03/03/2008
Renata Moehlecke
Segundo a sabedoria popular, ser mãe é uma experiência única, que traz grandes mudanças nas perspectivas de vida. Mas quais são os significados atribuídos à maternidade por adolescentes que viviam nas ruas e optaram por assumir os cuidados de seus filhos fora deste ambiente? Essa é a questão que um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Católica de Goiás tentou desvendar. Em artigo publicado na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, eles apontam que a experiência é vista de forma positiva, sendo a criança a “salvadora” de uma morte certa nas ruas, uma expectativa de um futuro melhor.
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A satisfação de ser mãe estaria muito mais relacionada ao reconhecimento social do que ao desempenho que este papel traz (Foto: Agência da Notícia) |
“Apesar da gravidez ser tradicionalmente caracterizada na saúde pública como ‘um problema’ ou como ‘risco’ para a adolescente e seu filho, atualmente estudos têm apontado controvérsias nessas concepções”, afirmam os pesquisadores no artigo. “A partir de nossas considerações não buscamos defender a ocorrência da gravidez na adolescência, no entanto, uma vez que ela aconteça, buscamos entendê-la do ponto de vista das adolescentes que a vivenciam, que muitas vezes não trazem a concepção de um acontecimento de ‘risco’ e sim de uma experiência desejada, satisfatória e até mesmo salvadora”.
A pesquisa teve uma abordagem qualitativa (análise de conteúdo) e os dados foram coletados junto a adolescentes-mães abrigadas em uma instituição não-governamental. Os estudiosos puderam perceber como o papel de mãe possibilitou a realização pessoal das adolescentes, que se mostraram orgulhosas do desenvolvimento de seus filhos, e de serem reconhecidas por eles como mãe. No entanto, a satisfação de ser mãe estaria muito mais relacionada ao reconhecimento social do que ao desempenho que este papel traz.
“A vivência da maternidade abre espaço para que elas se reconheçam e sejam reconhecidas com base em suas capacidades como mãe, favorecendo a conquista ou recuperação de sua auto-estima e configurando-se como um campo fértil para intervenção dos profissionais de saúde”, destacam os estudiosos. “Assumindo responsabilidade, aprendendo a desempenhar o papel materno, fazendo novas escolhas essas adolescentes continuam escrevendo a sua história de vida, agora, em um contexto, que lhes dá suporte na construção de sua independência e autonomia”.