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12/08/2008

Estudo avalia a amamentação do ponto de vista de crianças da 5ª série

Renata Moehlecke


Quais os conhecimentos, percepções, crenças e vivências de crianças da 5ª série do Ensino Fundamental sobre a prática de aleitamento materno? Essa foi a indagação feita por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul em estudo publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. A pesquisa envolveu 564 alunos de 30 escolas públicas e particulares em áreas urbanas e rurais do município de Ijuí (RS) e incluiu, pela primeira vez na literatura médica brasileira, a visão de estudantes do sexo masculino.


 A Pesquisa Nacional sobre Prevalência de Aleitamento Materno no Brasil revela que menos da metade das crianças entre 9 e 12 meses residentes nas capitais do país é amamentada (Foto: <EM>Jornal Livre</EM>)

 A Pesquisa Nacional sobre Prevalência de Aleitamento Materno no Brasil revela que menos da metade das crianças entre 9 e 12 meses residentes nas capitais do país é amamentada (Foto: Jornal Livre)


Os resultados mostram que os escolares, que tinham em média entre 9 e 11 anos de idade, valorizam a amamentação e consideram o leite materno o melhor alimento para o bebê, mas que apenas 60% deles optariam pela amamentação exclusiva de seus filhos. Os estudiosos observaram também que os estudantes sabem bem pouco sobre outros aspectos da prática, como duração recomendada, época de introdução de outros alimentos, freqüência das mamadas e técnicas de amamentação. “Menos de 20% dos escolares responderam que a criança pode mamar até dois anos ou mais, aproximadamente ¼ acredita que a criança deve começar a receber outros alimentos em torno dos seis meses, e a maioria pensa ser necessário o uso de chás e água em crianças amamentadas”, afirmam os pesquisadores.


O nível de informação dos estudantes provavelmente reflete a opinião dos adultos e é coerente com o que ocorre na prática. Segundo os estudiosos, a Pesquisa Nacional sobre Prevalência de Aleitamento Materno no Brasil revela que menos da metade das crianças entre 9 e 12 meses residentes nas capitais do país é amamentada, que menos de 10% das com 5 a 6 meses recebem leite materno exclusivamente e que um quarto recebe água e/ou chá já no primeiro mês de vida. “Da mesma maneira, a opinião dos escolares sobre a necessidade do uso da chupeta coincide com a prática, tão arraigada em nosso meio”, lamentam os estudiosos. “Mais da metade das crianças brasileiras menores de um ano usa chupeta”.


A análise também apontou que algumas crenças antigas que interferem negativamente na prática do aleitamento materno estão sendo transmitidas por gerações, como a existência de leite fraco, a necessidade de interromper a lactação com o aparecimento dos dentes, a associação entre tamanho da mama e capacidade de produção de leite e o uso de chá para o manejo de cólicas. “É possível que a freqüência com que as crianças assistem a mulheres que amamentam oferecendo outros leites para saciar a fome dos seus bebês faça com que elas acreditem que exista leite fraco”, explicam os pesquisadores. “O mesmo ocorre com a crença de que chá seja remédio para a cólica do bebê, já que essa prática é bastante arraigada na cultura brasileira”.


A inclusão da opinião dos meninos no estudo esteve relacionada à importância do apoio do pai para uma amamentação bem sucedida. Os alunos investigados foram quase unânimes em afirmar que a participação do pai é importante, mesmo tendo dificuldades de especificar como – 70% relataram que ele pode ajudar dando mamadeira. A avaliação do sexo masculino ainda desvendou um aspecto desconhecido: o conhecimento deles não difere muito do delas, apesar do desempenho das meninas ter sido um pouco melhor. As respostas diferentes encontradas entre os sexos tinham a ver com o papel sexual dos seios. “Os escolares do sexo masculino, com mais freqüência, não consideram a amamentação a principal função das mamas e opinaram negativamente sobre a prática em público, bem como acreditam que ela é a principal causa do peito caído”, comentam os pesquisadores.


No que diz respeito à verificação de vivências, os estudiosos pretendiam avaliar a influência dessas no posicionamento quanto à prática de aleitamento e o nível de exposição das crianças à mamadeira. A maioria dos estudantes foi amamentada e exposta ao ato em si, mas menos da metade das alunas relataram terem “amamentado” suas bonecas e menos de 20% dos meninos participaram desse tipo de brincadeira. “É interessante observar que as crianças com vivências mais positivas quanto ao aleitamento materno (foram amamentadas e vivenciaram brincadeiras com bonecas) mostraram posicionamento mais positivo à prática (obtiveram escores significativamente mais altos)”, esclarecem os pesquisadores.


De acordo com os estudiosos, as informações achadas devem ser levadas em consideração na elaboração de estratégias de promoção do aleitamento materno entre crianças e adolescentes.  “A falta de informações importantes sobre aleitamento materno e aspectos relacionados evidenciada neste estudo aponta a necessidade de inclusão do tema no currículo escolar”, dizem no artigo. “É importante que a promoção seja iniciada já na infância e a escola, por ser um ambiente institucionalizado do processo pedagógico, poderia contribuir para na conscientização”. Além disso, eles destacam que as crianças constituem importante veículo de propagação de conhecimento em meio à família e em seu círculo social. “Elas formam grupo prioritário para esse tipo de ação”, frisam.


Publicado em 11/08/2008.

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