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08/10/2007

Disfonia causa prejuízos estimados em R$ 200 milhões a professores

Fernanda Marques


Duzentos milhões de reais ao ano. E é o valor estimado dos prejuízos sociais, econômicos, profissionais e pessoais para os professores brasileiros por causa da disfonia – qualquer alteração da voz decorrente de um distúrbio do trato vocal, cujos sintomas incluem rouquidão, tosse persistente e ardência na garganta, entre outros. No entanto, o impacto da disfonia na vida dos docentes ainda é pouco investigado no país. Estudo com professoras da rede municipal de Belo Horizonte mostrou que mais de 60% delas relataram cansaço ao falar e 56% perceberam piora na qualidade da voz ao longo das duas semanas anteriores à pesquisa. “A grande maioria das professoras faz uso de água na sala de aula e mesmo assim apresenta sintomas vocais, o que indica a necessidade de se intervir nas condições de trabalho”, afirma a fonoaudióloga Renata Jardim, uma das autoras do trabalho.


 Metade das professoras reclamou de ruído elevado nas salas de aula (Foto: Governo de Rondônia) 

Metade das professoras reclamou de ruído elevado nas salas de aula (Foto: Governo de Rondônia) 


Veiculado no periódico científico Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz e feito por pesquisadoras da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, o inquérito contou com a participação de mais de duas mil professoras do ensino fundamental de 83 escolas. As professoras, com média de idade de 42 anos, responderam a um questionário internacional padronizado que analisa aspectos de qualidade de vida relacionados à voz e quantifica a influência da disfonia no cotidiano da pessoa. A pontuação no questionário varia de zero a cem – quanto mais pontos, melhor a qualidade de vida relacionada à voz.


A pontuação média obtida pelas professoras foi de 84,2, o que sugere que a percepção da qualidade de vida relacionada à voz é relativamente boa entre as professoras estudadas. Porém, chama a atenção o dado de que três em cada dez participantes, ao longo de sua carreira docente, já tinham sido afastadas das salas de aula devido a problemas vocais. Somam-se às faltas ao trabalho outros inconvenientes causados pela disfonia, como dificuldade para se comunicar com os estudantes e, conseqüentemente, o aprendizado insatisfatório dos alunos, além da desconfiança do chefe, que interpreta o problema de saúde do professor como apenas um pretexto dele para se ausentar da escola.


Outro dado revelado pela pesquisa é que metade das professoras reclamou de ruído elevado dentro e fora da sala de aula. Por isso, é provável que as professoras precisem aumentar a intensidade da voz durante as aulas diariamente, o que acarretaria grande desgaste vocal. Dentro da sala, a fonte do ruído pode ser a própria indisciplina dos estudantes. “Desrespeito dos alunos e classes ruidosas contribuem para reação de estresse em professores”, diz o artigo, assinado, além de Renata, pelas pesquisadoras Sandhi Maria Barreto e Ada Ávila Assunção. “O estresse de forma geral associado ao trabalho é um dos fatores que contribuem para a prevalência de problemas vocais nos professores”, descreve o artigo.


Na pesquisa, 12% das professoras relataram sintomas vocais diários nas duas semanas anteriores ao inquérito, mas somente 7% delas procuraram um médico ou fonoaudiólogo por causa da voz nesse período. Esses resultados confirmam os achados de outras pesquisas, segundo as quais, apesar da alta prevalência de sintomas vocais – e da importância da voz no trabalho docente –, ainda são poucos os professores que buscam atendimento especializado.

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