28/09/2012
O programa Memória do Mundo, da Unesco, reconheceu mais um acervo da Fiocruz como patrimônio relevante para a história da Humanidade. Depois de fazer o mesmo com os fundos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, em 2007 e em 2008, respectivamente, desta vez os negativos de vidro do Fundo Instituto Oswaldo Cruz foram nominados pelo organismo das Nações Unidas. O conjunto é formado por 7.680 itens, uma parcela dos documentos iconográficos do Fundo IOC, que abrange cerca de 20 mil peças sob a guarda da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). A decisão foi anunciada pelo Comitê Nacional do Programa, que escolheu dez das 36 propostas apresentadas, depois de reunião no Arquivo Nacional, em 19 e 20 de setembro.
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Cais original que servia ao Instituto de Manguinhos. Na época, a Baía de Guanabara estendia-se até a região onde posteriormente seria construída a Avenida Brasil (Fotos: Acervo COC/Fiocruz) |
Produzidos por J. Pinto, fotógrafo contratado por Oswaldo Cruz – um apaixonado por fotografia –, e que permaneceria na instituição de 1903 a 1946, os negativos de vidro apresentam em múltiplas imagens a origem do instituto, em cenas cotidianas das atividades de produção de soros e vacinas, de pesquisa e ensino em medicina experimental. Integram também o conjunto as imagens produzidas durante as expedições pioneiras de cientistas de Manguinhos, às regiões Nordeste, Norte e Centro-oeste, incumbidos dos primeiros levantamentos das condições de vida, trabalho e saúde de populações do interior do país.
Divulgadas em relatórios oficiais e nas Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, o principal periódico da área biomédica na América Latina, os registros produziram impacto na formulação e concretização de políticas de saúde empreendidas pelo governo federal. São exemplos: a elaboração do Plano de Defesa da Borracha, solicitado pela Superintendência de Defesa da Borracha; o levantamento de regiões abrangidas pela Inspetoria de Obras Contra as Secas; a fundação da Liga Pró-Saneamento, que deu origem ao Departamento Nacional de Saúde Pública, criado em 1920.
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Ezequiel Dias (à esquerda) com outro pesquisador do instituto e funcionários nas antigas instalações onde ficavam os primeiro laboratórios, em 1904 |
Com trabalhos também dos fotógrafos João Stamato, Cipriano Segur, José Teixeira, no âmbito das expedições científicas realizadas pelos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), entre 1911 e 1913, o acervo de negativos de vidro revela o início da pesquisa biomédica e da medicina experimental produzidas de modo pioneiro no Brasil, bem como um inventário histórico-sociológico de imagens até então inéditas das regiões Norte e Nordeste. Imagens do sertão nordestino e da região amazônica apresentam um Brasil até então desconhecido causando grande impacto junto à comunidade científica brasileira, o que também ajudou a contribuir para a institucionalização de políticas públicas contra os problemas sanitários que grassavam entre as populações do interior do país.
Além de iniciar a digitalização dos negativos de vidro do fundo IOC, a Casa de Oswaldo Cruz concluiu o mesmo processo referente aos negativos flexíveis, um conjunto de 13 mil itens dos seus arquivos. Desta forma o acesso ao usuário será feito de maneira mais rápida, garantindo ainda a preservação dos originais, que não precisarão ser manipulados constantemente. A expectativa é de que o público possa fazer consultas dos acervos pela internet já partir de meados do próximo ano.
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Carnaval em Manaus, em 1913 |
Publicado em 27/9/2012.