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27/03/2008

Parceria leva ao primeiro transplante de coração em paciente de Chagas no RJ

Isis Breves


Uma portadora de doença de Chagas que está em tratamento no Instituto de Pesquisa Clínica (Ipec) da Fiocruz desde 2003 acaba de receber um coração novo. Isso significa, em média, cerca de dez anos de sobrevida com qualidade. “A paciente assistida no ambulatório do Ipec foi submetida a um transplante de coração no Instituto Nacional de Cardiologia (INC), o Hospital de Laranjeiras. A operação foi um sucesso!”, comemora a cardiologista Andrea Silvestre, do Ipec, e que também faz parte da equipe de transplante do INC. Segundo ela, a parceria entre as instituições foi fundamental. Este foi o primeiro transplante de coração, feito no Estado do Rio de Janeiro, em um paciente da enfermidade.


 Borrifação com inseticida para controle da doença de Chagas na década de 60 (Foto: Sucen/SP)

Borrifação com inseticida para controle da doença de Chagas na década de 60 (Foto: Sucen/SP)


“O principal problema da doença de Chagas é quando o portador do parasito desenvolve a cardiopatia, ou seja, tem o seu coração dilatado. Nesse caso o quadro clínico se manifesta por insuficiência cardíaca, arritmia e em alguns casos eventos embólicos, como o derrame. Há seis meses, apesar do tratamento medicamentoso pleno e uso de aparelho cardiodesfibrilador/marca-passo, a doença dessa paciente evoluiu e a única opção era o transplante. Ainda na unidade, a paciente recebeu toda a assistência clínica, sendo internada no Ipec e depois transferida para o INC. Como o caso era de urgência, foi inscrita com prioridade para o transplante. Em fevereiro, o coração novo foi doado e em seguida transplantado na paciente que recentemente recebeu alta”, explica Andrea.


Segundo a diretora do Ipec, Valdiléa Veloso, esse transplante é resultado de todo um trabalho desenvolvido no Instituto na área de pesquisa clínica aplicada à assistência e ensino. “Buscar alternativas para aumentar a sobrevida com qualidade de pacientes de doenças infecciosas por meio da pesquisa clínica, como nesse caso, preparar e acompanhar um portador da doença de Chagas e oferecer a alternativa de um coração novo com acompanhamento do parasito no seu organismo ainda circulante para manter uma qualidade de vida, tudo isso simboliza a atuação do Ipec”, diz a diretora.


A cardiologista Andrea Silvestre complementa que, apesar de existir o risco de evolução clínica da doença de Chagas mesmo com o coração novo, existem tratamentos para diminuir o risco. O transplante vem sendo uma alternativa, levando a um aumento de 80% (equivalente de dez anos) de sobrevida com qualidade nos pacientes chagásicos. “Se não se pensasse em transplante, a mortalidade seria elevada. Além disso, a resposta de pacientes chagásicos ao transplante vem sendo igual ou até melhor ao de um transplantado cardiopata comum, sem o parasito. A única diferença é manter a vigilância com exames de diagnóstico para identificar o parasito circulante no sangue do paciente e tomar as medidas necessárias. No Ipec, essa assistência é oferecida, antes, durante e após o transplante”.


Essa parceria Ipec/Fiocruz com INC vem sendo desenvolvida também na área de ensino.  No Programa de Pós-Graduação stricto sensu de Pesquisa Clínica na área das Doenças Infecciosas do Instituto foi criada uma sub-área que proporcionará maior integração com o  INC para fortalecer a pesquisa clínica com projetos de pesquisa em cardiologia aplicada às doenças infecciosas, segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação do Ipec, Armando Schubach.


Para concluir, Andrea afirma que já tem mais um paciente de Chagas do Ipec preparado e na fila de espera do INC para o transplante de coração, e outros em processo de avaliação de protocolo para serem ou não encaminhados para o Hospital de Laranjeiras. “O transplante de coração para um portador da doença de Chagas é uma perspectiva de qualidade de vida, hoje possível de se oferecer no Rio de Janeiro”, diz a cardiologista.


Saiba mais sobre a doença de Chagas


A doença de Chagas, ou tripanosomíase americana, foi descoberta pelo médico sanitarista Carlos Chagas em 1909. A cardiopatia que ocorre na forma crônica da doença é a mais grave. Porém, existem tratamentos que influenciam diretamente no impacto da qualidade de vida e aumento da sobrevida de pacientes portadores de cardiopatia chagásica. Os sintomas da forma crônica da doença no comprometimento cardíaco (miocardite grave) são o aumento do volume do coração (cardiomegalia) e as arritmias. Quando ocorre comprometimento digestivo, ele se expressa como um aumento do diâmetro de regiões do trato digestivo, os "megas": megaesôfago e  megacolo. Há, nessa fase, gradativa redução da qualidade de vida e da capacidade de trabalho dos doentes, que passam a necessitar de atenção médica constante.


A prevenção da doença de Chagas baseia-se fundamentalmente em medidas de controle do vetor barbeiro, o principal transmissor da doença. Dificultar e/ou impedir a sua proliferação nas residências e em seus arredores são medidas que devem ser tomadas. Isso consiste em estratégias de rastreamento adequado de doadores de sangue e de órgaos, bem como impedir a convivência com o vetor e medidas de higiene, como estas:


Manter a casa limpa, varrer o chão, limpar atrás dos móveis e dos quadros, expor ao sol os colchões e cobertores onde costumam se esconder os barbeiros;


Retirar ninhos de pássaros dos beirais das casas;


Impedir a permanência de animais e aves dentro da casa. As aves não oferecem perigo, pois nunca apresentam o tripanosoma em seu organismo, mas seu sangue serve de alimento para os barbeiros;


Estocar canas-de-açúcar em local limpo, adotando processos de higiene;


Consumir açaí somente de origem pasteurizada;


Na área rural, construir galinheiros, paiol, tulha, chiqueiro e depósito afastados das casas e mantê-los limpos.

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