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28/02/2023

Pesquisa analisa caminhos para a melhoria das residências em saúde no Brasil

Marcella Vieira (Icict/Fiocruz)


A formação de especialistas é estratégica para a qualidade dos serviços de saúde e para a atenção às necessidades da população. As residências em saúde formam especialistas nas diversas áreas do conhecimento, atuando no desenvolvimento de profissionais com capacidades técnicas e éticas que possam trabalhar com competência em equipes multiprofissionais de saúde. A Fiocruz vem empreendendo, ao longo dos anos, esforços na produção de conhecimentos sobre residências em saúde, com a perspectiva de subsidiar a melhoria das condições de oferta, a governança e a gestão de programas. Iniciada em maio de 2022 e coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), a pesquisa Concluintes e egressos como fontes de dados para avaliação de programas de residência integra o conjunto de ações da instituição com o objetivo de compreender e traçar um panorama sobre as residências em saúde no país. 

Coordenado pela médica e doutora em Educação Adriana Cavalcanti de Aguiar, pesquisadora do Icict/Fiocruz, o estudo enfoca a perspectiva dos concluintes e egressos de programas de residência no Brasil, com apoio de coordenadores de programas e outras lideranças, tendo como objetivo geral analisar suas experiências e percepções sobre os programas de residência e suas consequências para as suas práticas como especialistas. Desde seu início, a pesquisa também busca identificar necessidades de informação para o monitoramento e avaliação de programas, do ponto de vista dos atores envolvidos, incluindo lideranças e estudiosos da residência. Também fazem parte dos objetivos do estudo fomentar a cultura de avaliação nas residências; realizar um estudo transversal com egressos desses programas, incorporando variáveis sobre a formação especializada e o trabalho em saúde. 

Após a aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (CEP-EPSJV/Fiocruz), a equipe de pesquisa deu início, em  novembro de 2022, à coleta de dados quantitativos, por meio de formulário eletrônico destinado a egressos – profissionais que tenham concluído com êxito uma residência médica ou em área profissional no Brasil. Em paralelo, foi iniciada, em janeiro de 2023, a coleta de dados qualitativos, desenvolvida através de entrevistas com informantes-chave e da realização de grupos focais com residentes concluintes e egressos. A coleta de dados qualitativos começou na Região Sul, e teve sequência na Região Nordeste, no mês de fevereiro, contando com apoio da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), instituição que faz parte do desenvolvimento do estudo. Além da ESP/CE, a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) participa do apoio e divulgação do projeto. 

“A Fiocruz, como instituição de âmbito federal, tem um grande potencial de contribuição na formulação de políticas públicas que favoreçam as residências, e oferece programas de residência médica, uni e multiprofissional em várias áreas do conhecimento. As parcerias vêm sendo fortalecidas, no âmbito dos próprios programas da Fiocruz, especialmente pelo estabelecimento de seu Fórum de Coordenadores de Programas de Residência. No caso da nossa pesquisa, importante parceria está se desenvolvendo com a Escola de Saúde Pública do Ceará, que tem muita experiência com o ensino de residentes baseado em competências e com a educação permanente em saúde”, afirma a coordenadora da pesquisa.

Período 2021-2022 concentra maior número de artigos

Mesmo em curso, com o formulário aberto para o preenchimento de egressos, a pesquisa já apresenta alguns resultados preliminares. Um desses resultados diz respeito à análise da produção científica indexada em bases de dados bibliográficas acerca de egressos de residências em saúde no país. A equipe realizou uma revisão de literatura com busca sistematizada sobre o tema, nas seguintes bases de publicação: MEDLINE (via Pubmed), LILACS (via Biblioteca Virtual em Saúde – BVS), SCIELO, EMBASE, SCOPUS e Web of Science. 

Ao analisar os artigos publicados nos últimos 40 anos (37 artigos no total), o estudo mostrou que o período de 2021 até abril de 2022, com 16 artigos sobre o tema, supera todas as décadas anteriores. De 2011 a 2020 foram 14; dois artigos saíram entre 2001 e 2010; somente um foi publicado na década de 1991 a 2000 e quatro artigos de 1981 a 1990. O site do projeto lista os 37 artigos analisados.

Em relação ao tipo de programa, dos 37 artigos levantados, 27 (73%) estudaram egressos de residências médicas, enquanto 10 (27%) pesquisaram egressos de outras residências (uniprofissional, multiprofissional ou em área profissional de saúde). Embora os estudos com egressos de residências médicas sejam mais frequentes, cabe lembrar que a regulamentação das outras residências é muito mais recente.

Outro resultado obtido foi uma nuvem de palavras referente aos descritores de assuntos e palavras-chave dos artigos relacionados aos egressos. Expressões como educação médica, internato e residência, residência médica e atenção primária à saúde são algumas das que se destacam. “Esses resultados indicam um interesse crescente das lideranças das residências na obtenção de informações sobre o que acontece nos programas e também nos destinos dos concluintes após a especialização, de modo a poder suprir lacunas formativas e melhorar a experiência dos residentes, à luz dos desafios do mundo do trabalho”, afirma Adriana Aguiar. 

A conclusão do projeto está prevista para janeiro de 2024. Os produtos da pesquisa incluirão relatório final e elaboração de artigos científicos, além de apresentações para as comunidades de interessados no aperfeiçoamento das residências. “Com os resultados da pesquisa, esperamos contribuir para fortalecer uma agenda propositiva que sensibilize as instâncias de formulação de políticas, no sentido de um enfrentamento sistemático e abrangente de dificuldades que incidem sobre a formação especializada, valorizando as estimativas sobre necessidades de especialistas, desenvolvimento de currículos e formação de preceptores, trabalhos em rede, e avaliação de programas, valorizando as residências e a aprendizagem nos serviços de saúde. Também gostaríamos de estimular outros grupos a pesquisarem aspectos estratégicos do planejamento, oferta e avaliação das residências”, ressalta a coordenadora. 

Além do site, a pesquisa Concluintes e egressos como fontes de dados para avaliação de programas de residência conta também com uma página no Instagram. O formulário - destinado aos egressos - está aberto para o preenchimento de profissionais que já concluíram os programas de residência em saúde de todo o Brasil. As informações obtidas são confidenciais e não há meio de identificar os respondentes, garantindo o anonimato dos participantes.

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