17/05/2023
Everton Lima, com colaboração Maria Luiza La Porta (IFF/Fiocruz)
O dispositivo médico TempoCerto é um sistema analógico que detecta eventos físicos (estímulos visuais, sonoros) e motores/comportamentais (acionamento manual de botões e voz). É uma solução muito simples, com precisão absoluta e a versatilidade praticamente ilimitada. Na medicina, o TempoCerto muda completamente a lógica atual de realização e análise dos exames de Potencial Relacionado ao Evento (PRE), por isso, pode ser considerada como uma inovação disruptiva. Gestado no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), acolhido no Sistema Gestec-NIT e no Programa de Empreendedorismo, ambos da Fiocruz, possui como inventores, os pesquisadores do IFF/Fiocruz, Dimitri Marques Abramov, Paulo Ricardo Galhanone, Marcos Antônio Dias Lima e Carlos Henrique Quintanilha Martins.
TempoCerto propiciará acessibilidade a recursos de neuroavaliação, hoje dificilmente alcançados a partir do SUS (foto: IFF/Fiocruz)
“Conectamos o TempoCerto ao Eletroencefalograma (EEG), exame realizado no Laboratório de Neurologia do IFF/Fiocruz que detecta e registra a atividade elétrica dessas células sincronizadas, para registrar no sinal cerebral o momento de quando o evento ocorreu (através de pequenas ondas quadradas chamadas de triggers). Depois, o programa lê o sinal de EEG e o de trigger, e extrai do sinal os PRE, tendo os momentos de sua ocorrência como referência para o processo”, explica Dimitri.
O TempoCerto propiciará acessibilidade a recursos de neuroavaliação, hoje dificilmente alcançados a partir do Sistema Único de Saúde (SUS). “Publicamos um texto na The Lancet, revista de neurologia mais importante do mundo, sobre o problema do acesso aos exames de ressonância em países emergentes, e que os potenciais evocados poderiam ser uma alternativa, apesar de não substituírem as ressonâncias. Neste contexto, sem dúvidas o TempoCerto poderia “reaquecer” o mundo da neurofisiologia, propiciando com facilidade e baixíssimo custo o desenvolvimento de novas pesquisas sobre as aplicações dos potenciais evocados na avaliação clínica. O IFF, enquanto Instituto Nacional, terá a possibilidade de protagonizar a capilarização do diagnóstico neurofisiológico pelo interior do país com o TempoCerto, assistindo esse diagnóstico através de recursos como a telemedicina”, avalia o pesquisador.
Concessão de Patente
A gestão da inovação no IFF/Fiocruz vem sendo realizada pelo NIT, que atua dentro do Sistema Gestec-NIT. “A Fiocruz decidiu solicitar patente do TempoCerto nos Estados Unidos, China, Europa e Índia, além do Brasil. Já obtivemos patente de invenção nos EUA e China”, conta Dimitri.
Segundo a Lei 9.279/96, quando uma patente é concedida a um invento significa que este atende aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. “A patente é um dos recursos utilizados pela Fiocruz para resguardar a propriedade intelectual das invenções criadas na instituição e pelos profissionais que nela trabalham. Evita que a invenção seja copiada, produzida, utilizada ou comercializada sem as devidas autorizações. A patente é uma ferramenta que aumenta as chances de que as invenções idealizadas e desenvolvidas pelos profissionais se tornem inovações, isto é, sejam disponibilizadas à sociedade. Adicionalmente, podem permitir um retorno financeiro aos investimentos realizados durante o processo de desenvolvimento de tecnologias. Mas, é sempre bom lembrar que a patente não é o fim por si só, e sim uma etapa dentro do processo de Pesquisa Desenvolvimento e Inovação”, informa a responsável pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IFF/Fiocruz, Gisele de Mendonça.
A concessão de uma patente é um processo que envolve vários atores e, no Brasil, leva alguns anos. O NIT do IFF/Fiocruz assessora os projetos desde o momento no qual o profissional tem a ideia e o acompanha durante todo o processo de obtenção da patente da invenção. “O caso do TempoCerto não é diferente, o NIT-IFF atuou em todas as etapas do processo de obtenção de patentes, isto é: no estudo de viabilidade patentária para a constatação do ineditismo e inventividade da tecnologia; na decisão da Fiocruz em formalizar a proteção por patentes no Brasil e no exterior; na decisão realizada pela Comissão de Patente da Fiocruz; na redação do pedido de patente; nos depósitos dos pedidos junto aos órgãos de propriedade intelectual; bem como nas respostas às análises realizadas durante o exame de mérito por tais órgãos. Pode parecer que essas etapas são meramente formais-burocráticas, todavia é importante destacar que envolvem orientações estratégicas e a necessidade de um diálogo próximo entre o NIT e os profissionais que estão à frente do desenvolvimento da tecnologia”, esclarece a profissional da equipe NIT-IFF, Alicia Viviana Pinto.
A atuação do NIT-IFF vai além das ações para a obtenção das patentes. “Assessoramos os profissionais para que suas ideias sejam efetivamente transformadas em inovação. O NIT-IFF vem contribuindo na definição da gestão estratégica da tecnologia para que o produto TempoCerto esteja ao alcance da sociedade, em outras palavras, esteja disponível no SUS. Neste sentido e, uma vez que a Fiocruz não conta com planta industrial para produzir o TempoCerto, duas linhas de ação estão sendo levadas a cabo. A primeira consiste na oferta da tecnologia para empresa, por meio do licenciamento da patente. A segunda é que, através da articulação do NIT-IFF com o recém-criado Programa de Empreendedorismo da Fiocruz, o projeto passou a fazer parte deste, como um de seus casos pilotos, com o objetivo de a tecnologia ser produzida através de uma Spin-off (empresas nascentes de base tecnológica visando a exploração de conhecimento ou propriedade intelectual gerados na Fiocruz). É com satisfação que o NIT-IFF constata o avanço do Projeto TempoCerto, e permanecerá atuante para que o produto chegue o quanto antes e de forma acessível à sociedade”, declara Gisele.
Paulo Ricardo Galhanone e Dimitri Abramov são os inventores do TempoCerto, que foram auxiliados por Marcos Antônio Dias Lima e Carlos Henrique Quintanilha Martins no desenvolvimento do material para patente. “Inicialmente, Maria Cristina Rio esteve conosco nos primeiros passos enquanto trabalhava no NIT. Depois, Gisele de Mendonça e Alicia Viviana Pinto continuam através do NIT a apoiar nossa empreitada. Hoje, dois colegas importantes estão conosco no projeto, Daniel de Souza e Silva e Igor Telles, ambos médicos experientes no assunto”, agradece Dimitri.