08/01/2008
Paula Lourenço
O atendimento prestado nos serviços de saúde pode ser comprometido por uma simples falha: a má qualidade dos prontuários médicos. Pesquisa feita no Recife indica que 94% desses documentos foram preenchidos de forma incompleta ou com letras ilegíveis, o que interrompe o acompanhamento do paciente e impede um planejamento mais adequado na saúde pública. Isso pode acontecer, por exemplo, com a aquisição de medicamentos e na elaboração campanhas preventivas. O estudo aponta também que 30% dos prontuários só com dados cadastrais da pessoa atendida. E, pior, nenhum dos 1.381 documentos analisados estava bom, no máximo, regular.
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A má qualidade do prontuário não permite que o enfermo seja acompanhado adequadamente |
Os dados constam do livro Avaliação do preenchimento de prontuários e fichas clínicas médicas no IV Distrito Sanitário – Recife/PE, organizado por Adriano Cavalcante Sampaio e Maria Dilma de Alencar Barros. A pesquisa teve como base prontuários preenchidos por médicos das áreas clínica, pediátrica e tocoginecológica. Esses profissionais prestam atendimento no Programa de Saúde da Família, nos centros de saúde Caiara, Joaquim Cavalcanti e Lessa de Andrade, todos da Prefeitura do Recife, e dos hospitais públicos Getúlio Vargas e Barão de Lucena, além do Hospital das Clínicas da UFPE.
“Ensinamos na graduação e na pós-graduação de medicina. Sabíamos que o problema do prontuário existia, mas o resultado foi bem pior do que imaginávamos”, relatou o médico sanitarista Adriano Sampaio, que realizou o estudo com o apoio do CPqAM e da Universidade de Pernambuco (UPE). “No entanto, essa realidade não é pernambucana. É uma realidade nacional. Dessa forma, não temos condições de acompanhar o enfermo adequadamente, porque o atendimento é interrompido. O paciente, por sua vez, não tem condições de reclamar na Justiça qualquer problema que houver com ele, pois seu documento é o prontuário, que está preenchido erroneamente ou incompleto”, disse.
O problema da péssima qualidade do prontuário é causado por uma série de fatores. “Um deles é a cultura da rapidez no preenchimento dos dados. Outra questão está na falta de prontuários padronizados. Há, ainda, um excesso de demanda e uma cultura de descrédito da informação científica”, detalhou o médico, lembrando que o levantamento foi realizado em um ano e três meses, tendo início em 2004.
Sampaio informou que a Prefeitura do Recife e o Conselho Regional de Medicina já se reuniram com a equipe autora do livro em busca de soluções. “Uma das nossas idéias é fazer um senso com os médicos da capital pernambucana, para que eles digam que informações devem constar no prontuário. Nossa sugestão é que haja pelo menos cinco informações básicas e legíveis. Seriam elas: a queixa, ou seja, o que levou o paciente a procurar o médico; a suspeita da doença, o que foi prescrito de exames e medicamos e o resultado”, enumerou o pesquisador.