nota técnica.
Houve um aumento expressivo também no total de idosos mortos no domicílio por causas mal definidas: 334% a mais em 2020, na mesma comparação de meses com o triênio 2017-19. “A falta de diagnóstico da causa básica do óbito desses 662 idosos pode estar relacionada com a carência de testes para Covid-19 e a falta de rede de atendimento adequada a casos graves”, afirma o estudo.
Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) disponíveis na página da Secretaria Estadual de Saúde, o Estado do Rio de Janeiro acumulou, até 31 de agosto, 16.735 óbitos por Covid-19, sendo 12.521 de pessoas idosas (74,8%). Já o município do Rio de Janeiro registrou 9.153 e 7.047 óbitos (77%), respectivamente. O alto percentual de mortes de idosos, entre outras razões, justifica análises que caracterizem as condições e desigualdade das mortes pelo novo coronavírus entre esse grupo etário.
De acordo com o sistema MonitoraCovid-19, do Icict/Fiocruz, após 175 dias de epidemia o Município do Rio de Janeiro apresenta uma taxa de 142 mortos para cada 100 mil habitantes, quase o triplo da taxa brasileira, que é de 52 mortos/mil habitantes.