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23/07/2007

Programa que usa boxe, luta e capoeira no combate à violência é avaliado

Catarina Chagas


Embora alguns programas já usem o esporte para prevenir a criminalidade, poucas avaliações cientificamente controladas foram feitas sobre sua eficácia. A convite da Universidade de São Paulo (USP), o Centro Latino-americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fiocruz avaliou o projeto Luta pela Paz, que atua no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e tem como objetivo prevenir a violência armada entre os jovens. Inicialmente, a equipe do Claves analisou características socioeconômicas e demográficas da área, além de mapear projetos de prevenção à violência dirigidos a jovens. O Luta pela Paz, atividade da ONG Viva Rio, foi selecionado por já estar consolidado – existe desde 2000 – e trabalhar com clientela em risco social, incluindo adolescentes inseridos em atividades criminosas.


 O projeto oferece atividades esportivas como capoeira, boxe e luta livre (Foto: Luta pela Paz)

O projeto oferece atividades esportivas como capoeira, boxe e luta livre (Foto: Luta pela Paz)


“O projeto busca oferecer alternativas ao crime e ao emprego no tráfico de drogas usando inclusão social pelo esporte e educação”, conta a pesquisadora Patrícia Constantino, que coordenou a avaliação junto com Edinilsa Ramos de Souza. Meninos e meninas de 7 a 25 anos participam de atividades esportivas – boxe, capoeira e luta livre – e educacionais – discussões e palestras sobre cidadania e aulas de inglês e informática – assistidas por instrutores de esporte, professores, assistente social e outros.


Na primeira etapa da avaliação, um questionário foi preenchido por 64 dos jovens atendidos pelo projeto no momento da investigação e por 100 estudantes de uma escola pública da Maré, que funcionaram como grupo de controle. Para uma abordagem qualitativa, a equipe da Fiocruz entrevistou participantes e colaboradores do Luta pela Paz, além do boxeador inglês Luke Dowdney, coordenador do programa. “Observamos que os jovens do projeto relataram mais casos de ferimento por arma de fogo, parentes próximos assassinados e ameaças de policiais”, afirma Patrícia. “Por outro lado, formas mais leves de violência, como xingamentos e agressões dentro da família, apareceram com mais freqüência entre os escolares”.


Quando perguntados sobre atos violentos como roubos, venda de drogas ou estupros, pouquíssimos jovens afirmaram ter participação. No entanto, uma parte expressiva deles informou que já se envolveu com brigas na escola ou com outras pessoas. Na maioria das opções listadas, os jovens do Luta pela Paz relataram maior envolvimento, porém participaram menos de ameaças com armas do que os do grupo de controle. Enquanto 14,7% dos escolares afirmaram que carregar uma arma torna a pessoa mais segura, apenas 9,3% dos participantes do projeto concordam com a afirmação.


“O Luta pela Paz é bem sucedido num local de elevado estresse sócio-ambiental, em que a grande maioria dos jovens já testemunhou tiroteios, uso de drogas e pessoas armadas nas ruas”, conclui a pesquisadora. “A equipe é comprometida com o trabalho e tem visão focada na inclusão dos jovens”. Um dos resultados é o retorno de ex-participantes ao projeto como monitores ou membros da administração. Como tarefa para os próximos anos do Luta pela Paz, a avaliação da Fiocruz indicou investir na interação com outros programas similares, na atuação junto às famílias e no ambiente comunitário, além do reforço da articulação com as escolas da região.


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