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23/08/2011

Bactéria alimentar é alvo de pesquisa no Instituto Oswaldo Cruz

João Paulo Soldati


No caso de algumas bactérias, o risco pode estar numa inofensiva garfada. Salmonella e Escherichia coli são conhecidas por sua capacidade de contaminar alimentos, causando quadros de diarreia e vômito. Uma “parente” menos conhecida, a bactéria Bacillus cereus, acaba de ser alvo de um importante estudo. Em análises de amostras das décadas de 80, 90 e 2000, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) conseguiram traçar um panorama dos riscos que esta bactéria oferece no país.


 Pesquisadora do IOC, Adriana Vivoni, afirma que os resultados obtidos da análise de cepas de <EM>B.cereus</EM> isoladas recentemente mostram resistência significativa a um antibiótico chamado clindamicina, que age inibindo a síntese protéica bacteriana. Foto: Gutemberg Brito.

Pesquisadora do IOC, Adriana Vivoni, afirma que os resultados obtidos da análise de cepas de B.cereus isoladas recentemente mostram resistência significativa a um antibiótico chamado clindamicina, que age inibindo a síntese protéica bacteriana. Foto: Gutemberg Brito.


O estudo realizado por cientistas do Laboratório de Fisiologia Bacteriana do IOC investigou a diversidade genética, a resistência aos antimicrobianos (resistência aos antibióticos) e os perfis toxigênicos das cepas de B. cereus isoladas de alimentos e especiarias no Brasil nas últimas três décadas. As pesquisas sobre o tema são escassas e, em sua maioria, realizadas em locais de clima temperado.


“Constatamos que as 97 cepas analisadas dos últimos 30 anos não constituíam um ‘clone’, ou seja, não apresentavam uma composição semelhante nos seus materiais genéticos. O que existe é uma diversidade genética”, explica a bacteriologista Adriana Vivoni. “Se fosse evidenciado que a maioria das cepas isoladas de alimentos pertencessem a um clone sabidamente produtor de toxinas, com potencial patogênico mais elevado e mais associado a quadros de intoxicação alimentar, poderia haver risco de infecção mais acentuado”, conta.


Higiene com alimentos é fundamental


A bactéria B. cereus pode causar intoxicação alimentar e outras infecções. Podem ocorrer quadros clínicos do tipo emético (caracterizados pela ocorrência de náuseas e vômitos no prazo de até seis horas após a ingestão do alimento contaminado) ou quadros clínicos do tipo diarreico (atribuídos à presença de enterotoxinas e caracterizados pela ocorrência de dor abdominal e diarreia aquosa de oito a 16 horas após a ingestão do alimento contaminado).


Segundo a bacteriologista, qualquer pessoa corre o risco de ser infectado. “Vai depender de dois fatores: a cepa de B. cereus em questão e o status imune das pessoas que entram em contato com a bactéria. Pouquíssimas cepas são capazes de produzir toxinas potentes que causam, na grande maioria dos indivíduos, um quadro chamado de síndrome emética (com vômitos intensos). Já outras cepas, essas em maior número, têm a capacidade de produzir outras toxinas que causam diarreia”, diz. As toxinas podem ser produzidas pela bactéria ainda no alimento, antes de ser ingerido, ou no próprio hospedeiro, após a alimentação.


Dados escassos


De acordo com Adriana, os casos de intoxicação por B. cereus não são de notificação compulsória, o que dificulta a avaliação do número de casos ocorridos. “Em geral, esses quadros são benignos e de recuperaçao espontânea. Muitas pessoas sequer procuram auxílio médico. Os sintomas são facilmente confundidos com a intoxicação causada por Staphylococcus aureus”, diz.


De acordo com a pesquisadora, cada bactéria tem uma forma diferente de causar doenças, bem como modos diferentes de transmissão. “B. cereus é uma bactéria muito diferente da E. coli e da Salmonella, por exemplo, por isso não temos como comparar os efeitos patogênicos de cada espécie. Todas elas representam riscos à saúde e, portanto, devemos ficar sempre em alerta”, afirma. Adriana revela que existem poucos dados sobre a resistência da B.cereus aos antimicrobianos. “Os resultados obtidos mostram que a resistência a um antibiótico chamado clindamicina foi significativamente maior em cepas de B. cereus isoladas recentemente. Serão necessários mais estudos para avaliar se essa resistência está realmente emergindo em B. cereus”, diz.


Cuidados


O procedimento de higienização dos alimentos é fundamental para evitar a infecção por B. cereus e por bactérias de veiculação alimentar de forma geral.  Para especialistas, alimentos não podem permanecer em temperatura ambiente após cozidos, uma vez que os esporos de B. cereus podem sobreviver à fervura, germinando e multiplicando-se rapidamente em temperatura ambiente. As sobras de alimentos devem ser prontamente refrigeradas. Ficar de olho nos processos de higienização em restaurantes e bares é sempre uma boa dica antes de dar a primeira garfada.


Publicado em 19/08/2011.

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