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27/11/2008

Morre o economista Vinicius da Fonseca, ex-presidente da Fiocruz

Ricardo Valverde


Morreu na terça-feira (25/11), no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Fiocruz Vinicius da Fonseca. Economista, Fonseca presidiu a Fundação de 1975 a 1979 – período em que a instituição tentava esboçar uma reação que a tirasse do silêncio e da desmobilização impostos pela ditadura. A Fundação Oswaldo Cruz, criada nos anos 70, havia sido castrada pelo arbítrio. Somente na segunda metade daquela década, com a piora dos indicadores sanitários e uma nova crise (a epidemia de meningite em São Paulo, que levou os militares a proibirem a imprensa de divulgar), é que o governo começou a ver na Fiocruz a capacidade de dar respostas aos problemas. “O governo via a Fiocruz como um lugar que deveria ser revitalizado para fazer vacinas e soros. Fora isso, ganhava força o movimento de distensão que o presidente Geisel gestava para sair do regime sem um rompimento mais agudo, buscando interlocutores na intelectualidade e na sociedade. Paralelamente, uma nova geração de pesquisadores gesta a renovação tecnológica na área biomédica e também a ativação do projeto de natureza social, capitaneados pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), já incorporada à Fundação”, lembra o vice-presidente de Desenvolvimento Institucional e Gestão do Trabalho da Fiocruz, Paulo Gadelha.


 Vinicius da Fonseca retomou, em escala ampliada, a matriz original em função de ações de saúde pública

Vinicius da Fonseca retomou, em escala ampliada, a matriz original em função de ações de saúde pública


Fonseca chegou à instituição naquele período (em 1975) e passou a representar um outro tipo de relação do Estado com Manguinhos. Buscou-se, com ele, uma negociação que trouxesse competência e revitalizasse a Fundação. Como o novo presidente era ligado ao ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, que era um ministro forte, com visão tecnocrática e desenvolvimentista, Fonseca teve poder para fazer uma grande renovação, criar novos grupos de pesquisa, revigorar laboratórios e recuperar a Fundação.


Fonseca agregou o Instituto Fernandes Figueira (IFF), congregou áreas do Ministério da Saúde e retomou, em escala ampliada, a matriz original em função de ações de saúde pública. “Era um ato imperial, o de constituir esse novo arranjo, e evidentemente não havia consulta às partes interessadas, como era hábito em uma ditadura. O desafio era dar unidade a esse conjunto, respeitando tradições e diferenças, com decisões tomadas por atos executivos. Tudo era muito centralizado e dependia do presidente da Fiocruz, que sozinho determinava as mudanças. Esse processo administrativo dificultava uma instituição já então complexa”, afirma Gadelha. Mesmo a Associação de Servidores (Asfoc) era uma extensão da Presidência da Fundação, uma concessão de caráter social e assistencialista. Havia um conselho técnico e administrativo que era mais cadeia de transmissão, porque não tinha efeito na formulação, acompanhamento e monitoramento da instituição.


Apesar da forte centralização, houve renovação na gestão de Fonseca, que prosseguiu com o presidente seguinte, Guilardo Martins Alves (1979-1985). Esse processo de renascimento institucional levou à redemocratização e foi reforçado com a posse de José Sarney, em 1985. Começava a crescer a idéia de que a Fiocruz também poderia e deveria ser democratizada. Para tornar essa realidade mais palpável, chegou ao Ministério da Saúde Carlos Sant’Anna, até então considerado um político conservador mas que teve uma atuação renovadora, dando suporte a esse processo com a nomeação de Sergio Arouca para a Presidência da Fiocruz e a convocação da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Sant’Anna foi o fiador da abertura da Fundação e da saúde pública. Um processo iniciado com Vinicius da Fonseca.


Publicado em 27/11/2008.

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