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19/04/2024

Estudo visa elaborar linha de cuidado no SUS para jovens e adolescentes

Eric Andriolo (Agenda Jovem Fiocruz)


Em parceria com a Agenda Jovem Fiocruz (AJF), as secretarias estaduais de Saúde e Juventude do Ceará apresentaram (8/4) os resultados da prospecção de uma política de cuidado para jovens e adolescentes, que compreendem 30,6% da população cearense, a maioria dos quais têm entre 15 e 29 anos (23,5%). O estudo é a primeira etapa na elaboração de uma linha de cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS). Linhas de cuidado são uma estratégia do SUS para estruturar o percurso de um tipo específico de paciente na Atenção Primária. Nesse caso, o público-alvo é a população jovem e adolescente.

“Jovens têm necessidades distintas de acordo com a faixa etária e outros marcadores sociais. Por exemplo, nem todo jovem é adolescente”, explica o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho. “Apesar de sofrerem vários agravos à saúde, pessoas jovens apresentam dificuldade em acessar os serviços. Por isso, uma linha de cuidado pode oferecer um melhor acolhimento a essa população. Isso requer alinhamento entre pesquisa e gestão, o que abre muitas possibilidades de adaptação ao território”.

A proposta de uma linha de cuidado para adolescência e juventude é fruto de uma parceria entre governos estaduais da Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e a cidade do Recife com a Agenda Jovem Fiocruz e o Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSEB) da Faculdade de Medicina da USP, com apoio da Fiocruz Ceará. “Demos um passo importante para alinharmos o trabalho colaborativo, interprofissional e intersetorial”, disse a pesquisadora da Fiocruz Ceará, Luciana Silvério Alleluia. “Para nós, os adolescentes e jovens devem assumir o protagonismo no planejamento do seu cuidado. Nesse projeto, discutiremos ações para a promoção da saúde mental e a saúde de jovens e adolescentes com deficiência, negros e LGBTQIAPN+, seguindo a premissa do ‘nada sobre nós sem nós’”. 

O objetivo é responder às demandas em saúde de adolescentes e jovens a partir da atenção primária, tendo como inspiração a Linha de Cuidado para Adolescentes e Jovens (LCA&J) implementada no estado de São Paulo. Trata-se de uma política “ascendente”, ou seja, que é feita a partir das demandas da população e da experiência dos trabalhadores da saúde no nível de rua. Na fase de prospecção, cada território pode identificar essas demandas locais para direcionar as políticas de saúde da maneira mais adequada.

Os pesquisadores sugeriram a região de saúde de Maracanaú como região piloto, ou seja, a primeira a desenvolver  a política. Esse território foi escolhido para dar início aos estudos da Linha de Cuidado porque é uma região industrial na área metropolitana de Fortaleza que tem população jovem. Nessa região há 154 unidades básicas e postos de saúde, e 12 centros de atenção psicossocial nessa área, onde vivem 555.464 habitantes, divididos em oito municípios.

Também pesou na escolha de Maracanaú o diagnóstico do Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PReVio) do Estado do Ceará, que detectou na região altos níveis de violência entre jovens. “Maracanaú faz parte da região metropolitana de Fortaleza, com presença significativa de centros industriais e uma considerável população jovem. Através da parceria estratégica com as secretarias de Saúde e Juventude, e o PReVio, chegou-se ao entendimento de que Maracanaú seria uma área estratégica para a  trabalhar questões de saúde da juventude”, afirmou a pesquisadora responsável pela prospecção no Ceará, Isabella Costa Martins.

A maior parte das internações registradas no SUS entre jovens e adolescentes foi na população entre 20 e 29 anos, ou seja, os jovens adultos, que respondem por quase 70% da morbidade hospitalar desse público. Entre os homens jovens e adolescentes, o principal motivo de internação são “causas externas”, que incluem violências e acidentes. 80% das internações por causas externas nessa faixa etária foram de homens, especialmente (63,7%) na faixa de 20 a 29 anos. As doenças infecciosas e parasitárias aparecem em segundo lugar, atingindo 11% dos homens jovens e adolescentes. Homens, especialmente os pardos, são os que mais morrem na adolescência e juventude no Ceará, representando 79% dos óbitos nessa faixa etária. Pardos são 90%, sendo que 71,5% da população cearense é preta ou parda. 

Entre as mulheres, a maior parte das internações foi por motivos de gravidez, parto e puerpério, sendo que 6,4% dos casos resultaram em abortamento entre jovens e adolescentes. 
Mulheres também aparecem como as maiores vítimas de violência sexual: 96% dos casos foram notificados contra a população feminina. Na grande maioria das vezes (88%), essas mulheres e meninas são negras. A violência sexual no Ceará atinge principalmente adolescentes entre 10 e 14 anos, que representam 52% das notificações.

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