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29/05/2007

Estudo mostra que dengue atingiu 85% da população de quatro bairros do Recife

Bruna Cruz


A maioria da população de quatro bairros do Recife já teve contato com algum subtipo do vírus do dengue. Essa é a constatação de um estudo feito pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz em Pernambuco, nos bairros do Engenho do Meio, Brasília Teimosa, Casa Forte e Parnamirim. A pesquisa verificou quantas pessoas já tiveram a doença nessas localidades. Exames feitos com 2.949 moradores, com idades entre 5 e 64 anos, mostraram que cerca de 85% das pessoas já adoeceram mesmo sem saber. O trabalho faz parte de uma pesquisa do Centro, que está desenvolvendo um modelo para ajudar a prever surtos da doença.


 Maioria dos voluntários não sabia que tinha contraído a doença (Foto: Paula Lourenço)

Maioria dos voluntários não sabia que tinha contraído a doença (Foto: Paula Lourenço)


No Engenho do Meio, 88,6% das 1.052 pessoas examinadas já tiveram, em algum momento da vida, a doença. Desses, 53% não sabiam que haviam entrado em contato com o vírus do dengue. Em Brasília Teimosa, onde foram feitos 1.027 exames, esse número chegou a 90,5%, dos quais 67% não tinham conhecimento sobre ter estado doente. Em Casa Forte/Parnamirim, onde foram feitos 867 exames, o índice foi de 75,4%, mais da metade (46%) não sabia que havia tido contato com o vírus.


O estudo também registrou o percentual de casos por faixa etária. Os que tinham acima de 50 anos foram os que mais adoeceram. Noventa e um por cento já tiveram dengue. Entre crianças e jovens de 5 a 14 anos examinados, 79% contraíram a doença. Entre os voluntários com idade entre 15 e 49 anos, 89% apresentaram o exame positivo. De acordo com a pesquisadora Cynthia Braga, do Departamento de Parasitologia do CPqAM e coordenadora do estudo, a análise parcial do número de casos e das informações socioambientais coletadas, junto aos voluntários, mostram, por exemplo, que a incidência do dengue está associada ao abastecimento irregular de água nos bairros estudados. Os dados coletados serão usados para analisar as áreas com um maior número de infectados. O objetivo é verificar se esse grau de infecção tem relação direta com outros fatores socioambientais que possam propiciar a transmissão da doença.


“As informações ajudarão a entender que fatores estão ligados à transmissão nas áreas”, explicou Cynthia. Segundo a pesquisadora, as autoridades precisam continuar atentas, pois os números da pesquisa indicam que a maioria da população já está imune aos tipos de vírus circulantes (DEN-1, DEN-2 e DEN-3). “Se, por acaso, houver uma variação nesses tipos ou a inserção do tipo 4 (DEN-4), que já chegou à Venezuela, poderemos ter uma nova epidemia”, alertou. A próxima etapa do estudo vai verificar que sorotipo prevaleceu entre os moradores dos bairros estudados. As informações sobre a pesquisa serão apresentadas à Secretaria de Saúde do Recife.


O trabalho, que teve início em agosto de 2005 e durou cerca de um ano, faz parte do projeto Sistema de Apoio Unificado para Detecção e Acompanhamento em Vigilância Epidemiológica(Saudavel). O projeto envolve, no Recife, pesquisadores do CPqAM e do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde fevereiro de 2004 a equipe estuda a dinâmica de distribuição da população do Aedes aegypti e busca desenvolver um modelo intensivo de controle do vetor sem a utilização de inseticidas.

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