27/03/2023
Como fazer pesquisas com resultados voltados para a prática de saúde? Como identificar os locais mais sensíveis para realizar intervenções médicas e sanitárias? Como criar modelos de previsão de desastres e emergências através de dados precários? Essas e muitas outras experiências foram debatidas entre integrantes do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) e da organização Médicos sem Fronteiras (MSF), em reunião realizada no dia 21 de março. O encontro reuniu 10 representantes - cinco de cada instituição.
Equipes do Icict/Fiocruz e da MSF conversam sobre iniciativas e parcerias em saúde pública (foto: Marcella Vieira, Icict/Fiocruz)
Christovam Barcellos, Diego Ricardo Xavier, Heglaucio da Silva Barros, Renata Gracie e Vanderlei Matos, pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde, representaram o Icict/Fiocruz e receberam os cinco profissionais da MSF. A equipe da organização, que incluiu epidemiologistas, médica, antropólogo e assessora de comunicação, integra a unidade intitulada LuXOR, projeto baseado em Luxemburgo (Europa) e responsável pela área de pesquisa operacional de MSF.
O líder da equipe LuxOR, Amrish Baidjoe, fez uma apresentação com informações detalhadas sobre a organização e o projeto. Ele listou ações e atividades sobre temas como: intervenção de emergência médica humanitária; conflitos, desastres, doenças e surtos; pilares e diretrizes de MSF; mudanças e transformações nas respostas humanitárias; inteligência em saúde; ações de vigilância e monitoramento; dados e informações.
Além de perguntas sobre as estratégias e ações de intervenção médica utilizadas pela MSF, a pesquisadora e os pesquisadores do Icict/Fiocruz aproveitaram a ocasião para falar sobre casos bem-sucedidos, monitoramento de informações, características do Observatório de Clima e Saúde e iniciativas conjuntas com outros órgãos. "Aqui no Brasil, temos parcerias com outras instituições públicas como IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] e Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], que nos dão acesso a uma série de dados. Dessa forma, usamos a questão da saúde via Fiocruz para nos unir a esses outros órgãos em ações e políticas específicas", explicou Diego Xavier. No caso do IBGE, a parceria com o Icict/Fiocruz se deu em duas situações de emergências recentes: a tragédia de Brumadinho, em janeiro de 2019, e a pandemia de Covid-19, iniciada em março de 2020.
Renata Gracie perguntou à equipe LuxOR como é feito o monitoramento das informações e dos surtos de doenças por parte da MSF. "Diante de tantas situações de emergência, quais são os critérios para vocês escolherem aquele determinado lugar para fazer uma intervenção? Essa intervenção engloba outras políticas públicas além do atendimento médico?", indagou a geógrafa.
A equipe de Médicos sem Fronteiras destacou que o momento de intervenção é voltado mais diretamente para o atendimento médico, uma vez que é focado na emergência. Porém, após os períodos de intervenção, as atividades de capacitação, treinamentos e apoio na formulação de políticas públicas podem acontecer e desempenhar um papel muito importante. Segundo os representantes da organização, é fundamental estabelecer conversas e parcerias com instituições como a Fiocruz para que se possa aplicar os resultados de pesquisas em contextos práticos de saúde pública, beneficiando as populações atendidas.
Ao final da reunião, foram traçadas algumas estratégias de cooperação, como a troca de dados de saúde, a identificação de áreas de risco climático, bem como a troca de tecnologias, principalmente no desenvolvimento de sistemas de informação e sistemas de alerta. A curto prazo, os grupos das duas instituições definiram a crise no Território Indígena Yanomami como prioridade para levantamento de dados e colaboração na logística de ações de saúde.