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22/04/2021

InfoGripe alerta que 7 estados dão sinais de que interromperam queda em casos de SRAG 

Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)


O Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (22/4), alerta que os estados de Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima, que haviam iniciado um processo de queda nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), dão indícios de que podem estar interrompendo essa tendência em valores ainda muito elevados. Seriam valores similares ou mesmo superiores aos picos observados em 2020. Feita com base nos registros do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), a análise dos dados, referente à Semana Epidemiológica 15 (11 a 17 de abril), também mostrou que cerca de 90% dos casos positivos de SRAG foram associados à Covid-19.

O indício de interrupção na queda estaria associado às medidas de flexibilização no distanciamento social. “Causa grande preocupação esses estados e capitais apresentarem uma interrupção na queda estando em valores muito altos. O simples fato de parar de estabilizar não garante tranquilidade”, explica o pesquisador Marcelo Gomes, responsável pelo InfoGripe. “Enquanto não chegar a um valor baixo não se poderia falar em retomada”, acrescenta. 

Como os valores atingidos em diversos estados durante a fase de crescimento este ano foram extremamente elevados (em diversos deles o pico de 2021 foi superior aos de 2020), a retomada das atividades de maneira precoce pode justamente levar a um quadro de interrupção da queda ainda em valores muito distantes de um cenário de segurança. “Tal situação, caso ocorra, não apenas manterá o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos como também manterá a taxa de ocupação hospitalar em níveis preocupantes, impactando todos os atendimentos, não apenas aqueles relacionadas às síndromes respiratórias e Covid-19”, alerta o Boletim

Maranhão em platô 

De uma forma geral, o Boletim observa que nenhum dos 27 estados apresenta sinal de crescimento na tendência de longo prazo. Deles, 23 apresentam sinal de queda. O Maranhão é o único que ainda não registrou início de queda. Embora tenha interrompido a tendência de crescimento no final de março, ele vem mantendo um platô desde então. O Espírito Santo, que se encontrava na mesma situação, agora apresenta um sinal de queda na tendência de longo prazo. 

O boletim destaca a importância de analisar esses dados junto à taxa de ocupação hospitalar, para avaliar se a queda é de fato uma redução na ocorrência de casos de SRAG ou reflexo do limite de novas internações por conta da falta de leitos. “Além disso, se faz necessária a manutenção na queda de novos casos por um período mínimo de duas semanas para que ela possa se refletir em redução na ocupação de leitos”, diz o texto. “Portanto, é recomendável cautela quanto a eventuais relaxamentos das medidas de distanciamento enquanto a redução não for suficiente para uma retomada segura às atividades”, acrescenta. No caso de Mato Grosso, foi identificada uma diferença significativa entre as notificações de SRAG registradas no sistema nacional Sivep-Gripe e os registros apresentados no sistema próprio do estado. 

Capitais também detêm queda 

O boletim mostra que também algumas capitais que até então apresentavam sinal de queda passam a dar sinais de possível interrupção dessa tendência ainda em patamares extremamente elevados. Boa Vista, Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Macapá, Manaus, Natal e Teresina se mantiveram nessa situação. A essas capitais soma-se agora também Curitiba. 

Mas, em geral, nenhuma das 27 capitais apresenta sinal de crescimento na tendência de longo prazo, embora Recife dê sinal moderado de crescimento na tendência de curto prazo. Dentre todas as capitais, 21 dão sinal de queda a longo prazo. 

O Rio de Janeiro mantém o sinal de estabilidade nas tendências de longo e curto prazo. Já São Luís, que até a última atualização ainda não havia registrado queda, dá esse sinal na tendência de longo prazo, embora seja uma queda tímida e a tendência de curto prazo sugira nova estabilização em valor ligeiramente abaixo do pico recente. Vitória, por sua vez, passa a apresentar sinal de queda nas tendências de longo e curto prazo. 

De 2020 até agora, foram 1.073.560 casos reportados no país. Destes, 364.973 são referentes a 2021, sendo 246.010 (67,4%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 40.679 (11,1%) negativos, e ao menos 45.033 (12,3%) aguardando resultado. Dentre os positivos, 0,9% foram relativos ao vírus sincicial respiratório (VSR) e 96,0% ao Sars-CoV-2 (Covid-19).  

Já em relação a 2020, foram 708.587 casos, sendo 411.234 (58,0%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 213.721 (30,2%) negativos, e ao menos 42.658 (6,0%) aguardando resultado. Dentre os casos positivos, 0,3% eram relativos à Influenza A, 0,1% à Influenza B, 0,3% ao VSR, e 98,0% ao Sars-CoV-2. Levando em conta todos os registros desde 2020, a positividade é de 61,2%, sendo 97,3% dos casos positivos associados a Sars-CoV-2. 

O total de registros de hospitalizações ou óbitos no Sivep-gripe, independente de sintomas, apresenta estimativa atual de 1.895.857. O boletim alerta que, em momentos de superlotação hospitalar, pode haver subnotificação, uma vez que os casos de SRAG estão associados à internação. 

Em relação às mortes por SRAG, desde 2020 foram reportadas 268.262. Destas, 90.218 são óbitos referentes a casos deste ano, sendo 77.048 (85,4%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 5.935 (6,6%) negativos, e ao menos 2.443 (2,7%) aguardando resultado. Dentre os positivos, 0,1% para VSR e 99,1% Sars-CoV-2. 

Retorno de vírus 

O boletim chama ainda a atenção para o ressurgimento de vírus que andavam sumidos, como o vírus sincicial respiratório. Embora em índices muito abaixo do total de casos semanais de SRAG, os pesquisadores têm observado um aumento no número de casos confirmados de VSR: foram cerca de 200 novos casos semanais entre 14 de fevereiro e 27 de março. Esse aumento foi registrado principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal nessas semanas, mas também contou com acúmulo de casos no Amazonas e Bahia nas primeiras semanas de janeiro. 

“Depois de março do ano passado, com as medidas de distanciamento, os demais vírus respiratórios sumiram em relação à SRAG. Com a mudança de comportamento na virada do ano, que levou à explosão de casos de Covid-19, é como se o Sars-CoV-2 tivesse trazido outros vírus na mala”, explica Marcelo Gomes. “A maior interação abriu a porta para outros vírus.” 

O VSR leva muitas crianças à internação e frequentemente é confundido com a Covid-19 por ter sintomas semelhantes, como dor de garganta, febre, dificuldade para respirar. Só o exame laboratorial é capaz de distinguir. Para os casos de SRAG em crianças pequenas sem diagnóstico positivo para Covid-19, o VSR acaba sendo o suspeito natural nesse contexto.

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