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24/05/2012

Aniversário da Fiocruz começa com celebração dos programas de inovação tecnológica

Danielle Monteiro e Mara Figueira


Na abertura das comemorações pelos 112 anos da Fiocruz, na manhã desta quinta-feira (24/5), ocorreu no auditório do Museu da Vida uma mesa-redonda em celebração aos dez anos de duas iniciativas da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência: o Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Insumos para a Saúde (PDTIS) e do Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública (PDTSP). O evento contou com a presença do presidente da Fundação, Paulo Gadelha, da vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Claude Pirmez, do gerente de Articulações Corporativas do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alfredo Laufer, e do médico e ex-reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Naomar Monteiro de Almeida, também membro do Conselho Superior da Fiocruz. As comemorações pelo aniversário da Fundação continuam nesta sexta-feira (25/5), com uma série de atividades [veja aqui].


 Abertura da mesa-redonda sobre inovação tecnológica (Foto: Peter Ilicciev)

Abertura da mesa-redonda sobre inovação tecnológica (Foto: Peter Ilicciev)





A vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Claude Pirmez, abriu o evento fazendo uma breve retrospectiva sobre os dez anos do PDTIS e do PDTSP. “Evoluímos muitíssimo ao longo dessa década e é uma alegria enorme verificarmos hoje todos os resultados que foram alcançados”, disse ela, lembrando que existem atualmente 22 patentes geradas no PDTIS, iniciativa que envolve 400 pesquisadores, tecnólogos e estudantes e que conta com 41 projetos ativos no momento (em dez anos, o total chega a 105), e que o PDTSP investiu cerca de R$ 13 milhões em uma década com o propósito de apoiar a inovação tecnológica, transformando ideias, processos e abordagens para atender a necessidades no campo da saúde pública. Segundo Claude Pirmez, PDTIS e PDTSP levaram à transformação da cultura institucional, contribuindo para o entendimento do que é realmente fazer desenvolvimento tecnológico.


“Pensar essa trajetória de dez anos é pensar como essas iniciativas tiveram um sentido de pioneirismo”, declarou o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Para ele, PDTIS e PDTSP trouxeram mudanças profundas na maneira de pensar as interações das participações público-privadas, geraram experimentação e um avanço na maneira de trabalhar em rede. Como havia sido mostrado na apresentação da vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Claude Pirmez, o PDTSP, com o uso de uma ferramenta diferenciada e apoio da Diplan, mostrou como formar uma rede na Fiocruz que realmente trabalhe de maneira integrada, com seu projeto PDTSP-Teias, que tem o objetivo de desenvolver e avaliar tecnologias que contribuam para a gestão de Territórios Integrados de Atenção à Saúde.



Gadelha citou ainda o importante papel das plataformas tecnológicas. “A sua construção transbordou muitas vezes dos próprios objetivos mais específicos dos programas de desenvolvimento tecnológico, principalmente no caso do PDTIS, e passou a ser também instrumentos de suporte e desenvolvimento de uma série de outras iniciativas no campo da inovação”, disse Gadelha. Hoje, o suporte dado pela rede de plataformas do programa envolve dez unidades da Fiocruz, 200 profissionais na sua operação e 1.069 usuários. Para se ter uma ideia, em 2011, 153 mil amostras foram processadas.


O presidente da Fundação parabenizou os trabalhadores da Fiocruz que tornam os resultados do PDTIS e do PDTSP possíveis e lembrou que comemorar os dez anos de ambas as iniciativas também é refletir sobre elas. “A ideia de celebrar está sempre associado com a ideia de repensar, reconstruir e de se reinventar. Hoje os termos que o país coloca para essa área são muito diferentes daqueles de dez anos atrás, mas vejo que essa reflexão vai nos ajudar bastante na prospecção e na projeção de futuro que a Fiocruz precisa estar sempre atenta e acompanhando”, concluiu Gadelha.


O professor Naomar Monteiro discutiu a importância da inovação na formação de profissionais em saúde pública e chamou atenção para os problemas na conjuntura política e social do país que comprometem a formação de recursos humanos, entre eles, o aumento das iniquidades sociais, muito presentes tanto na área de educação quanto no setor de saúde. “A redução da desigualdade econômica em nosso país não veio acompanhada de aumento das equidades sociais”, enfatizou. Segundo ele, além de não garantir à sociedade serviços públicos de qualidade, com acesso universal e equidade, o Estado brasileiro é promotor de iniquidades sociais. Naomar explicou que somente uma minoria social no país se beneficia de serviços privados de melhor qualidade e com renúncia tributária e tem acesso à alta complexidade pública de melhor qualidade nas áreas de saúde e educação; enquanto a maioria menos abastada, que não se beneficia de incentivos fiscais – e, por isso, é a que financia o Estado - tem acesso somente aos serviços públicos de saúde e ensino de menor qualidade. “As desigualdades sociais do sistema de educação e de saúde do Brasil são dois efeitos perversos que se cruzam e se inter-alimentam”, destacou.


Naomar criticou o perfil predominante do ingresso no ensino superior na área de saúde, segundo ele, caracterizado por pouca capacidade de trabalho em equipe, fraca formação humanística, pouco comprometimento com aspectos políticos e sociais da saúde, resistência a mudanças e fraco conhecimento da realidade situacional, ambiental e das condições de vida das comunidades. “Embora as diretrizes curriculares nacionais em saúde sejam boas, o perfil predominante do ingresso no ensino superior é precário”, afirmou. O professor também fez críticas ao modelo educacional nacional, que, para ele, é marcado pelo elitismo, pela formação tecnológico-profissional culturalmente empobrecida e pela dissonância da formação universitária com a conjuntura contemporânea. Para enfrentar o que, segundo ele, constitui um dos problemas no ensino superior em saúde - pouca maturidade para exercício da profissão - Naomar propôs a oferta de bacharelados interdisciplinares pelas universidades brasileiras, que se trata de uma nova modalidade de curso superior, já adotada por algumas instituições de ensino, que não requer do aluno a escolha de uma carreira específica no começo da faculdade, exigindo que o estudante opte somente pela sua área de interesse, como ciência & tecnologia, por exemplo.


Já Alfredo Laufer falou sobre o programa Coppe-Idea, desenvolvido pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ para elaborar empreendimentos tecnológicos que unam grupos de pesquisa da universidade a empresas, visando o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços para a sociedade. “Vim aqui para mostrar a experiência da UFRJ quanto à transformação do conhecimento em produtos e serviços. Essa é uma grande oportunidade de trocarmos experiências e compartilharmos problemas”, afirmou. Segundo ele, para atrair empresas a seu parque tecnológico, é preciso que a instituição priorize projetos estruturantes e com maturidade tecnológica para serem realizados no prazo estabelecido, além de definir lideranças, fixar metas, analisar os resultados das entrevistas com as empresas e estabelecer prazos. No encontro, Laufer também fez apresentação sobre o Coppe Global, documento criado a partir do Coppe-Idea que sugere uma série de projetos estruturantes sobre temas que constituem gargalos para o desenvolvimento tecnológico em áreas setoriais chaves no Brasil, entre elas, a engenharia da saúde.



Publicado em 24/5/2012.

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