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17/05/2022

Fiocruz e MSF debatem pandemia e próximas emergências

Ana Paula Blower e Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Saúde)


Soluções encontradas pela Fiocruz para determinados problemas de saúde no Brasil, inclusive durante a pandemia, poderiam servir de base para respostas em outros países. Essa foi uma das conclusões de um grupo de representantes da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) que visitou, nesta segunda-feira (16/5), a Fundação, onde debateu assuntos como produção e acesso a vacinas e medicamentos, efeitos da Covid-19 na saúde pública e global, e os desafios para reduzir desigualdades em possíveis novas emergências em saúde. 

Nos encontros, além do debate, foram apresentadas as principais linhas de atuação da Fiocruz (foto: Pedro Paulo Gonçalves)

 

Ao longo do dia, foram realizadas reuniões no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e no Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz) com pesquisadores e diretores da Fundação. Nos encontros, além do debate, foram apresentadas as principais linhas de atuação da Fiocruz. Entre as intenções de MSF com a visita, está o mapeamento de como os países estão se preparando para pandemias futuras, trazendo como colaboração o que eles avaliam em seus projetos e as preocupações da organização do ponto de vista humanitário.

Após conhecer um pouco mais sobre a Fiocruz, Maria Guevara, secretária médica internacional de MSF, afirmou ter identificado campos em que MSF e a Fundação podem estabelecer parcerias. “A Fiocruz tem esses diferentes pilares. Podemos trabalhar juntos em muitas áreas, como com Bio-Manguinhos e com a pesquisa do Observatório de Saúde Global [do Cris]”, disse, acrescentando: “Temos princípios semelhantes, como as formas como tentamos responder às desigualdades do mundo. Quando se tem valores similares, podemos buscar soluções juntos. [Isso pode proporcionar] uma bela cooperação”.

Guevara veio acompanhada por Nathalie Ernoult, vice-diretora de análise e advocacy da Campanha de Acesso à Medicamentos; de Felipe de Carvalho, coordenador regional da Campanha de Acesso; de Jennifer Marx, diretora da unidade médica brasileira; e de Clara Alves, especialista em assuntos humanitários e advocacy da organização. Pela manhã, eles se reuniram em Bio-Manguinhos com o diretor da unidade, Mauricio Zuma, o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico, Sotiris Missailidis, e a gerente do projeto de Desenvolvimento Tecnológico da vacina de mRNA para Covid-19, Patrícia Neves. 

Na ocasião, foi apresentado o portfólio da unidade e suas linhas de atuação em inovação, dando ênfase ao desenvolvimento da vacina mRNA, projeto que servirá de hub da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América Latina e que chamou a atenção da comitiva. Ao falar sobre esse e outros projetos e as parcerias desenvolvidas por Bio-Manguinhos para o enfrentamento da Covid-19, Zuma destacou: “Nós criamos boas perspectivas com as organizações internacionais e com a OMS e, agora, estamos tentando organizar nosso portfólio para melhor contribuir com as necessidades internacionais. É muito oportuno vocês estarem aqui, para que possam conhecer melhor nosso portfólio e projetos, como a vacina mRNA, que abre possibilidades para outros fitofármacos. Estamos numa posição muito boa para discutir colaborações futuras e como podemos apoiar programas internacionais”, disse Zuma. 

Nathalie Ernoult ressaltou que MSF “luta contra a dificuldade de acesso às vacinas”. Sobre isso, Zuma enfatizou a necessidade de se apoiar a produção local de imunizantes e que o desenvolvimento da vacina de mRNA tem o compromisso de transferência de tecnologia. “Precisamos de produção regional e estamos tentando cumprir esse papel na América Latina”, afirmou o diretor. 

Ao longo do dia, também foi realizada reunião em Bio-Manguinhos/Fiocruz (foto: Pedro Paulo Gonçalves)

 

Ernault disse ter ficado impressionada com o modelo público de desenvolvimento de inovação apresentado pela Fiocruz, assim como com o seu compartilhamento, o que poderia ser uma possível área de colaboração. “Acredito que haja muito que possamos fazer para apoiá-los em nível global.” A vice-diretora de Análise e Advocacy da Campanha de Acesso do MSF também identificou questões comuns em que tanto a Fiocruz quanto o MSF buscam respostas. Ela destacou ainda que iniciativas desenvolvidas pela Fundação poderiam inspirar outros países.

Efeitos da pandemia

Em reunião com a pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), o grupo conversou sobre os efeitos da pandemia, como em doenças crônicas, e os desafios para reduzir desigualdades no acesso a tratamentos e diagnóstico, entre outros assuntos. A pneumologista também citou estudos em andamento dos quais faz parte, como sobre tratamento e vacina para Covid-19, e suas colaborações com a OMS. 

Eles debateram sobre os protocolos de tratamento para tuberculose no Brasil e nos países onde MSF atua. “É muito importante para nós diminuir o tempo de tratamento, assim como reduzir o sofrimento das pessoas que passam por ele”, afirmou Dalcolmo. A pesquisadora destacou ainda como a pandemia impactou nos diagnósticos de casos de tuberculose no país, já que muitos serviços de atendimento à doença não funcionaram ou funcionaram de forma irregular nesse período.

À tarde, o grupo teve uma série de reuniões com integrantes de diferentes institutos da Fiocruz, para uma visão mais detalhada da atuação da Fundação em diferentes partes do país e sua avaliação sobre a situação global. Christovam Barcellos, coordenador do Observatório Nacional de Clima e Saúde, contou como o grupo estabeleceu áreas de sentinela em cinco regiões, que dão alerta sobre doenças como zika, e uniu pesquisas numa tentativa de desenvolver alertas precoces. Ele destacou ainda a importância da participação da sociedade civil na coleta de informações. 

Barcellos chamou a atenção sobre como doenças tropicais endêmicas acabam se combinando com doenças crônicas não transmissíveis, em uma mistura complexa, e alertou para a vulnerabilidade das populações nas zonas de fronteira, como entre o Amapá e a Guiana Francesa. O grupo de MSF se mostrou interessado em Saúde Planetária e em como as mudanças climáticas vêm impactando a saúde.

Com pesquisadores do Cris/Fiocruz foram discutidos aspectos sobre o Tratado de Pandemias, o G-20 e as mudanças climáticas e a saúde. O grupo se mostrou interessado na análise sobre a atuação do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em relações às vacinas e sobre a situação na Ásia. Na ocasião, Maria recebeu de Pedro Burger, vice-coordenador do Cris/Fiocruz, a mais recente edição do livro Diplomacia da Saúde: respostas globais à pandemia, publicado pelo centro em dezembro passado.

Na reunião com Christoph Milewski, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz), foram discutidas inovações para contextos humanitários. Jennifer Marx quis saber mais sobre ferramentas digitais que possam ser usadas ou adaptadas para vigilância e diagnóstico de doenças, como malária. Milewski citou como exemplo um aplicativo que, a partir de perguntas, fazer uma primeira triagem para saber se os sintomas de determinado paciente podem estar relacionados à dengue ou a outra doença. Segundo o diretor do ICTB, há ao menos cinco apps que poderiam ser usados ou adaptados para o uso por MSF. “Precisamos ver quais as necessidades de MSF e como podemos ajudar”, pontuou. O grupo se despediu mostrando interesse em novas reuniões.

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